Com 33 anos de profissão, o taxista Marcelo Fraga da Silva postou um relato emocionante em seu perfil no Facebook. Na noite da última segunda-feira, depois que já tinha encerrado o expediente, o motorista recebeu uma ligação desesperada de um amigo, dono de lanchonete, informando que uma mulher estava quase dando à luz diante do estabelecimento, situado em uma comunidade no Rio Comprido, na Zona Norte do Rio.
"Ele estava tentando alguém, ou até mesmo um táxi, mas não estava conseguindo", conta Marcelo no texto, acrescentando que se dispôs de imediato a ajudar. "Coloquei a primeira roupa que vi pela frente e subi", continua o motorista. "Vi logo o desespero de várias pessoas que estavam ali e, lógico, da grávida, que estava no colo do marido, também muito nervoso", acrescenta.
Marcelo decidiu levar o casal até a Maternidade Escola da UFRJ, em Laranjeiras, na Zona Sul, a mais próxima do local de partida. Durante o percurso, porém, a gestante começou a gritar "cada vez mais alto" que não daria tempo. A mulher, então, deitou com as costas em uma das portas e pôs os pés sobre o banco traseiro.
"De repente, o pai começou a falar: 'Está saindo! Está saindo! Estou vendo a cabecinha'", lembra Marcelo na postagem. Ele aproveitou para tentar ajudar a orientar o marido: "Coloca a mão para apoiar a cabecinha, está saindo mesmo!". "Já saiu a metade", respondeu o pai. "Coloca as duas mãos para apoiar melhor", seguiu coordenando o taxista, ao mesmo tempo em que tentava guiar o veículo o mais rápido possível até a unidade de saúde.
"Saiiiiu! Nasceu! Filha, papai te ama", festejou o passageiro em seguida, ainda conforme o relato compartilhado pelo motorista. "Vê se o Cordão Umbilical está no pescoço dela", prosseguiu Marcelo, recebendo uma resposta negativa. Neste instante, a bebêzinha chorou pela primeira vez, para a emoção da mãe, que logo pediu para a ver a criança, enquanto repetia: "Nasceu a minha menina! Nasceu a minha menina".
Você viu?
Marcelo conta que foi aí que decidiu registrar parte do "momento único" com um celular, em um vídeo de pouco menos de um minuto que também acompanha o post no Facebook. "Tudo aconteceu muito rápido e parecia que era uma eternidade", frisa ele. Nas imagens, o pai revela o nome do bebê: "Nicole".
Antes de chegar à maternidade, o taxista ainda precisou pegar a contramão na Rua das Laranjeiras, uma das mais movimentadas do bairro. Ao se deparar com uma viatura de polícia, ele relata que avisou sobre a intenção de pegar o trajeto proibido porque "a mulher que estava no carro acabara de dar à luz". "Nem vi a resposta dos policiais, não queria perder tempo. Mas acho que eles falaram para eu seguir", recorda o motorista no texto.
"As pessoas gritavam que era contramão, os carros buzinando e dando farol, e um até me chamou de maluco, mas fiz tudo com toda a consciência do que vinha pela minha frente", continua o relato. Ao chegar, enfim, à maternidade, médicos e enfermeiros realizaram os primeiros procedimentos ainda no carro. "Senti um mix de emoções. Drama, desespero, agonia e outras coisas... Graças a Deus, deu tudo certo", comemora Marcelo no depoimento em primeira pessoa.
No texto, o taxista cita até mesmo a Covid-19: "Fiquei muito emocionado também porque o dia todo é só notícia de aumento de mortes pela pandemia". Ele prossegue: "Ter o privilégio de ver uma nova vida nascendo no meu táxi não tem preço".