Morador de uma comunidade e integrante da Orquestra de Cordas da Grota, em Niterói, o violoncelista Luiz Carlos da Costa Justino, de 22 anos, voltava de uma apresentação em uma das avenidas da cidade, junto com outros dois músicos, quando foi abordado por policiais, na última quarta-feira, no Centro daquele município. Levado para uma delegacia ainda segurando o seu instrumento musical, Luiz Carlos descobriu que teria de ficar atrás das grades. Em nome dele havia um mandado de prisão, expedido pela 2ª Vara Criminal de Niterói, por crime de assalto .
A vítima o teria reconhecido a partir de uma fotografia. De acordo com o despacho que consta no processo, o crime teria ocorrido às 8h30, no bairro Vila Progresso, no dia 5 de novembro de 2017. Para amigos e a família de Luiz Carlos, o violoncelista foi vítima de um engano . É que no mesmo dia e horário em que o assalto ocorreu, o músico fazia uma apresentação para clientes de uma padaria de Niterói.
A notícia de que o músico pode ter sido vítima de um engano foi publicada, nesta quinta-feira, pelo jornalista Ancelmo Gois, de O Globo. Parentes de Luiz estão em busca de imagens que ajudem a provar a inocência do rapaz. O material deve ser anexado a um pedido para que a prisão seja relaxada.
— Nossa família está destruída com isso tudo. Sabemos que ele não cometeu crime algum. Meu sobrinho está sendo injustamente acusado de uma coisa que não fez. Na época, tínhamos um contrato para fazer apresentações na padaria, aos domingos, sempre entre as 8h e ao meio-dia. O que eu posso dizer é que o Luiz é uma pessoa apaixonada por música, que sonha em ter uma banda instrumental e que é pai de uma menina de 3 anos — disse Leandro Justino, também músico e tio do rapaz.
Segundo dados do processo, que tramita na 2ª Vara Criminal, o crime que originou o mandado de prisão ocorreu na Avenida Nélson Oliveira da Silva, a pelo menos nove quilômetros de distância onde o músico estaria se apresentando. Na ocasião, três homens armados renderam uma pessoa.
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A vítima ficou sem um celular, cerca de R$ 170 e documentos pessoais. Procurada para comentar o assunto, a Polícia Civil informou o músico foi preso por policiais militares e que foi encaminhado para a76ª DP (Niterói). Ainda de acordo com a polícia, o inquérito que originou o mandado de prisão foi concluído com base em provas colhidas na investigação. O violoncelista já deixou a carceragem da 76ª DP. Ele foi levado para a cadeia pública José Frederico Marques, em Benfica, na Zona Norte do Rio.
Considerada a porta de entrada do sistema penitenciário, a unidade serve como triagem até que os internos sejam transferidos para outros presídios do estado.
Luiz Carlos da Costa Justino foi levado por parentes para a Orquestra da Grota, quando ainda tinha apenas 6 anos de idade. O então menino franzino se apaixonou pelo violoncelo, apreendeu a tocar o instrumento, e daí para frente não parou mais. Luiz é descrito por Márcio Selles e por Paulo de Tarso Ferreira, respectivamente maestro e presidente da orquestra, como sendo um rapaz talentoso que sonha em ter uma banda que misture o erudito com o popular.
"Ele está com a gente desde criança. Tem a formação educacional da família, da orquestra e da escola. O Luiz Carlos tem paixão pela música e pelo Flamengo e é extremamente talentoso. O sonho dele é ter uma banda que misture o erudito com o popular", disseram Márcio e Paulo de Tarso.
A Orquestra de Cordas da Grota é um projeto social que teve início na década de 80. O objetivo é o de contribuir para o desenvolvimento pessoal de quem se encontra em situação de vulnerabilidade, através da identificação e potencialização de talentos e vocações, construção de capacidade artística, profissionalização e inserção no mercado de trabalho.
A orquestra conta com participantes em quatro níveis. São eles pré-iniciante, iniciante, intermediário e adiantado. Segundo o maestro Márcio Selles, o violoncelista é integrante do nível mais avançado da orquestra.