O ponto facultativo também foi cancelado em diversas regiões do país
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O ponto facultativo também foi cancelado em diversas regiões do país











As comemorações, festividades e blocos de rua estão suspensos nos próximos dias, fazendo com que o  Carnaval seja cancelado pela primeira vez na história do país. A medida foi adotada por mais de 20 estados brasileiros com o objetivo de conter o avanço da pandemia de Covid-19 e evitar a circulação de pessoas neste período.

Os prejuízos dessa suspensão vão do âmbito econômico ao cultural. As escolas de samba , por exemplo, tiveram seus tradicionais desfiles nos sambódromos cancelados e vêm sofrendo com as dificuldades do distanciamento social desde o início da pandemia. Muitas delas cessaram os ensaios presenciais e tiveram que encontrar alternativas para continuar em operação. 

O ritmista Lucas Eduardo, de 25 anos, desfila há 14 anos pela Rosas de Ouro,  escola de samba de São Paulo , e conta que, em um ano comum, os ensaios geralmente começam entre o final de abril e começo de março, mas que, devido à pandemia, as atividades presenciais foram suspensas em 2020 e continuam assim até hoje. "É um trabalho que depende da aglomeração para fazer acontecer, precisa das pessoas. Essa mudança foi algo inédito nas nossas vidas", diz.


Com a explosão das lives nas redes sociais na metade do ano passado, a escola de samba decidiu fazer duas transmissões ao vivo com os integrantes reunidos. Mais tarde, com a flexibilização da quarentena no estado de São Paulo, Lucas conta que eles chegaram a fazer um ensaio presencial, respeitando as normas de segurança propostas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mas optaram por não continuar, pelo receio de contaminação.

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Por outro lado, na Imperatriz da Paulicéia, outra escola de samba de São Paulo , os ensaios ocorreram de forma remota. "Estamos ensaiando pela plataforma Zoom até hoje, independente de ter Carnaval em julho ou não", conta Rafaella Rocha Azevedo, de 32 anos, que é a primeira mulher a ocupar o cargo de mestre de bateria no Carnaval paulistano, assumindo a posição em 2019. 

Outra realidade

"É um cenário bem diferente do que a gente está acostumado a viver. Acho que o que eu mais sinto é saudade das pessoas, do som, da batucada… Mesmo que eu pratique em casa, falta o som da massa, da galera", afirma Lucas.

A mestre da Imperatriz da Paulicéia destaca a mudança na rotina. "Agora que não tem Carnaval, eu não sei nem em que mês a gente está, porque eu vivi muito tempo em função dessa data", acrescenta Rafaella, que participa do meio há 13 anos. "Para mim é muito difícil, mas acredito que todo mundo precisa se reinventar, não ficar parado e esperar as coisas acontecerem. Não é legal contar com a sorte, ela é a última das opções, o trabalho tem que ser a primeira", completa.






Apesar dos ensaios terem sido cancelados na Rosas de Ouro, Lucas também procurou alternativas para retomar os trabalhos. O músico aproveitou a pandemia para dar continuidade ao seu projeto pessoal, o Duetto Repinique. Por meio da iniciativa, Lucas e seu colega, Hebert Bruno, fazem oficinas de música e workshops ao redor do mundo, e adaptaram a ideia ao período atual. "A gente tem passagem pela França, Suíça, Itália, Alemanha, Portugal… A gente faz tour todo ano. Como esse ano não teve, migramos para o âmbito online", conta. 

Geração de empregos

O historiador Bruno Baronetti explica que, do ponto de vista cultural, é a suspensão da festa mais importante do Brasil, no entanto, ele também chama a atenção para o setor econômico. "O impacto é muito grande, já que o Carnaval movimenta bilhões de reais hoje em dia", afirma.

Além da ausência da comemoração, o cancelamento do Carnaval este ano também impacta na geração de empregos e na renda de milhares de brasileiros. Segundo estimativas da Confederação Nacional do Comércio (CNC), em todo o Brasil, a suspensão da data comemorativa pode deixar um buraco de mais de R$ 8 bilhões na economia, com cerca de 70 mil empregos deixando de ser gerados no país.

"Esse cenário é muito difícil, porque eu mesmo dependo do Carnaval para poder alavancar o meu trabalho", diz Lucas, que participa ativamente da data desde os 13 anos de idade. 





Embora o contexto atual seja preocupante, o ritmista se mostra esperançoso em relação ao próximo ano. "Não é só o samba, não é só o Carnaval, a gente aprende a conviver com outras pessoas, a amar o pavilhão… E isso a gente leva para a vida. Por enquanto, temos que esperar acabar essa turbulência, e tenho certeza que quando tudo voltar vai ser lindo", conclui.


*Estagiária supervisionada pela equipe de Último Segundo

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