Quase 3 mil pessoas estão desalojadas após cheia no rio
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Quase 3 mil pessoas estão desalojadas após cheia no rio

Vivendo os efeitos mais severos da maior cheia em 20 anos do Rio Tocantins , segundo as autoridades locais, a cidade de Marabá, no sudeste do Pará, começa a buscar dia a dia sua restruturação. Num cenário onde pelo menos 3.618 famílias precisaram deixar suas casas ou mesmo ficaram ilhadas, a prefeitura programa que irá promover, só nesta quarta-feira, 425 mudanças de pessoas para abrigos ou casa de parentes. Na terça-feira (18), 208 moradores já tinham sido movidos.

Segundo as últimas informações divulgadas pela Defesa Civil municipal, o nível do Rio Tocantins alcançou a marca de 13,9 metros na manhã desta quarta-feira. Ao todo, são 688 famílias em abrigos, 2.030 desalojadas e abrigadas na casa de parentes ou pagando aluguel, 435 famílias ilhadas, além de 465 famílias ribeirinhas atingidas diretamente pela cheia. A cidade conta com pelo menos 22 abrigos — sendo três não-oficiais. A comunidade atingida está sendo cadastrada, e são recebidas doações de cestas básicas e itens de higiene pessoal.

O governo estadual do Pará, por exemplo, afirma que já encaminhou três caminhões de donativos para Marabá, que chegaram no último domingo (16). São colchões, kits de higiene e limpeza, e cestas de alimentos, que serão entregues a quem foi atingido. A expectativa é de que mais itens sejam encaminhados nos próximos dias.

'Da minha casa dá para ver só o telhado'

O estado também começou esta semana a fazer triagem nos abrigos para cadastrá-los no programa governamental de auxílio "Recomeçar", que é oferecido em caráter emergencial e dá às famílias em situação de vulnerabilidade o valor de um salário mínimo, R$ 1.212. Nesta segunda, agentes do estado e homens da Defesa Civil estiveram num abrigo onde 33 famílias estão vivendo provisoriamente.

"A minha casa ficou alagada, queimou a geladeira, perdi o colchão, queimou tudo, a casa está debaixo d'água", relatou o autônomo José Alexandre Lameira, de 32 anos, que buscava o auxílio.

A dona de casa Maria de Fátima da Silva, de 54 anos, também buscou fazer o cadastro no abrigo e conta que perdeu tudo o que tinha com a enchente.

"Da minha casa dá para ver só o telhado porque a água já tomou conta. Molhou tudo, perdi geladeira, colchão, armário, tudo que tenho está no abrigo que me levaram. Moro eu, meu esposo e meu neto."

Desde o fim de dezembro, homens do Exército, enviados pelo Comando Militar do Norte (CMN) também tem auxiliado a população por conta da enchente. Os militares têm ajudado, sobretudo, nas mudanças dos moradores, que tiveram suas residências atingidas pelas enchentes, como na preparação, no transporte e na distribuição de cestas básicas. Nesta operação, cerca de cem homens estão empenhados em apoio à Defesa Civil e Bombeiros, não só em Marabá, mas também em Tucuruí (PA), Imperatriz (MA) e São Miguel do Tocantins (TO).

Banco de sangue em 'estado crítico'

Se por um lado há o drama de quem perdeu tudo com a enchente, há também o problema grave causado pela natural falta de doadores de sangue da cidade, reflexo da situação de calamidade pública que vive o município de 283 mil habitantes.

De acordo com o Hemocentro Regional de Marabá, os estoques de sangue estão em estado crítico, e as poucas bolsas armazenadas só atendem demanda de mais um dia. Nesta última terça-feira (18), apenas 12 bolsas de sangue foram coletadas, quando o ideal seriam 50. Antes da cheia, já havia menos coletas por conta da chuva e do surto de gripe e Covid-19 na região.

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"Estamos passando por uma situação muito complicada. Já mandamos ofícios para as unidades hospitalares para suspender as cirurgias eletivas diante da falta de bolsas. As que têm aqui são para casos urgentes, apenas", relatou Regiane Izaias, gerente do Hemocentro de Marabá.


Animais resgatados no telhado das casas

Com a cheia, e o fato de muitos animais, domésticos e de rua, terem acabado sido deixados para trás, o Corpo de Bombeiros articulou um projeto chamado "Resgatando e doando com amor". Os militares circulam com canoa e equipamentos pelas áreas mais afetadas em busca dos bichinhos, que muitas vezes são encontrados assustados e desnutridos nos telhados das casas, alimentam e em seguida encaminham para abrigos e lares provisórios. Nesta terça, eles estiveram na Avenida Pará, no bairro Santa Rosa, que estava submersa.

"A maioria dos animais são abandonados e estamos aqui para dar apoio na ação de resgate e alimentação", diz o soldado Weverson Silva, do Corpo de Bombeiros de Marabá.

Quando a equipe não consegue resgatar o animal, deixa ração para alimentá-lo. Para conseguir realizar o trabalho, o projeto conta também com ajuda de voluntários, que são mobilizados por meio das redes sociais.

"Esse é o primeiro ano dessa trabalho, pois estamos em uma situação crítica, água nunca havia chegado a essa altura em 20 anos, e tivemos muitos pedidos de resgate e tivemos que tomar a frente. Nós já conseguimos pegar 30 gatos e contamos com o apoio do Corpo de Bombeiros para isso", relata Cíntia Piedade, coordenadora do projeto.

O Corpo de Bombeiros do Pará orienta aos tutores para que, no caso de enchentes, procurarem um lugar seguro para minimizar a ansiedade dos animais, levá-los com a família para abrigos ou casas de parentes. O animal deve ser impedido de beber água parada ou consumir alimentos estragados. Os tutores também precisam ter cuidado para não chegarem perto de tomadas elétricas ou fontes de energia.

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