Leandro Demori, editor-executivo do The Intercept Brasil
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Leandro Demori, editor-executivo do The Intercept Brasil

A Polícia Civil do Rio de Janeiro quer apurar o teor de postagens do editor-executivo do site The Intercept Brasil sobre a  operação policial que ficou conhecida como Massacre do Jacarezinho, ocorrida no dia 6 de maio. A PCRJ abriu um inquérito a partir de uma ocorrência que acusa o jornalista, Leandro Demori , de um eventual crime de calúnia. Ele foi intimado a prestar depoimento na próxima quinta-feira (10). 

Segundo o jornal Folha de S. Paulo , além dele, o inquérito também tem como alvo o biólogo  Lucas Sá Barreto Jordão em decorrência de um comentário publicado por ele no site do El País Brasil no dia da operação que deixou 28 mortos e se tornou a mais letal da história do Rio de Janeiro.

Instaurado pela Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática, a ocorrência que deu origem ao inquérito traz como testemunha o delegado Pablo Dacosta Sartori. O inquérito foi instaurado pela delegada Daniela dos Santos Rebelo Pinto.

“O inquérito foi aberto no dia 12 de maio após denúncia de policiais da Core, que se sentiram ofendidos pelas postagens dos dois jornalistas. O inquérito tem 30 dias para ser concluído, podendo ser prorrogado caso necessário. Quem assinou a abertura do procedimento foi a delegada Daniela Rebelo, que estava substituindo o titular da DRCI, afastado por licença médica”, diz a nota da Secretaria de Polícia Civil, referindo-se a Jordão como jornalista.

No dia 12 de maio, Sartori comunicou ocorrência contra Demori. Quatro dias antes, o jornalista reproduziu nas redes sociais trechos de uma newsletter de sua autoria e segundo a qual policiais que participaram do massacre do Jacarezinho “são conhecidos à boca pequena como ‘facção da Core’, a Coordenadoria de Recursos Especiais”.

“A história cresce quando juntamos outros fatos: a 'facção' está envolvida no caso João Pedro (menino de 14 anos, morto durante uma operação), na chacina do Salgueiro (oito mortos) e no caso do helicóptero da Maré (oito mortos). São 41 homicídios somente nesses casos. Quantos mais?”, diz o boletim de notícias publicado por Demori.

Para Demori, há uma inversão de princípios éticos. “O que me espanta é que, em vez de usarem o aparato policial para investigar a denúncia, investigam o jornalista”, afirmou.

Em editorial publicado nesta terça-feira (8), o The Intecept Brasil afirma que “tudo indica que a DRCI se tornou uma delegacia de repressão política”.

“Em democracias saudáveis, a polícia estaria preocupada com a pilha de mortos que a Core vem deixando em suas operações. No Brasil dos nossos tempos, a polícia quer intimidar e pressionar o mensageiro. Demori foi intimado a comparecer na Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática na próxima quinta-feira, às 14h. A DRCI é a mesma que intimou Willam Bonner, Renata Vasconcellos e Felipe Neto, em casos com evidente viés político. Tudo indica que a DRCI se tornou uma delegacia de repressão política. O Intercept não vai se curvar a isso, nunca.”

Procurado por intermédio de sua assessoria jurídica, Jordão não foi localizado. Segundo o inquérito, o biólogo publicou: "Operação de bandidos fardados mata 25 pessoas".

Titular da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática, Sartori é o mesmo que intimou o youtuber Felipe Neto com base na Lei de Segurança Nacional. Foi ele também quem instaurou inquérito contra os apresentadores do Jornal Nacional William Bonner e Renata Vasconcellos por terem noticiado uma denúncia do Ministério Público contra o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).


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