Registrados em diversos pontos do Brasil, os casos de "vacina de vento", quando o imunizante contra a Covid-19 acaba não sendo aplicado de fato nos pacientes, representam mais um receio para as famílias em meio à pandemia.
Até o momento, só no estado do Rio , são pelo menos quatro ocorrências do gênero sendo investigadas pela Polícia Civil, por conselhos de classe ou pelas prefeituras. Veja, abaixo, os detalhes sobre cada uma dessas situações.
Técnica afastada em Copacabana
O caso mais recente veio à tona nesta quinta-feira (18), mas aconteceu no dia 27 de janeiro, em Copacabana. A técnica de enfermagem Adenilde Lourenço da Silva, do Centro de Saúde João Barros Barreto, acabou afastada pela Secretaria municipal de Saúde (SMS) depois que a filha de uma idosa vacinada constatou, no vídeo feito durante o recebimento da dose, que a seringa estava vazia ou com uma quantidade mínima de líquido. Diante da dúvida, a SMS anunciou que a paciente teve o imunizante reaplicado e abriu uma sindicância para apurar o ocorrido.
A Polícia Civil também investiga o caso, em um inquérito no qual a profissional responde por possível peculato - tipo de crime no qual um funcionário público se apropria ou extravia bens graças à funcão exercida, com pena que pode variar de 2 a 12 anos de prisão. A técnica de enfermagem prestou depoimento nesta quinta-feira e responsabilizou uma residente pelo caso.
Mulher indiciada por caso em Niterói
Outro caso, ocorrido na última segunda-feira, resultou no primeiro indiciamento no país por conta de " vacinas de vento ". Encaminhada nesta quinta-feira ao Judiciário, a investigação da 76ª DP (Niterói) enquadrou a técnica de enfermagem Rozemary Gomes Pita, de 42 anos, que trabalhava em um posto drive-thru no Gragoatá, pelo crime de peculato e também no de infração de medida sanitária, este último com pena máxima de 1 ano de prisão. Assim como no flagrante em Copacabana, uma pessoa filmou a suposta aplicação da vacina em um idoso de 90 anos e, com as imagens, constatou a irregularidade.
A profissional chegou a alegar que cometeu um erro por conta do cansaço . Para a polícia, porém, ela agiu intencionalmente. "Como uma profissional experiente vai justificar o motivo de não ter apertado o êmbolo de uma seringa na hora da aplicar a vacina?", pergunta o delegado Luiz Henrique Marques Pereira, titular da 76ª DP. "É provável que esse material seria desviado , talvez até aplicado em outra pessoa, algo realmente muito grave", completa o policial. A profissional foi afastada pela Secretaria de Saúde de Niterói assim que o caso veio a público. O Conselho Regional de Enfermagem do Rio (Coren-RJ) também apura o ocorrido.
Em Petrópolis, funcionária "orientada a não falar"
Na sexta-feira da semana passada, dia 12 de fevereiro, foi Petrópolis, na Região Serrana, que ganhou as manchetes por conta de uma denúncia do gênero. Um vídeo, que viralizou nas redes sociais, mostrou uma idosa de 94 anos recebendo uma dose de ar, sem que o imunizante estivesse no êmbulo. Ouvida pela prefeitura, a técnica de enfermagem responsável pela aplicação garantiu que "não percebeu o problema" e assegurou que o ato "não foi intencional, mas sim um "problema com a seringa". Localizada por "O Globo" em uma cidade próxima de Petrópolis, dois dias depois do ocorrido, a profissional disse ter sido orientada a não falar sobre o caso.
Assim como as outras envolvidas em denúncias desse tipo, a técnica de enfermagem foi afastada do cargo. Investigações da Polícia Civil e do Coren-RJ ainda estão em curso. Após o ocorrido, a Secretaria de Saúde de Petrópolis decidiu adotar um novo protocolo de vacinação. Agora, os acompanhantes dos idosos são convidados a sair do carro e averiguar a seringa, antes e depois da aplicação no posto drive-thru.
Reaplicação no Parque Olímpico
Já no Parque Olímpico, na Barra, mais uma vez em um posto de vacinação no estilo drive-thru, um estudante de Medicina inseriu a agulha na paciente, mas não empurrou o êmbolo . Como a família notou o problema na mesma hora, uma nova dose foi aplicada normalmente.
O caso também ocorreu na última sexta-feira (12). No dia seguinte, parentes retornaram ao local e procuraram a coordenação do posto, que informou que iria apurar o ocorrido, mas não deu mais qualquer retorno. Já a Secretaria municipal de Saúde afirmou, na ocasião, que houve uma intercorrência na aplicação da dose em um paciente, mas que a situação foi imediatamente resolvida. Não se sabe o caso chegou à Polícia Civil ou ao Coren-RJ.