Primeira Audiência de Instrução e Julgamento do caso Henry Borel
BRUNNO DANTAS-TJRJ
Primeira Audiência de Instrução e Julgamento do caso Henry Borel

Ao prestar depoimento durante a primeira audiência de instrução do julgamento sobre a morte de Henry Borel Medeiros, de 4 anos , o pai do menino, o engenheiro Leniel Borel, contou que o filho vinha se recusando a retornar para o apartamento da mãe, a professora  Monique Medeiros da Costa e Silva, e o padrasto, o ex-vereador Jairo Santos Santos Júnior, o Doutor Jairinho — ambos réus pelo homicídio triplamente qualificado da criança. Segundo Leniel, ele chegou a falar para Henry que o menino deveria voltar para casa, "porque a mamãe era boa". Ainda de acordo com o relato do engenheiro, a criança respondeu: "Não, papai. A mamãe não é boa, a mamãe é má".

Em outro momento do depoimento, Leniel chorou ao cantar a música entoada pelo filho em um dos últimos registros do menino. A letra "Mãezinha do céu", do padre Marcelo Rossi, diz: "Mãezinha do céu, eu não sei rezar. Eu só sei dizer: eu quero te amar". Monique, que deixou o presídio para acompanhar a audiência desta quarta-feira, também foi às lágrimas ao ouvir a canção pela boca do ex-marido. 

Leniel  foi a quarta testemunha de acusação ouvida pela juíza Elizabeth Louro Machado, titular do II Tribunal do Júri. O depoimento do pai do Henry teve início por volta das 18h, e continuava acontecendo uma hora depois. Ele deu detalhes sobre o relacionamento que mantinha com Monique e acerca da separação do casal, em outubro do ano passado, quando a professora deixou o apartamento da família e retornou para a casa da mãe, em Bangu, na Zona Oeste do Rio.

O engenheiro contou que, em novembro, soube por fotos postadas em uma rede social que a ex-companheira estava namorando outro homem — na ocasião, ela contou para Leniel que iria a Petrópolis com amigas para comprar roupas na Rua Teresa. Pouco tempo, Monique teria dito ao ex-marido que gostaria de conquistar independência financeira.

O pai de Henry afirmou que, na época, não entendeu a que ela se referia, mas que hoje associa a declaração ao relacionamento com Jairinho, supostamente por ambição. Na mesma conversa, ainda segundo o depoimento do engenheiro, Monique externou uma vontade de morar em outro local que não fosse a casa da mãe.

"A Monique, por vantagem financeira, acabou vendendo o filho dela", afirmou o engenheiro, que continuou: "Ela dizia: 'Estou com 32 anos e preciso melhorar a minha vida. Não conquistei tudo o que eu queria conquistar'. Monique tinha três guarda-roupas, todo o dinheiro era pra luxo. Eu saí do casamento com três empréstimos para prover o que ela queria. E ela ainda pedia que eu vendesse meu apartamento para comprar uma casa e colocar no nome dela."

Em outro momento forte do depoimento, Leniel contou que Monique alegou que as queixas da criança sobre o comportamento de Jairinho eram apenas "sonho". Já depois que a ex-mulher e o filho se mudaram para um condomínio na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, o menino relatou, ao entrar no carro do pai, que "o tio machucou", falando também sobre um abraço muito forte.

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"Na hora, eu perguntei: "Filho, você contou para sua mãe?". (ele respondeu) "Contei, papai, mas ela disse que era sonho". Então, eu liguei na hora para a Monique, e ela repetiu que deveria ser coisa de criança, sonho", disse Leniel no depoimento.

Em outro ponto da oitiva, o engenheiro detalhou como se davam as visitas que ele fazia para buscar Henry no novo endereço. Ele revelou ainda que, em fevereiro, estranhou a reação do filho, que se recusava a voltar para a casa da mãe e do padrasto.

"Ele se agarrava no travesseiro, chorava, dizia que que não queria ir embora de jeito nenhum", recordou Leniel durante a audiência.

Mais cedo, o delegado Henrique Damasceno, titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), primeira testemunha a ser ouvida, contou que, no dia em que colhia o depoimento de Monique, ela se sentiu "completamente à vontade" na delegacia, tendo pedido pizza e até tirado selfie. Já o ex-vereador Jairinho teria, de acordo com esse relato, feito piadas enquanto estava na distrital.

No dia do depoimento à Polícia Civil, Monique também se preocupou com a roupa que iria usar na delegacia. Horas antes de chegar à 16ª DP (Barra da Tijuca), ela trocou ao menos duas vezes de roupa até decidir a combinação que usaria para depor. Fotos resgatadas em seu aparelho celular mostram que a professora experimentou um macacão preto, posou em frente ao espelho, e depois de consultar um advogado, decidiu ir com um conjunto social branco.

Após Damasceno, também foram ouvidos na audiência Ana Carolina Medeiros e Rodrigo Melo, respetivamente delegada-assistente e inspetor lotados na 16ª DP na época do crime. Os dois deram detalhes da investigação e reforçaram o conteúdo relatado pelo delegado titular.

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