Escândalo na Saúde: Saiba quem é quem nas denúncias que a CPI da Covid apura
Foto: NOAH SEELAM/AFP
Escândalo na Saúde: Saiba quem é quem nas denúncias que a CPI da Covid apura

Desde que foi instalada para apurar omissões do governo federal, dos estados e municípios nas medidas de enfrentamento a pandemia, a CPI da Covid já ouviu integrantes do Ministério da Saúde envolvidos em denúncias de superfaturamento de contratos de compra de vacinas, recebeu denúncias de pressões pela aprovação de vacinas que ainda não haviam sido aprovadas pela Anvisa e políticos envolvidos nos escândalos na Saúde.

Veja alguns dos personagens dos casos suspeitos de ilegalidades em negociaçoes de compra das vacinas AstraZeneca e Covaxin:

Eduardo Pazuello

Ministro da Saúde por mais tempo na gestão Bolsonaro, o general da ativa nega que o governo tenha sido omisso na compra de vacinas, isenta o presidente de responsabilidades na condução da pandemia e diz que o governo foi impedido de enfrentar o vírus. 

Em depoimento à CPI da Covid, o ex-ministro da Saúde buscou poupar o presidente Jair Bolsonaro ao afirmar que nunca recebeu ordens diretas dele para fazer algo diferente da conduta adotada em sua gestão e apresentou versões inconsistentes sobre a crise de oxigênio em Manaus e a criação de um aplicativo que indicava cloroquina.

A declaração sobre o presidente, inclusive, contradiz um vídeo gravado pelo próprio Pazuello em outubro de 2020, após o então ministro ser desautorizado por Bolsonaro em relação à compra da vacina Coronavac. Na ocasião, ao lado do presidente, Pazuello afirmou que "um manda, outro obedece".

Pazuello disse ainda que Bolsonaro esteve a par de todo o processo de tratativas para compra da vacina da Pfizer, que se estendeu de julho do ano passado até março deste ano, negou que as ofertas tenham ficado inicialmente sem resposta e se comprometeu a enviar à CPI os registros de comunicações do ministério com a farmacêutica.

Elcio Franco

O coronel da reserva foi secretário-executivo do Ministério da Saúde, considerado o número 2 da pasta na gestão de Pazuello. Franco é apontado como o responsável por dar a palavra final nos contratos suspeitos da vacina Covaxin.

Há um mês, o ex-secretário-executivo foi nomeado como assessor especial da Casa Civil. Segundo auxiliares palacianos, o militar ficou dedicado a compilar dados e preparar respostas para abastecer representantes do governo convocados pela comissão parlamentar. Ele também atuou diretamente na preparação do ex-ministro Pazuello para responder os questionamentos dos senadores.

O PM Luiz Paulo Dominguetti, que denunciou um pedido de propina por doses da vacina AstraZeneca, disse que se encontrou com Élcio Franco para negociar a venda do imunizante. Ele diz que levou a proposta de venda da vacina a Roberto Dias, o diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis, Lauricio Monteiro Cruz, e ao secretário-executivo Elcio Franco. De acordo com ele, o encontro com Elcio Franco foi intermediado por Laurício.

Roberto Dias

Foi diretor do Departamento de Logística do Ministério de Saúde e acusado por Dominguetti de pedir propina de US$ 1 por unidade  pela compra de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca. É suspeito ainda de ter pressionado pela aprovação da vacina Covaxin.

Dias foi acusado por Dominghetti, que se apresenta como representante da empresa Davati Medical Supply e negociava a compra da vacina AstraZeneca pelo governo federal. Segundo o vendedor, Dias cobrava um dólar por dose de vacina vendida ao ministério.

Dias confirmou que conheceu Dominghetti no restaurante Vasto, no Brasília Shopping, mas negou ter pedido propina e disse que solicitou ao representante da empresa Davati que encaminhasse um pedido formal de compra de vacina, que nunca prosperou.

Ontem, o presidente da CPI da Covid, Osmar Aziz (PSD-AM), deu voz de prisão para o ex-diretor de logística do Ministério da Saúde após virem à tona, em reportagem da CNN, áudios que desmentem a versão de Dias sobre encontro com o cabo da Polícia Militar Luis Paulo Dominghetti, em restaurante em Brasília.

Segundo o presidente da CPI, Dias mentiu sobre o encontro com Dominghetti, em um restaurante em Brasília, onde ele teria feito o pedido de propina. À comissão, Dias disse que o jantar entre os dois não foi programado. Ele estava tomando chope com um amigo quando o PM apareceu. Omar, porém, citou áudios do celular de Dominguetti apontando que o encontro foi previamente combinado.

Marcelo Blanco

O tenente-coronel da reserva foi assessor do departamento de Logística do ministério. Seu nome foi citado por Luiz Paulo Dominguetti à CP como a pessoa que fez a ponte entre ele e Roberto Dias. Blanco estaria no jantar em que foi pedida propina pela vacina AstraZeneca.

Tanto Dias quanto Dominguetti afirmam que o militar estava presente no jantar em que o PM alega ter sido ofertada a propina. À CPI, Dominguetti disse que foi Blanco quem fez a ponte entre ele e Dias, afirmando que tinha um bom relacionamento dentro do ministério.

Blanco foi exonerado do cargo em janeiro deste ano e  chegou a ser designado para substituir Dias após sua demissão. No entanto, a pasta recuou e nomeou o general da reserva Ridauto Lucio Fernandes para o cargo de diretor do Departamento de Logística. 

Blanco havia sido nomeado ao departamento no início de maio do ano passado, ainda na gestão do ex-ministro Nelson Teich. Segundo o GLOBO mostrou à época, o militar substituiu a servidora Adriana Maria Pinhate, que trabalha no posto desde 2012.

Marcelo Pires

O coronel foi nomeado para a coordenação do Plano Nacional de Operacionalização das Vacinas contra a Covid-19 na gestão Pazuello. É acusado pelo servidor Luis Ricardo Miranda de pressioná-lo pela aprovação de pagamentos referentes à vacina indiana Covaxin.

Arnaldo Medeiros

É secretário de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde. Medeiros participou da primeira reunião no ministério, em novembro, com representantes da Precisa Medicamentos, empresa que faz a intermediação na compra da indiana Covaxin.

Alex Lial Marinho

Coordena o departamento onde trabalha o servidor Luis Ricardo Miranda no Ministério da Saúde. É acusado pelo subordinado de ter pressionado pela aprovação do contrato de compra da Covaxin.

Regina Célia

Citada pelo servidor Luis Ricardo Miranda, ela atuava como fiscal do contrato de compra da Covaxin e autorizou a negociação do imunizante mesmo após as denúncias dos irmãos Miranda ao presidente Bolsonaro.

Luis Ricardo Miranda

É chefe da divisão de importação do Ministério da Saúde e denunciou que estaria sofrendo pressão fora do comum dentro da pasta para fechar a compra da indiana Covaxin, mesmo após encontrar irregularidades no contrato.

Luis Miranda (DEM-DF)

O deputado federal foi procurado pelo irmão, o servidor Luis Ricardo, para levar o caso da pressão pela Covaxin a Jair Bolsonaro. À CPI, ele disse que o presidente citou o deputado Ricardo Barros (PP-PR) como envolvido na compra da Covaxin.

Após em diversos momentos afirmar que não se lembrava do nome do parlamentar, Miranda foi pressionado pelos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Simone Tebet (MDB-MS) para finalmente revelar de quem se tratava.

Deputado Ricardo Barros (PP-PR)

Líder do governo na Câmara, teve seu nome envolvido na compra suspeita da Covaxin. É acusado de improbidade por supostamente ter beneficiado a empresa Global Gestão em Saúde quando foi ministro da Saúde. A Global é sócia da Precisa,alvo da CPI.

Francisco Maximiano

Sócio da Precisa Medicamentos, que representa a Bharat Biotech, fabricante da Covaxin, no Brasil. Documentos da CPI comprovam que a empresa cobrou urgência do Ministério da Saúde na tramitação do contrato, suspeito de irregularidades. 

Cristiano Carvalho

É o representante da Davati no Brasil. Dominguetti diz que o empresário teria dado aval para que ele negociasse a vacina com o Ministério da Saúde  em nome da empresa.

No depoimento de Dominguetti à CPI, o policial disse que o empresário teria feito um acordo verbal com ele para que pudesse atuar em nome da empresa junto ao Ministério da Saúde para negociar as 400 milhões de doses da AstraZeneca. Ainda segundo Dominguetti, antes que ele tivesse contato com Dias e os demais militares ligados à pasta, era Carvalho quem estava à frente da negociação.

Luiz Paulo Dominguetti

É policial militar e se apresentou como representante da Davati Medical Supply — que diz ser intermediária da vacina AstraZeneca. Dominguetti acusa o ex-diretor do Ministério da Saúde Roberto Dias de pedir propina pela vacina.

Dominguetti trabalha como policial militar na cidade Alfenas, no Sul de Minas, e disse em seu depoimento que começou a atuar no mercado de insumos para complementar a renda. Apesar da negociação entre Ministério da Saúde e a Davati ser de grande porte — a oferta era para 400 milhões de doses —, Dominguetti não tem uma muita experiência no ramo e reconheceu que até então não tinha feito grandes negócios na pasta. Ele afirmou também ter dívidas a pagar e que deve quatro meses de aluguel. Ele admitiu que, como militar da ativa, não poderia estar exercendo outra função e está disposto a arcar com as consequências.

Reverendo Amilton Gomes de Paula

Mensagens indicam que o reverendo recebeu aval do diretor de Imunização do Ministério da Saúde, Lauricio Monteiro Cruz, para negociar doses da AstraZenecaem nome do governo brasileiro com a Davati.

O reverendo teria sido autorizado pelo Ministério da Saúde a negociar a compra de vacinas. Fundador da Senah (Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários), uma associação privada, ele disse ao GLOBO na terça-feira que sua entidade recebeu uma oferta de doação para ajudar a empresa americana Davati Medical Supply a fechar um contrato para fornecer 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca com o Ministério da Saúde.

O Jornal Nacional revelou no sábado que o reverendo foi autorizado pelo ministério a intermediar a venda de vacinas. O caso levanta suspeitas porque nem Amilton de Paula nem a sua entidade têm qualquer ligação com o poder público. A Senah foi fundada em 1999 e tem uma relação próxima com a Frente Parlamentar Evangélica.

Luiz Paulo Dominguetti, citado por Amilton de Paula como responsável pela suposta proposta, é o mesmo que acusou o ex-diretor de Logística do ministério Roberto Dias de cobrar propina para fechar o contrato com a Davati.

Amilton de Paula afirma que, na primeira reunião presencial, Dominguetti teria oferecido uma doação à Senah, sem especificar valores, para recompensar o apoio da organização à negociação. Ele não citou a Davati, mas disse que Herman Cárdenas, presidente da empresa nos Estados Unidos, teria feito doações a organizações em outros países.

Lauricio Monteiro Cruz

Cruz ocupava o cargo de diretor de Imunização e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, e teve seu nome envolvido em uma série de e-mails apresentados pelo Jornal Nacional, que mostravam que ele autorizou o reverendo Amilton Gomes de Paula a intermediar a compra das 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca. Em depoimento à CPI da Covid,  Dominguetti afirmou que Lauricio Cruz intermediou uma reunião com o então secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco.Cruz foi exonerado do cargo, ocupado por ele desde agosto de 2020. À época, o diretor foi nomeado pelo então ministro Pazuello.

"Renato Compra Vacinas"

Identificado dessa forma no celular apreendido de Dominguetti, é um interlocutor do representante da Davati no governo . Disse que o reverendo Amilton Gomes estivera com Bolsonaro. Ainda não está claro quem, de fato, é Renato.

Helcio Bruno de Almeida

Coronel da reserva, Helcio Bruno de Almeida é indicado por Dominguetti como a pessoa que viabilizou o encontro entre ele, o reverendo Amilton, o representante da Davati, Cristiano Carvalho, com Elcio Franco para negociar a venda de 400 milhões de doses da AstraZeneca.

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