Blocos de rua pressionam pela liberação do carnaval de rua em abril
Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil - 11.02.2018
Blocos de rua pressionam pela liberação do carnaval de rua em abril

Há três meses, o carnaval de rua parecia fadado a mais um ano de espera com a propagação da Ômicron e o cancelamento da festa pela prefeitura. Mas a folia capitaneada pelos grupos secretos, o aval para festas privadas e a mudança no cenário da Covid-19, com a liberação das máscaras na cidade, vêm movimentando o circuito de blocos oficiais: agremiações, entre elas o Cordão da Bola Preta, começam a pressionar para a inclusão dos cortejos no calendário momesco de abril. Pelo decreto municipal, entre os dias 20 e 24 do próximo mês, a Marquês de Sapucaí volta a ser palco dos desfiles das escolas de samba. Blocos não autorizados também fazem planos para retornarem à cena. Mas, por ora, a farra nas ruas segue, oficialmente, vetada.

Diretora-executiva do coletivo Coreto, com mais de 30 blocos, Cris Couri entende que o fim da obrigatoriedade da máscara derruba os últimos argumentos contra a festa.

"Temos, sim, blocos do Coreto que desejam sair em abril se a curva permanecer decrescente e forem autorizados", afirma ela. "Sobre procurar a Riotur ou a prefeitura, ainda precisamos alinhar internamente com os blocos e externamente com as demais ligas antes de uma posição oficial."

Presidente do Cordão da Bola Preta, Pedro Ernesto Marinho afirma esperar a conversa entre blocos e prefeitura nos próximos dias:

"Isso vai acontecer naturalmente pela importância do carnaval de rua para a economia criativa. Como 'o  carnaval que não teve mas teve' foi na semana passada, acredito em novidades adiante."

Debate intenso

Esse movimento ocorre quando a pandemia também é um baque na cadeia econômica da folia. Embora muitos blocos tenham encontrado nas festas privadas uma alternativa, as ruas ainda são uma vitrine. Fora que a própria infraestrutura da festa movimenta muito dinheiro: o caderno de encargos para 2022 previa investimentos dos patrocinadores na ordem de R$ 40 milhões, o maior volume da história.

No Fogo e Paixão, se apresentar para o público no Largo de São Francisco em abril é uma discussão “muito viva”:

"Nosso objetivo é trabalhar alinhado com os órgãos públicos. O aval do comitê científico para circular sem máscara é um fator importante", defende João Marcelo Oliveira, um dos organizadores do bloco.

Julio Page, do Butano na Bureta, vai além e questiona:

"Por que pode haver Sapucaí, Intendente Magalhães e atividades relacionadas a carnaval com cobrança de ingresso, mas o carnaval de rua não pode acontecer? É por razões sanitárias ou tem algo mais?"

Em grupos no WhatsApp, não se fala em outra “treta”. Em nota, a Riotur alega que “não há tempo hábil para organizar o carnaval de rua com estrutura necessária”. A justificava, porém, não vale para os blocos que fazem seus cortejos sem pedir licença oficial. Esses prometem em abril um “segundo carnaval” ainda maior que o do fim de fevereiro, que não sofreu por parte da prefeitura a repressão esperada.

Organizador de uma série de blocos, como Caetano Virado e Nada Demais, o saxofonista Raphael Pavan resume:

"Se o “não carnaval” foi assim, em abril a ideia é que esse movimento se repita com mais força", reforça. "Nosso argumento sempre foi de que as pessoas deveriam chiar com quem não se vacinou até hoje", continua ele.

Já para o movimento Desliga dos Blocos, integrado por grupos que se dizem contra a mercantilização da folia, cada bloco deve decidir se desfilará em abril, analisando, próximo às datas, os dados sobre o estágio da pandemia. Os grupos dessa corrente, como o Boi Tolo, ainda não saíram este ano.

O que regeu a decisão, destaca Luis Otavio Almeida, representante do Desliga, foi apenas a consciência sobre os riscos do coronavírus:

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"O que impediu os blocos do carnaval livre de irem às ruas não foi a proibição da prefeitura, mas a consciência de que aglomerações não eram apropriadas."

Ele, porém, é mais um que rebate as críticas ao carnaval não oficial, destacando a liberação de outras atividades:

"Muita gente criticou grupos que saíram às ruas no carnaval. Achei um tanto hipócrita, pois essas mesmas pessoas não levantaram as vozes contra todo tipo de aglomeração que rolou no Rio desde o início do ano", diz ele.

Falta de tempo e dinheiro

A pouco mais de um mês para o feriadão de Tiradentes, há também agremiações que, mesmo sonhando em ocupar as ruas, declaram não ter condições para isso, dado o pouco tempo para se organizarem. O Desliga da Justiça é um que adiou totalmente seu desfile de rua. O planejamento agora é voltado para um arraiá em lugar fechado, no mês de julho.

A posição do pioneiro Cacique de Ramos segue a mesma linha. Para a direção, faltariam tempo e dinheiro: em nota, informa que a preparação dos desfiles “requer atenção, logística e estrutura, e os custos são altos para esta produção”.

À frente do Empolga às 9 e do Turbilhão Carioca, Kiko Cupello é pessimista: até agora, ele diz não ver alinhamento e apoio dos órgãos públicos.

"Não deram o devido valor ao carnaval de rua. Deveriam ter se organizado para que tivéssemos eventos em locais públicos, com controles e protocolos", opina ele, que agora foca em 2023.

No caso do sertanejo Chora Me Liga, pesam os riscos ainda existentes de contaminação. Enquanto Rita Fernandes, presidente da Sebastiana, liga com 11 blocos, avalia que não há como organizar a infraestrutura da cidade para os desfiles de blocos em abril. Ela sentencia:

"No caso da Sebastiana, nós demos por encerrado o carnaval de rua deste ano. Agora, só em 2023."

Yeda Dantas, que comanda o Gigantes da Lira, concorda:

"O carnaval de rua envolve uma espontaneidade coletiva, que acredito não ser possível recuperar num estalar de dedos, logo ali em abril."

À frente da Dream Factory, empresa que cuidaria da festa, Duda Magalhães diz que a organização num ano normal leva cerca de quatro meses, e que esse trabalho foi desmobilizado em janeiro. Ele lembra que parte dos banheiros químicos vem da Holanda e conta que não há consenso entre patrocinadores com relação à folia:

"Há uma impossibilidade hoje de colocar na rua a estrutura tal como a conhecemos. Querem fazer uma coisa mais localizada? Cabe à prefeitura decidir e, havendo tempo hábil e financiamento, seria um caso a ser estudada. Mas, a cada dia que passa, isso fica mais difícil."

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