A Justiça do Rio acatou a denúncia do Ministério Público (MPRJ) pedindo a prisão preventiva dos acusados de envolvimentos na morte da dubladora Cristiane Louise de Paula da Silva, de 49 anos, em 22 de julho, que agora se tornam réus no processo que apura o crime. Os acusados são o economista Pedro Paulo Gonçalves Vasconcellos da Costa, de 27 anos, e a mãe dele Eliane Gonçalves Vasconcellos da Costa, de 59 anos. Profissional de dublagem desde 1994, Cristiane era responsável, entre outras, pela voz da personagem Margarida, da Disney.
As investigações da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) apontam que Pedro Paulo matou a dubladora e contou com o auxílio da mãe para esconder o corpo dela numa área de vegetação da Praia de Grumari, na Zona Oeste da cidade. Na denúncia do MP, Arthur Barroso Marciano, de 25, aparece como o motorista de carro por aplicativo chamado pelos dois acusados para transportar o cadáver. Ouvido pelo polícia, na ocasiãi, ele se defendeu dizendo ser conhecido de um dos filhos de Elaine e que foi chamado por ela para transportar, o que ele pensava ser um cabrito morto para um despacho, enrolado em lençóis e plástico.
Mãe e filho são acusados de terem cometido "feminicídio qualificado pela motivação torpe e pelo meio cruel de execução e ocultação de cadáver". O MP pediu, e a juíza Viviane Ramos de Faria, da 1ª Vara Criminal acatou, a decretação da prisão preventiva de Pedro Paulo e Eliane, citando que logo após a morte da vítima os acusados evidenciaram "comportamento tendente a fazer desaparecer provas da empreitada criminosa, ocultando o cadáver, apagando dados armazenados em dispositivos eletrônicos e lançando fora roupas que contém vestígios do feminicídio."
A defesa dos réus classificou a denúncia do MP como “aventura jurídica", e disse que Eliane "não instigou, não participou, tampouco prestou auxílio na morte da dubladora". Negou ainda o feminicídio. "A tarefa da defesa é o esclarecimento, a busca da verdade" disse a defesa por meio de nota.
Entenda o crime
Ao confessar o crime, Pedro Paulo disse estar agindo em legítima defesa a um transtorno mental da vítima, que, no momento dos fatos, estaria “possuída pelo demônio”. Segundo o delegado Leandro Costa, responsável pelo inquérito, O Grupo de Local de Crime (Gelc) da DHC foi acionado para periciar o corpo de Cristiane Louise, que estava envolto em lençóis e sacos de lixo e apresentava lesões causadas por facadas ou outro objeto cortante. Na especializada, familiares e amigos de trabalho da dubladora contaram que ela estava desaparecida havia alguns dias, o que os motivou a comparecer em seu apartamento, na Rua Joaquim Nabuco, em Ipanema.
Ainda em depoimento, eles contaram que a vítima residia sozinha no local, mas há algumas semanas estava abrigando Pedro Paulo, que passou a ter uma chave da porta de entrada. Ele também passou a ser conhecido pelos funcionários do condomínio. Ao ser questionado sobre o sumiço de Cristiane Louise, o rapaz disse que ela estava bem e havia viajado com um namorado para Mangaratiba, na Costa Verde fluminense.
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Também na delegacia, o economista relatou que falara com a amiga, pessoalmente, pela última vez às 20h de 17 de julho, quando ela saiu de casa dizendo que ficaria “off” por 15 dias, sem telefone celular, e pediu que cuidasse de seus dois cachorros.
Após o cumprimento do mandado de busca e apreensão autorizado pela Justiça, Pedro Paulo acabou por confessar o homicídio da dubladora. Ele alegou que, utilizando uma faca, agiu em legítima defesa contra Cristiane Louise, que estaria com transtornos mentais, dizendo-se “possuída pelo demônio” e aparentava estar sob efeito de entorpecente, remédios controlados e bebida alcoólica. Ele contou ainda, na mesma ocasião, que teve o auxílio de sua mãe e de outra pessoa para sumir com o corpo.
— O autor alega que a vítima estava em um ritual religioso e queria o sangue dele. Mas ficou comprovado com as investigações que a motivação do crime de fato é patrimonial — disse o delegado Leandro Costa, na ocasião.
Veja na íntegra, a resposta da defesa dos réus:
Defesa classifica denúncia do MP como “aventura jurídica”. A denúncia oferecida pelo MPRJ é a “melhor peça de defesa”, disseram os advogados Claudio Dalledone Júnior e Renan Pacheco Canto. “Errou o MP ao denunciar a senhora Eliane Gonçalves Vasconcellos da Costa. Ela não instigou, não participou, tampouco prestou auxílio na morte da Dubladora Cristiane Louise. Não há o que se falar em menosprezo ao sexo feminino. Confunde-se Feminicídio com femicídio. A tarefa da defesa é o esclarecimento, a busca da verdade. Não há espaço para precipitações. O oferecimento da denúncia é o caminho natural das coisas, o processo criminal é uma garantia daquele que está sendo acusado. As circunstâncias e os pormenores serão devidamente esclarecidos no bojo da instrução."