Glaidson Acácio dos Santos, o faraó das criptomoedas
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Glaidson Acácio dos Santos, o faraó das criptomoedas

Ainda não tem data para entrar na pauta do colegiado do Tribunal Regional Federal (TRF) da 2ª Região a análise do mérito do Habeas Corpus (HC) impetrado pela defesa de G laidson Acácio dos Santos, de 38 anos, preso pela Polícia Federal sob a acusação de montar um esquema de pirâmide financeira. Nesta quinta-feira, o desembargador federal André Ricardo Cruz Fontes negou monocraticamente a liminar de soltura do empresário. Agora, o mérito do HC seguirá para discussão em plenário.

Fazem parte do colegiado o desembargador Marcello Ferreira de Souza Granado e o juiz federal convocado Flávio Oliveira Lucas, que está no tribunal em virtude da aposentadoria do desembargador Abel Fernandes Gomes. Eles poderão ou não seguir o voto do relator, que determinou a manutenção da prisão preventiva do ex-garçom e ex-pastor. Enquanto isso, a defesa de

"O indeferimento da liminar não significa que o habeas corpus foi negado. O mérito ainda será analisado pela turma especializada do TRF-2", explicou Thiago Minagé, defensor de Glaidson após a decisão de Cruz Fontes.

Através de uma nota, a GAS Consultoria Bitcoin, empresa fundada pelo ex-garçom e que oferecia lucros de 10% ao mês aos clientes por intermédio de supostos investimentos em criptomoedas, afirmou que "lamenta a decisão" monocrática do desembargador e que "o corpo jurídico da empresa vai ingressar com recursos cabíveis em instâncias superiores, o quanto antes, por entender que a prisão é desnecessária e injustificável". "A G.A.S. Consultoria tem a certeza de que a verdade e a justiça sempre prevalecerão e não medirá esforços para que o CEO da empresa consiga recuperar seu direito à liberdade", conclui a empresa.

Glaidson se prepara para entrar com um pedido de soltura em instâncias superiores: Superior Tribunal de Justiça (STJ) e Supremo Tribunal Federal (STF).

A Polícia Federal e o Ministério Público Federal continuam investigando o ex-garçom. Telefones e documentos apreendidos no dia da operação estão sendo analisados pelos órgãos. Para a PF e o MPF, Glaidson e sua mulher e sócia, a venezuelana Mirelis Yoseline Diaz Zerpa – que os investigadores sustentam estar em Miami (EUA) com um visto de estudante – fazem parte de uma quadrilha que fraudou o sistema econômico do país em bilhões. A Receita Federal afirma que o empresário sonegou milhões de reais nos últimos anos.

Na última sexta-feira (27), o juiz federal Vitor Barbosa Valpuesta, da 3ª Vara Federal Criminal, manteve a prisão preventiva de Glaidson durante a audiência de custódia, que aconteceu na sede da Justiça Federal, no Centro do Rio. Após o procedimento, Minagé disse que recebia a decisão "de forma respeitosa", mas que discordava "veementemente de todos os fundamentos utilizados”. Ao GLOBO, na ocasião, o advogado alegou que apresentou documentação comprovando que seu cliente não estava planejando uma fuga, ao contrário do que afirma a Polícia Federal (PF).

No começo da tarde desta sexta-feira, as assessorias do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF) afirmaram que nenhum pedido de HC havia entrado nos sistemas dos respectivos órgãos.

Ao GLOBO, a assessoria de imprensa do STF afirmou que nenhum pedido de liberdade entrou no sistema do órgão.

Foi preso no dia que iria fugir, diz PF

Segundo os investigadores, Glaidson, que ficou conhecido como 'faraó dos bitcoins' após o escândalo vir à tona, pretendia sair do Brasil na mesma data em que acabou capturado. A informação consta no relatório da investigação, obtido pelo GLOBO. Para os policiais, uma ligação interceptada com autorização da Justiça é a prova de que o ex-garçom, que até 2014 servia mesas na Região dos Lagos, tinha a intenção de fugir.

O telefonema aconteceu na tarde de 23 de agosto, às 14h30. No diálogo, Michael de Souza Magno, apontado pela PF como um importante operador financeiro no esquema montado por Glaidson, conversa com um homem não identificado pelos investigadores. "Porque ele já sabia que ele tinha que sair do país rápido", afirma o interlocutor para Michael, referindo-se, ainda segundo a PF, ao ex-garçom. Pouco depois, o próprio Michael diz: "Já era pra ter ido embora, cara, pra 'tá' bem longe daqui. Aí fica no Rio, fica indo em resenha, fica indo não sei aonde, vai pra festa".

Em outro trecho, os dois citam o fato de que Glaidson só estaria com a identidade civil como documento, enquanto aguardava a emissão de um passaporte com visto americano. O homem não identificado afirma, então, que daria as seguintes orientações ao empresário: "Que que 'cê' tem que fazer? Cem países que 'tão na' Mercosul, que você 'tá' só com a identidade, então. Pega sua identidade e vaza daqui pra lá. Quando o seu passaporte sair, você manda o seu piloto vir buscar o seu passaporte'.

No relatório, os investigadores escrevem que a ligação "deixa clara a movimentação da organização criminosa para a fuga de Glaidson dos Santos, possivelmente na próxima quarta-feira (dia 25/08/2021), passando por países do Mercosul, tendo em vista que o investigado está aguardando a liberação de seu passaporte com o visto americano". Os policiais alegam ainda que a decisão de deixar o Brasil veio depois que o programa "Fantástico", da Rede Globo, exibiu reportagens que citavam o ex-garçom, nos dias 15 e 22 de agosto.

A preocupação da PF e do Ministério Público Federal sobre uma possível fuga era tanta que os pedidos de prisão, assinados pelo procurador da República Douglas Santos Araújo e pelo delegado federal Guilhermo de Paula Machado Catramby, foram enviados à 3ª Vara Federal Criminal às 8h56 do dia 24 de agosto, menos de 24 horas após a conversa interceptada. Na mesma noite, a Justiça expediu os mandados, permitindo que a Operação Kryptos fosse desencadeada na manhã seguinte.

O relatório da PF também destaca a situação da venezuelana Mirelis Yoseline Diaz Zerpa, esposa de Glaidson, que também teve a prisão decretada pela Justiça, mas encontra-se foragida. De acordo com os investigadores, ela tomou um voo de Cabo Frio para o Rio de Janeiro, "sob forte esquema de segurança", no dia 23 de junho. Após uma semana no apartamento do casal, na Barra da Tijuca, Mirelis embarcou, em 30 de junho, rumo ao México. Depois, partiu para Miami, utilizando um visto de estudante. E lá permaneceu.


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