Um dia após perder seu filho Kauã Vitor da Silva, de 11 anos, morto com um tiro na cabeça, a ambulante Alexandra Silva, de 25 anos, diz que sua vida foi destruída. O menino foi atingido na madrugada desta quinta-feira por um tiro supostamente acidental disparado por um adolescente de 12 anos, recém-cooptado para atuar como olheiro do tráfico na comunidade Vila dos Pinheiros, no Complexo da Maré.
"Não estou em condições de falar. Minha vida foi destruída e nada do que eu disser vai adiantar. Não vai trazer meu filho de volta", desabafou Alexandra.
A Delegacia de Homicídios (DH) da capital investiga a informação de que o jovem que atirou foi morto por traficantes locais após o crime. A DH diz que vai indiciar pela morte de Kauã o chefe do tráfico local, Thiago Folly da Silva, o TH, de 31 anos. O indiciamento de TH, segundo o delegado titular da Delegacia de Homicídios, Daniel Rosa, será feito dentro do princípio da teoria do domínio final do fato.
"Ou seja, o criminoso chefe (da organização criminosa) daquela comunidade responde por todos os crimes ocorridos na região", disse o delegado na quinta-feira.
O Disque-Denúncia oferece uma recompensa de R$ 1 mil por informações que levem à captura de TH. A ficha criminal do traficante é extensa e inclui, além de tráfico de drogas, homicídios, roubos e corrupção de menores.
O único depoimento tomado até agora foi o de uma tia de Kauã que forneceu aos policiais da DH o apelido do jovem atirador. Ela não presenciou o crime, mas disse que Kauã foi levado às pressas para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da região e depois encaminhado para o Hospital Municipal Souza Aguiar, onde morreu na manhã de quinta-feira. O menino foi atingido à queima roupa por uma bala de pistola calibre 380.
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Ela contou ainda que seu sobrinho conhecia o atirador e que o encontrou quando brincava em frente à sua casa, na Rua Projetada 1.
A DH está tendo dificuldades em encontrar testemunhas do crime. E pediu na quinta-feira para quem tiver informações sobre o caso Por que que ligue para o telefone 2333-6393. O anonimato será garantido.
O corpo de Kauã será sepultado nesta sexta-feira no Cemitério do Caju sem velório formal. Haverá uma breve homenagem e orações pelo garoto dentro do cemitério e não em capela.
A Delegacia de Homicídios informou que pretendia realizar na quinta-feira ou nesta sexta-feira a perícia de local. Mas foi orientada a suspender a ação por conta de decisões judiciais que impedem operações policiais em comunidades. Uma é do ministro Edson fachin do Supremo Tribunal Federal (STF), proibindo ações policiais em comunidades carentes no período de pandemia. A outra é do Juizado da Infância, da Juventude do Idoso que pede o sobrevoo de helicópteros blindados em comunidades num raio de 2 km de distância de escolas e creches, ainda que fechadas, e hospitais.
Para realizar a perícia e uma reprodução simulada, a DH sustenta que precisaria de um forte aparato policial para ingressar numa comunidade conflagrada.