Libertação do traficante 'Rabicó' pode detonar guerra entre facções no Rio

Liberdade do criminoso colocou em alerta as autoridades de Segurança Pública do Rio para possíveis confrontos entre facções de São Gonçalo

Antônio Ilário Ferreira, o Rabicó ou Coroa, foi solto por ordem do Supremo Tribunal Federal
Foto: Reprodução
Antônio Ilário Ferreira, o Rabicó ou Coroa, foi solto por ordem do Supremo Tribunal Federal

Condenado a 27 anos e três meses de prisão, o traficante Antonio Ilario Ferreira, conhecido como Rabicó ou Coroa, foi solto há uma semana, após conseguir uma decisão favorável no Supremo Tribunal Federal.

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O ministro Marco Aurélio Mello concedeu uma liminar permitindo que o criminoso de 55 anos, apontado como chefe do tráfico de drogas no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio , aguarde em liberdade o julgamento do recurso do último processo que o mantinha atrás das grades.

A decisão do magistrado foi dada no dia 30 de outubro, uma semana antes do STF decidir contra a prisão após condenação em 2ª instância. Rabicó estava preso há 11 anos e oito meses. Antes de ser solto, ele estava na penitenciária federal de segurança máxima de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.

O traficante possui condenação em três processos criminais por tráfico de drogas e associação para o tráfico. Em nenhuma delas, no entanto, a sentença é considerada definitiva. A defesa de Rabicó ainda está recorrendo na Justiça para tentar diminuir as penas ou absolver o traficante.

Em dois dos processos respondidos por Rabicó , a Justiça já havia autorizado que o chefe do tráfico no Salgueiro esperasse o julgamento dos recursos em liberdade. Ele ainda era mantido preso em um último processo, em andamento na 40ª Vara Criminal do Rio, e no qual o criminoso foi condenado a 10 anos de prisão. Foi nessa ação que o ministro Marco Aurélio deu decisão favorável a Rabicó. O magistrado argumentou que era grande a possibilidade de o STF mudar seu entendimento sobre a execução provisória da pena, como acabou ocorrendo no dia 7 de novembro.

Rabicó ainda responde em liberdade a outros dois processos nos quais ainda não foi condenado. Ele também foi absolvido em outras ações. Ao ser preso, em 2008, o traficante era considerado foragido por ter descumprido as regras da liberdade condicional que havia conseguido no ano anterior.

A liberdade do criminoso colocou em alerta as autoridades de Segurança Pública do Rio. Em abril deste ano, traficantes entraram em guerra em São Gonçalo após Thomar Jayson Vieira Gomes, o 3N, que comandava o tráfico no Complexo do Salgueiro para Rabicó ter desafiado o chefe. Segundo fontes do Extra, Rabicó determinou que outro comparsa, Antonácio do Rosário, O Schumaker, de 35 anos, executasse 3N para tomar o controle do Salgueiro.

Ao saber dos planos do chefe, 3N se antecipou, matou Schumaker e passou a fazer parte de outra facção criminosa. O receio é de que, em liberdade, Rabicó queira se vingar do antigo comparsa. Na nova quadrilha, 3N vem tentando, com frequência, dominar o Salgueiro.

Em um primeiro momento, ao ser solto, Rabicó não quis retornar ao Rio. O juiz corregedor da penitenciária federal de Campo Grande, Dalton Igor Kita Conrado, responsável por determinar a expedição do alvará de soltura do criminoso, afirmou que se fosse de interesse do preso, o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) deveria providenciar seu retorno ao Rio, mas Rabicó dispensou a ajuda.

O chefe do tráfico do Salgueiro, no entanto, terá que retornar ao Rio, já que precisa se apresentar periodicamente à Justiça. O ministro Marco Aurélio, em sua decisão, determina que Rabicó mantenha a Justiça atualizada sobre o seu endereço, informando de possíveis mudanças. Além disso, afirma que o criminoso deve ser alertado de que deve “adotar postura que se aguarda do cidadão integrado à sociedade”. Procurados, os advogados de Rabicó não quiseram se manifestar.

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Rabicó foi transferido para um presídio federal em 2015, após a Polícia Federal ter encontrado uma fortuna de R$ 5 milhões na favela da Mangueira, em São Cristóvão, e também no Salgueiro. A maior parte do dinheiro estava na primeira comunidade. Na época, a PF afirmou que o dinheiro pertencia a Rabicó e o acusou de continuar a comandar o tráfico no Salgueiro mesmo preso no Complexo de Gericinó, na Zona Oeste do Rio .