Há pelo menos quatro anos, operações policiais em São Gonçalo acumulam mortes
Em 2017, oito pessoas morreram numa operação do Exército e da Polícia Civil. Ano passado, o menino João Pedro, de 14 anos, morreu após ser baleado dentro de casa quando brincava com um primo
Usado por bandidos como ponto de partida para ações de roubos de cargas e de veículos, como entreposto de distribuição de drogas e como esconderijo para foragidos da Justiça, o Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na Região Metropolitana, tem sido palco de mortes em série durante operações policiais. Entre ações registradas no local, estão as mortes de oito pessoas, numa operação do Exército e da Polícia Civil, em 2017, e ainda o assassinato do menino João Pedro, de 14 anos.
O garoto morreu em uma ação envolvendo policiais civis e federais, em maio do ano passado. Já nesta segunda-feira , pelo menos oito pessoas foram encontradas mortas no Salgueiro, numa área de mangue. Todos teriam sido mortos durante uma operação da Polícia Militar.
De acordo com a polícia, o Complexo do Salgueiro é considerado como ponto estratégico pela maior facção criminosa do estado. A explicação está na geografia do local, que conta com áreas de mata e de mangue, além de acesso pelas águas da Baía de Guanabara.
O conjunto de favelas é localizado às margens da Rodovia Rio-Manilha (BR-101). Segundo investigações da Policia Civil, é da comunidade que costumam partir carros ocupados por traficantes que realizam assaltos contra motoristas de automóveis e ainda veículos de carga. Atualmente, o Complxo do Salgueiro é controlado pelo traficante Antônio Hilário Ferreira, o Rabicó ou Coroa.
Com a prisão decretada pela Justiça, Rabicó é investigado ainda por suspeita de integrar a cúpula da facção que, entre outras coisas, ordena invasões a comunidades rivais e roubos em joalherias e centros de distribuição de eletroeletrônicos. Formado por localidades como o Lixão do Itaóca, Praia da Beira, Itaúna, Palmeira, Praia da Rosa e Praia da Luz, o Complexo do Salgueiro é considerado por bandidos procurados como "porto seguro" por conta da geografia e do forte poder bélico da quadrilha. Em 2016, por exemplo, o traficante Nicolas Labre Pereira de Jesus, o Fat Family, de 28 anos, foi morto no local durante uma ação da Polícia Civil.
Ele ficou escondido no Salgueiro, após ter sido resgatado meses antes, do Hospital Souza Aguiar, no Rio. Na ocasião, um grupo de 20 bandidos invadiu o o hospital. Na ocasião, um inocente foi morto e outros dois ficaram feridos. O traficante chefiava bocas de fumo no Morro Santo Amaro, no Catete, na Zona Sul do Rio.
Nem todas ações policiais foram bem sucedidas, no Salgueiro. Em novembro de 2017, oito pessoas foram mortas com 35 tiros de fuzil, durante uma operação envolvendo policiais civis e militares do Exército. Dois inquéritos foram abertos para apurar o caso, mas ambos acabaram sendo arquivados sem identificar os culpados pelos disparos.
A violência imposta pelo tráfico e os constantes tiroteios entre policiais e bandidos, também causam sofrimentos para quem nada tem a ver com o crime. Em maio de 2020, o menino João Pedro Mattos, de 14 , foi baleado quando brincava com amigos dentro de casa, durante uma operação conjunta das Polícias Federal e Civil.
Ele chegou a ser levado de helicóptero para um hospital da Zona Sul do Rio, mas não resistiu aos ferimentos e morreu. Dois agentes chegaram a ser identificados como responsáveis pelos disparos. O caso está investigado em inquéritos do Ministério Público do Rio de Janeiro e do Ministério Público Federal.