Presos são selecionados para ajudar no combate aos incêndios do Pantanal e realizar outros trabalhos essenciais para diminuir o efeito das chamas que devastam o bioma. A operação é realizada ao longo da Transpantaneira, uma estrada de terra de 150 km, principal via da região, que vai de Porto Jofre a Poconé, no estado de Mato Grosso.
Eliseu dos Santos, preso há dez anos, contou à AFP que se sente triste e ao mesmo tempo orgulhoso do trabalho que estão fazendo. O homem disse que o grupo fez um curso com o corpo de bombeiros, para poder auxiliar no combate ao fogo, resgatando animais e levando suprimentos, como água e alimentos.
“Aqui falta água, alimento, muitos bichos morrendo. É uma tristeza enorme. Me alegro de estar ajudando e ao mesmo tempo me entristeço de ver o que está acontecendo, o que estou vendo com os meus próprios olhos”, diz Santos à AFP.
Assim como os outros dez internos que integram esse programa da Secretaria Adjunta de Administração Penitenciária do Estado de Mato Grosso, esse homem de 54 anos participa voluntariamente. Eles foram escolhidos por estarem na fase final do cumprimento da pena e por apresentarem comportamento exemplar.
Monitoramento
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O policial penal Alex Rondon, chefe da operação, explica que o objetivo desse projeto é a "reintegração à sociedade”.
Nesta operação, os presidiários bombeiam água, apagam as chamas e auxiliam os brigadistas em todas as suas tarefas. Ao mesmo tempo, são monitorados por uma tornozeleira eletrônica e por um grupo de policiais.
Rondon contou à AFP que muitos dos presos buscam a reinserção na sociedade, mas os registros criminais atuam como barreiras para a contratação.
Além de ajudar nas queimadas, o projeto busca apagar esse estigma e fazer com que a sociedade veja que eles estão prontos para conviver novamente. Que possam sair do ambiente pesado da prisão e aos poucos se acostumar a morar em outras áreas, complementa.
Ressocialização
Devido ao seu bom comportamento, Eliseu trabalha durante o dia fora da prisão, há pelo menos cinco anos. De acordo com ele, a recepção da sociedade tem sido um fator indispensável no seu processo de ressocialização.
“Aqui as pessoas nos tratam como seres humanos, como gente, não nos tratam como pessoas do sistema prisional. Só o fato de você ser tratado como ser humano, a cabeça da gente já muda”, relata à AFP.
“Errar é humano. Persistir no erro é burrice. Acho que todo mundo merece uma chance. Se a gente não tem uma chance para ser uma pessoa melhor amanhã, fica mais difícil”, concluiu.