Dados divulgados pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2020 mostram a desigualdade de raça existente no Brasil quando o assunto é violência: além de a população carcerária de presos negros ter subido 14% nos últimos 15 anos, enquanto houve queda de 19% entre os brancos, o número de pessoas negras mortas pela polícia atingiu um total de oito a cada dez ocorrências.
O documento, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), tem como base os boletins de ocorrências de 2019 fornecidos pelos estados. Acre, Amapá, Amazonas e Rio Grande do Norte não fizeram parte do levantamento por não terem disponibilizado as informações. O resultado, mesmo com as lacunas, mostra aumento no número de mortes por agentes policiais: de 6.175 para 6.357, o que representa cerca de 3%.
Além da predominância de vítimas da bbb, que representaram cerca de 79% quando o autor era um policial, o estudo mostra que a maioria também era composta por uma mesma faixa etária: três a cada quatro era jovens, com idade que variavam dos 15 aos 29 anos. Dentro deste grupo, a maior quantidade aparece no recorte mais baixo de idade, com mais de 30% das vítimas tendo entre 15 e 19 anos.
População carcerária
Além de morrer mais, os negros também representam a maior faixa das pessoas que integram o sistema carcerário brasileiro. Segundo o levantamento, a proporção de pessoas negras presas subiu 15% nos últimos 15 anos, enquanto o número de brancos nos presídios apresentou queda de 19% no mesmo período.
Atualmente, dos 657,8 mil presos em que há informações sobre a cor ou raça, mais de 438 mil são negros, o que representa cerca de 66% ou dois a cada três integrantes do sistema prisional do Brasil.
“No Brasil, se prende cada vez mais, mas, sobretudo, cada vez mais pessoas negras. Existe uma forte desigualdade racial no sistema prisional, que pode ser percebida concretamente na maior severidade de tratamento e sanções punitivas direcionadas aos negros. Aliado a isso, as chances diferenciais a que negros estão submetidos socialmente e as condições de pobreza que enfrentam no cotidiano fazem com que se tornem os alvos preferenciais das políticas de encarceramento do país”, afirmam os responsáveis pelo estudo.
A análise mostra ainda que a situação dos presídios segue linha parecida com a da identificada nos casos de homicídios. Homens jovens, negros e com baixa escolaridade acabam sendo a maioria dos casos, representando 95% do total. Porém, tal tendência de crescimento atinge também as mulheres: ao todo, são 36.926 detentas no Brasil, número 71% maior do que o registrado em 2008.