Um mês depois de ser colocado em liberdade, o capitão da PM Leonardo Magalhães Gomes da Silva, acusado de ser chefe de uma milícia que domina os bairros de Vargem Grande e Vargem Pequena, na Zona Oeste do Rio, foi novamente preso. O oficial teve a prisão decretada por outro crime relacionado à atuação do grupo paramilitar: os assassinatos de Jardel Felipe Rodrigues Neto e Renan da Silva Pinto, executados a tiros em janeiro de 2020 na Rua Capitão Pedro Afonso, em Vargem Grande.
De acordo com a denúncia do Ministério Público, Silva ordenou os homicídios porque a dupla vendia drogas no bairro sem a sua permissão. O inquérito da Delegacia de Homicídios (DH) descobriu que só a milícia do oficial tinha permissão para traficar drogas na região.
A nova prisão de Leonardo foi determinada pela juíza Elizabeth Machado Louro, da 2ª Vara Criminal. Além do capitão, também respondem pelo homicídio dois comparsas: Caio Camilo de Jesus e Deivid Salgado da Silva. O oficial se entregou na última segunda-feira e já está na Unidade Prisional da PM. Os outros dois estão foragidos.
No dia 22 de janeiro, o juiz Leonardo Rodrigues da Silva Picanço, da 1ª Vara Criminal Especializada, determinou que o capitão fosse solto. A decisão, que beneficiou outros seis réus, foi tomada durante uma audiência do processo a que o grupo responde pelo crime de associação criminosa.
O magistrado argumentou, na ocasião, que "não mais se tem por presente, neste momento, ameaça devidamente delineada à ordem pública, à instrução criminal", porque os depoimentos das testemunhas já foram tomados. Todos haviam sido presos na Operação Porto Firme, deflagrada pela DH em julho do ano passado.
A investigação que levou o capitão à cadeia revelou que o grupo paramilitar explorava a venda de drogas na região, o que levou a quadrilha a ser chamada de “narcomilícia” pela polícia. Ao longo do inquérito, que contou com interceptações telefônicas de diversos integrantes da quadrilha, a Polícia Civil e o Ministério Público descobriu que o grupo explorava uma série de atividades criminosas, como tráfico de drogas, extorsão, agiotagem e corrupção de agentes públicos.
Ao longo do inquérito, a polícia descobriu que a "narcomilícia" conseguiu até unir a grilagem de terras ao tráfico de armas. Interceptações telefônicas mostram que os milicianos invadiam terrenos — muitos em áreas de proteção ambiental —, faziam obras de terraplanagem, conseguiam “esquentar” a documentação dessas áreas e, por fim, trocavam os lotes por armamento.
O grupo também era implacável com seus desafetos. Os paramilitares chegaram a atacar com rojões a casa de um morador da região que denunciou o grupo à polícia. Os ataques faziam, segundo a polícia, parte de uma rotina de intimidação da milícia para garantir o silêncio da população: a quadrilha também costumava enviar cartas com ameaças e também pichava as fachadas para marcar as casas dos “desafetos”.
Antes de ser preso, o capitão Leonardo Silva ocupava um cargo importante na Polícia Militar, responsável por fiscalizar gastos da corporação: Silva era gestor de contratos da Diretoria de Transporte (DT). Sua atribuição era supervisionar contratos das oficinas mecânicas credenciadas pela PM para a manutenção de viaturas.