Fernando Iggnacio foi assassinado nesta terça
Daniela Conti / Agência O Dia
Fernando Iggnacio foi assassinado nesta terça

RIO - O Escritório do Crime — quadrilha de pistoleiros responsável por dezenas de homicídios no Rio nos últimos quinze anos — tinha um plano para matar o bicheiro Fernando Iggnácio de Miranda,  assassinado nesta terça-feira no Recreio, Zona Oeste do Rio. Numa investigação contra os matadores, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP do Rio descobriu que vários integrantes do grupo queriam comprar uma metralhadora ponto 50, uma das armas com maior poder de destruição que existem, para executar Iggnácio.

A arma foi pesquisada na internet por um dos chefes do Escritório do Crime, Leonardo Gouvêa da Silva, o Mad, em abril de 2018. Ao fim das investigações, em junho do ano passado, Mad foi preso. Outro integrante do grupo que fez buscas pelo armamento foi o ex-PM João Luiz da Silva, o Gago, que está foragido até hoje.

Para a polícia, Iggnácio foi assassinado por um atirador experiente. Os disparos que o atingiram foram feitos à longa distância, com grande precisão: partiram de um terreno baldio vizinho ao da empresa de táxi aéreo no qual ele desembarcou de um helicóptero. A Delegacia de Homicídios (DH) investiga se o Escritório do Crime, integrado por vários ex-policiais com experiência em tiros de precisão, está por atrás do crime.

O MP suspeita que o grupo tenha sido contratado por Rogério Andrade em 2018 para matar o desafeto, com quem disputava o espólio criminoso do bicheiro Castor de Andrade desde 1997. Iggnácio era casado com uma filha de Castor. Já Rogério é sobrinho do ex-presidente da Mocidade Independente. Atualmente, segundo as investigações do MP, Iggnácio ainda controlava o jogo ilegal em Bangu, na Zona Oeste.

Antes do homicídio de Iggnacio, dois integrantes de sua equipe de seguranças foram assassinados a tiros. Em janeiro de 2018, o sargento reformado Anderson Cláudio da Silva, o Andinho, um dos seguranças do bicheiro, foi alvo de um atentado, em Bangu, na Zona Oeste. Ele conseguiu fugir sem ser ferido.

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No entanto, seus passos continuaram sendo monitorados. Andinho foi executado a tiros três meses depois, em 10 de abril. Na ocasião, ele foi atacado a tiros após sair de uma reunião de trabalho e entrar em sua BMW, no Recreio. O crime tem a assinatura do Escritório do Crime: a polícia descobriu que a munição usada foi a mesma usada pelo grupo para assassinar o empresário Marcelo Diotti, em 14 de março de 2018. Integrantes da quadrilha já respondem por esse último crime.

Já o ex-PM Jorge Crispim Silva dos Santos, outro homem que trabalhava para Iggnácio, foi morto em junho deste ano, em sua casa, em Campo Grande, também na Zona Oeste. A polícia investiga se os três homicídios estão relacionados.

Outro episódio recente da disputa entre Iggnácio e Andrade aconteceu no final de 2018. Foi um ataque a tiros à antiga Fortaleza de Castor de Andrade, uma mansão que funcionava como escritório do contraventor nas décadas de 1980 e 1990. Houve tiroteio, mas ninguém foi morto. O MP suspeita que Iggnácio estivesse no local, e atiradores estavam fazendo uma campana para matá-lo.

Os três fundadores do Escritório do Crime já estão mortos. Todos foram assassinados a tiros num intervalo de pouco mais de três anos em situações distintas. O ex-capitão da PM Adriano da Nóbrega foi baleado numa ação do Bope da Bahia, em fevereiro deste ano. O ex-tenente João André Martins — com Adriano quem se formou no curso de Operações Especiais da PM — foi executado perto da casa onde morava, na Ilha do Governador. Já também ex-PM Antônio Eugênio Freitas, o Batoré, foi morto em 2019 num carro junto com o traficante Fernando Gomes de Freiras, o Fernandinho Guarabu, por PMs na Ilha do Governador.

O herdeiro do grupo, Leonardo Gouvêa da Silva, o Mad, foi preso em junho. No entanto, ainda há integrantes foragidos, como os ex-PMs Anderson de Souza Oliveira, o Mugão, e João Luiz da Silva, o Gago. Milicianos que, segundo o MP, se associaram ao grupo também estão fora das grades, como Leonardo Luccas Pereira, o Leléo, e Edmílson Gomes Menezes, o Macaquinho. Ambos controlam o grupo paramilitar que domina a Praça Seca, na Zona Oeste. Os promotores investigam auxílio logístico prestado pelos milicianos em vários dos crimes cometidos pelo grupo.

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