Pesquisadores da Rede de Pesquisa Solidária identificaram que homens negros e mulheres brancas e negras possuem um risco significantemente maior de falecer de covid-19 do que homens brancos no país. A conclusão baseia-se nos dados e estatísticas oficiais sobre os milhares de brasileiros mortos em 2020. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.
Ian Prates, sociólogo coordenador da pesquisa e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), revela que a expectativa era de que "a mortalidade dos negros era maior porque trabalhavam em atividades mais expostas ao vírus, mas nem sempre isso é verdade".
Os dados examinados pelos pesquisadores foram extraídos do Sistema de Informação sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde. Nele, consta informações de 67,5 mil pessoas que faleceram vítimas de covid-19 no último ano - amostra equivalente a um terço de todo o número de óbitos da doença.
Houve mais óbitos por covid em grupos ocupacionais - como comércio e serviçoc, com 6.420 mortos; agricultura, com 3.384; e transportes, com 3.367. Porém, outros setores sentiram o impacto em termos relativos, como é o caso dos profissionais de saúde, com 24% de todas as vítimas; e praças das Forças Armadas, policiais militares e bombeiros, com 25%.
Para os homens negros, há um risco maior do que os enfrentados pelos brancos. A única exceção foi a agricultura, mas mesmo em setores como a advocacia e engenheiros, há uma mortalidade de 43% e 44% maior, respectivamente, enfrentada pela população negra.
"O fato de o risco ser maior até para os que exercem profissões de nível superior como essas mostra o tamanho da nossa tragédia. Isso sugere que mesmo negros que ascenderam profissionalmente continuam expostos a fatores de risco que aprofundam desigualdades".
Uma hipóteses levantada seria a da inseção precária de negros no mercado de trabalho, em trabalhos sem vínculos empregatícios ou em empresas de menor porte. Com isso, estes ocupariam uma posição de maior vulnerabilidade na pandemia.