Uma semana depois de ter sido sequestrado por bandidos que queriam resgatar presos no Complexo de Gericinó, em Bangu, pelos ares, o piloto de helicóptero Adônis Lopes fez uma reflexão nas redes sociais. O policial civil, durante os 50 minutos de trajeto entre Angra dos Reis e o Rio de Janeiro, avisou órgãos de controle aéreo, por meio de códigos, que estava correndo risco, mas ainda assim não teve "nenhuma pronta resposta".
"Foram 50 minutos de voo, aproximadamente, e mesmo com conhecimento dos órgãos de controle áereo de aeronave sob interferência ilícita, nenhuma pronta resposta ocorreu. Logo, tomo a liberdade de trazer essa questão a reflexão para que seja efetivado, junto aos órgãos competentes, protocolo de ação para casos parecidos", escreveu Adônis no Instagram.
Sem instruções claras do que fazer, o piloto tomou as próprias decisões para distrair os sequestradores, enquanto tentava fazer com que eles desistissem do plano arriscado. Uma alternativa foi fazer parecer que o helicóptero estava entrando em pane.
"Chegando em Bangu decidi que "jogaria" o helicóptero no 14º BPM, que fica a poucos metros do presídio. Para isso, baixei a velocidade e a altura da aeronave. No intuito de distrair os bandidos, e implementar minha ação, perguntei onde era o lixão".
"Eu tinha conhecimento, e pedi uma referência de onde a aeronave deveria se aproximar. Foi quando percebi que eles não conheciam bem a região. Na vertical do batalhão, mergulhei o helicóptero em direção ao campo de futebol da corporação para pouso de emergência", relembrou o piloto, que a partir dessa atitude, foi alvo de luta corporal com os bandidos.
Enquanto tentava se desvencilhar de uma gravata dada por um dos sequestradores, Adônis se ocupava em pousar o helicóptero e evitar colisão com obstáculos da área.
"O acidente era iminente, eles sabiam disso. Foi quando, de repente, entramos em um "acordo" e a aeronave voltou a voar. Imediatamente, após a estabilização do voo, eles, confusos, disseram para eu deixar o local imediatamente e seguir para Niteroi. Eles fizeram uma ligação e ouvi: 'Deu errado, o piloto aloprou'."
Como alternativa, os bandidos aceitaram a explicação de Adônis.
"No trajeto para Niterói, procurei convencê-los de que aquilo que ocorreu tinha sido o melhor para todos, pois de outra forma o resultado seria catastrófico. O argumento tinha como objetivo dissuadí-los da intenção de uma retaliação a mim. Pensei que, por conta do plano fracassado, seria trucidado tão logo o helicóptero tocasse o chão. No entanto, assim que cheguei ao local escolhido, o desembarque ocorreu de forma rápida, como se a dupla quisesse sair logo dessa situação."
Entenda o caso
No último domingo, o piloto Leandro Monçores de Araújo, de 42 anos, levou do heliponto da Lagoa, na Zona Sul do Rio, até Angra dos Reis os dois acusados de sequestrar um helicóptero para resgatar comparsa em presídio. No mesmo dia, horas depois, às 17h, outro piloto, Adonis Lopes de Oliveira, que é da Polícia Civil, foi chamado para transportar os dois homens de Angra para o Rio. Após embarcarem, eles anunciaram a verdadeira intenção: resgatar um detento no Complexo de Gericinó.
Armados com pistolas e fuzis, eles exigiram a mudança de destino, mas Adonis conseguiu frustrar o plano fazendo manobras e desviando a rota, que teve entre os pontos o Batalhão de Bangu, onde fez movimentos bruscos com o helicóptero para chamar a atenção do que acontecia no interior da cabine. O desembarque dos criminosos foi feito no Morro do Caramujo, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio. Eles ainda não foram localizados. Helicóptero faz manobras bruscas sobre batalhão durante sequestro.