O Hospital Federal de Bonsucesso (HFB), na Zona Norte do Rio de Janeiro, realiza na manhã desta quarta-feira uma cerimônia em homenagem às vítimas do incêndio na unidade, ocorrido há exato um ano. Apesar de o Ministério da Saúde contabilizar oficialmente três óbitos em razão do fogo, outros 13 pacientes que precisaram ser transferidos morreram nas duas semanas seguintes.
Além de uma missa, estão previstos discursos e o lançamento de balões brancos em memória das vítimas. A ideia também é sensibilizar as autoridades sobre o acidente. A investigação sobre as causas do incêndio é conduzida pela Polícia Federal (PF).
"Os funcionários ainda sentem o fato em si daquele dia. É como se fosse uma morte incompleta, enquanto não tiver o laudo da PF. Ficou uma comoção, e vamos tentar chamar atenção para os fatos que aconteceram. Não só pela falta de recursos humanos, que não está permitindo que a gente retorne a um período pré-pandemia e antes do fechamento do hospital. Esse incêndio era uma crônica anunciada", disse o diretor-médico do HFB, Júlio Noronha.
Alguns serviços no Prédio 1 do hospital, atingido pelas chamas, começaram a retornar gradualmente há cerca de um mês. Mesmo com as obras de recuperação concluídas no meio do ano, faltavam profissionais. Eles estavam cedidos temporariamente a outras unidades federais, mas já estão retomando seus antigos postos.
O complexo tem outros cinco prédios que voltaram a funcionar no final do ano passado, mas sem a capacidade máxima e com algumas especialidades suspensas.
Relatório apontou falhas
Um relatório feito por engenheiros em abril de 2019, a pedido do Ministério da Saúde, constatou uma série de problemas na estrutura de combate a incêndios do HFB. Meses depois, a Defensoria Pública da União (DPU) cobrou providências da administração do hospital.
Na visita técnica, foram feitas imagens que expuseram os problemas nas instalações da subestação de energia elétrica e nos geradores da unidade. De acordo com o documento, as avarias foram detectadas ao longo dos últimos dez anos, e agravados pelo início de uma obra de reforma contratada no ano de 2010.
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Em 27 de outubro do ano passado, o hospital pegou fogo. No dia, havia 192 pacientes nos prédios 1 e 2. Eles foram transferidos para outros blocos e unidades do Rio. O incêndio fez três vítimas, confirmadas pelo Ministério da Saúde. Nas duas semanas seguintes, mais 13 morreram.
'Cheiro muito forte'
"Vi uma fumaça extensa saindo do prédio central, uma fumaça preta, muito intensa, que subiu pelo conduto de ar e invadiu o prédio 1 todo, que é onde estão a unidade de internação e centro cirúrgico principal. Aquilo causou um pavor e começamos a evacuação dos pacientes logo", disse Noronha na época do incêndio. "Foi um cheiro muito forte, muito forte. Parecia pneu queimado, mas de grande intensidade".
O HFB foi citado no relatório final da CPI da Covid, que apurou se havia interferência política em hospitais federais do Rio de Janeiro e encontrou "indícios de conluio entre empresas concorrentes para partilha dos contratos de prestação de serviços continuados".
"Foi possível identificar indícios de irregularidades em contratações feitas pelo Hospital Federal de Bonsucesso, no Instituto de Traumatologia e Ortopedia (INTO) e na Superintendência do Ministério da Saúde no Estado do Rio de Janeiro", diz trecho do documento.
Em fevereiro, o Tribunal de Contas da União (TCU) cobrou que o Ministério da Saúde informasse as medidas adotadas para oferecer leitos para tratamento da Covid-19 em seis hospitais federais e em três institutos nacionais, situados no Rio de Janeiro. Naquele mês, o hospital precisou doar insumos prestes a vencer.
Com a frustração do cronograma idealizado pela administração na época, itens médicos de alta complexidade com validade entre 1º de março e 31 de abril, adquiridos com o orçamento do hospital, foram repassados a outras unidades. Osmateriais somam cerca de R$ 325 mil. Entre eles, estão cateteres, próteses, filtros e sondas.