Depoimentos de testemunhas do homicídio do adolescente João Pedro Mattos Pinto, de 14 anos — baleado durante operação conjunta das polícias Civil e Federal no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo —, contradizem as versões dos três policiais civis investigados pelo crime. Enquanto os agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) alegaram que não sabiam que havia crianças na casa quando fizeram disparos no local, as pessoas que testemunharam o crime afirmam que os agentes já tinham visto os adolescentes deitados, tentando se proteger, quando atiraram.
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Uma testemunha afirmou, em depoimento ao Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaesp) do Ministério Público do Rio, que o grupo de adolescentes estava na sala da casa quando os policiais invadiram o local pela portão da frente. Os amigos haviam acabado de entrar na área coberta do imóvel, porque ouviram tiros e se sentiram expostos no quintal.
De acordo com a testemunha, a partir do momento em que os policiais passaram pelo portão, já era possível ver o grupo de adolescentes deitados na sala — a porta e a janela do cômodo, que dão para a parte da frente do terreno, são de vidro. Tanto os jovens podiam ver os policiais quanto os agentes também os viam, segundo o depoimento.
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A testemunha também alega que vários amigos de João Pedro tentaram se comunicar com os policiais. Alguns gritavam que havia crianças no local, outros pediam socorro. De acordo com o depoimento, os policiais também conseguiam ouvir o que os jovem falavam. O tiro que atingiu João Pedro foi disparado em seguida, quando o grupo corria para se esconder nos quartos da casa. Depoimentos prestados por outras testemunhas que estavam no local descrevem a mesma cena. Nenhum dos relatos cita a presença de traficantes armados em fuga no imóvel.
Os relatos dos policiais são completamente diferentes. Nenhum dos três afirma ter visto ou ouvido os adolescentes. Todos dizem ter visto traficantes armados no quintal da casa, fugindo em direção aos fundos do imóvel. Os agentes afirmam ter sido atacados e responderam os disparos. Eles dizem só ter visto o grupo de amigos — e percebido que havia um adolescente baleado — após o final do confronto, quando dois dos agentes entraram na casa pelos fundos para fazer buscas.
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Granadas com os agentes
As testemunhas ouvidas pelo MP acusaram, em seus depoimentos, os policiais civis de terem lançado granadas no quintal da casa. Uma delas diz ter visto o momento em que os agentes jogaram granadas num corredor ao lado da casa e na frente do imóvel.
O agente Mauro José Gonçalves, em seu primeiro depoimento, no dia do crime, alegou que viu um dos traficantes arremessar uma granada no quintal. Num segundo relato, ele apenas relatou ter ouvido uma explosão no momento em que entrou na casa. Os outros dois policiais não dizem ter visto traficantes lançando granadas. Um deles, no entanto, afirma ter encontrado duas granadas perto do muro por onde os supostos traficantes teriam fugido. Segundo os policiais, um terceiro explosivo foi encontrado no mato aos fundos do imóvel. Todos alegam que as granadas pertenciam aos traficantes.
Após a apreensão, um dos agentes investigados foi nomeado pelo próprio delegado que investiga o crime como responsável por levar os explosivos para a perícia. Quem periciou as granadas — que não haviam sido detonadas, estavam intactas — foi o Esquadrão Antibombas da Core, unidade onde os agentes são lotados.
A Defensoria Pública do estado, que representa a família do adolescente, defende que, como policiais civis são investigados, o inquérito deveria ser conduzido por um órgão independente. Por isso, amigos e parentes de João Pedro foram apresentados para prestarem depoimentos ao MP.
A Polícia Civil chegou a intimar parentes do menino. A família, entretanto, não compareceu na Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí. Os depoimentos a promotores do Gaesp foram prestados dos dias 1º a 3 de junho. Além do inspetor Mauro Gonçalves, os outros policiais investigados são Maxwell Gomes Pereira e Fernando de Brito Meister.
Relembre o caso
De acordo com o laudo cadavérico, João Pedro foi baleado pelas costas e morto com um tiro de fuzil, de mesmo calibre que a arma utilizada pelos policiais. O caso ocorreu na noite de 18 de maio, enquanto o rapaz brincava com os amigos no quintal da casa do tio, na Praia da Luz, no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio, durante uma operação conjunta das polícias Civil e Federal.
Segundo os amigos do adolescente, que testemunharam o crime, o grupo correu para dentro da casa quando policiais arrombaram o portão e invadiram a casa atirando. No imóvel, a perícia encontrou mais de 70 marcas de tiros espalhados por três cômodos — a maior parte deles feitos de fora para dentro.
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Os três policiais civis investigados pelo homicídio mudaram as versões que deram sobre a quantidade de tiros que dispararam no dia do crime. Um deles só entregou o fuzil para a perícia uma semana depois do crime e ficou com material apreendido na operação. Os agentes ainda alteraram a cena do crime, retirando cartuchos da casa antes da chegada da perícia.