Moradores vizinhos à casa onde Fabrício Queiroz foi preso na manhã desta quinta-feira (18) disseram que tanto ele como os caseiros tinham uma rotina discreta, mas que faziam churrascos frequentemente. A psicóloga Alba D' Ávila, de 38 anos, que mora na casa vizinha ao imóvel conta que eles costuvam assar carnes no quintal. Ela lembra que, além do caseiro, um homem calvo também participava. A moradora não sabe dizer se era Queiroz .
"Pode ser que eu tenha visto (Queiroz), mas nunca iria ligar o nome à pessoa", diz ela, lembrando que todos na casa onde estava Queiroz evitavam muita conversa com a vizinhança.
Apesar de viver há um ano na casa do advogado Frederick Wassef , Queiroz parece ter passado mesmo despercebido por vizinhos no bairro Jardim dos Pinheiros, em Atibaia, interior paulista. Os moradores da rua dizem que viam pouca movimentação no imóvel, uma casa ampla com um grande gramado na frente.
"Foi uma surpresa para gente ele estar escondido aqui", conta a dona de casa Aline Pinheiro, 33 anos, moradora de um sobrado em frente à casa que servia como escritório de Wassef.
Ainda segundo Aline, que mora há dois anos no bairro, apenas os caseiros eram vistos entrando e saindo do local.
"Uma mulher costumava lavar a calçada e um homem cuidava do jardim", disse a moradora da rua.
Você viu?
Outros vizinhos também afirmam nada ter visto. Um homem reponsável por uma obra em frente à casa disse que até quarta-feira um carro da marca Palio estava estacionado em frente ao imovel do advogado. Em seguida, ele conta ter visto o veículo entrando na casa.
Havia nesta quinta-feira na garagem um Honda Acord. Localizado às margens da rodovia D. Pedro, o bairro Jardim dos Pinheiros tem casas amplas e ruas com pouco movimento. Na entrada do bairro, há um lago. A região fica a cinco minutos de carro do centro de Atibaia. Muitas casas são usados como refúgio de fim de semana por famílias que vivem em São Paulo. Atibaia é também a cidade onde o ex-presidente Lula é teria recebido um sítio em forma como propina de empreiteiros envolvidos em esquemas fraudulentos em seu governo. Lula nega a propriedade do imóvel.
Cartaz do AI-5
Sobre a lareira da casa onde Queiroz foi preso, a polícia de São Paulo encontrou um pequeno cartaz com um desenho da bandeira do Brasil e a mensagem “ AI-5 ”. Trata-se de menção ao Ato Institucional decretado em 1968 pelo governo militar, que resultou no fechamento do Congresso Nacional, cassou mandatos e suspendeu o direito a habeas corpus para crimes políticos, entre outras medidas que suspenderam garantias constitucionais.
Em entrevistas nos últimos dois anos, o filho do presidente Jair Bolsonaro , Eduardo Bolsonaro, sempre insinua o governo federal deve considerar a adoção de medida semelhante caso a oposição ao governo “se radicalize”. Ainda não está claro se o cartaz com a mensagem foi levado à casa de Atibaia por Queiroz ou pelo proprietário do imóvel, Frederick Wassef, que é o advogado do presidente Jair Bolsonaro e de seu filho, Flávio Bolsonaro.
Além do cartaz, também enfeitavam a lareira bonecos em miniatura do mafioso Tony Montana, protagonista do filme “ Scarface ”. Em imagem de 2011 da fachada da casa, há um enfeite na porta com a inscrição “Sonho Meu”.
Imóveis em Atibaia
A família de Wassef possuiu vários imóveis na cidade de Atibaia, inclusive um comprado pela Prefeitura em 2003 para a construção do Fórum do município. De acordo com pesquisa nos cartórios da cidade, a família adquiriu três lotes no Jardim dos Pinheiros, onde fica a casa em que o ex-assessor de Flávio Bolsonaro estava escondido.
As aquisições foram feitas separadamente: uma em 1987, outra em 1992. Em setembro de 2018, Frederick Wassef adquiriu mais um lote na região. A maior propriedade da família na região, entretanto, foi vendida em 2010 à TBA Holding por mais de R$ 2,9 milhões.
A empresa, hoje chamada Drexell, era de propriedade da ex-esposa de Wassef, Maria Cristina Boner Leo. Bem-sucedido, Wassef também tem outras propriedades no estado de São Paulo: na capital, em Campos do Jordão e em São José dos Campos. Este último foi comprado em novembro de 2019, por R$ 222 mil.O GLOBO procurou Wassef nesta quinta, mas ele não atendeu os telefonemas.