A história recente do Brasil passa por um endereço no bairro Santa Cândida de Curitiba, a sede da Superintendência da Polícia Federal.
O prédio serviu de prisão para o ex-presidente da República Lula por 580 dias e de lá foram cumpridos centenas de mandados de prisão, busca e apreensão dentro da operação Lava Jato . Muitos deles, inclusive, ordenados pelo então juiz Sergio Moro, que neste sábado presta depoimento no local.
Mas por que Moro foi fazer o depoimento na mesma Superintendência da Polícia Federal? O advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, explica que o fato de Sergio Moro residir em Curitiba foi decisivo.
Sergio Moro em Curitiba: o que já se sabe sobre o depoimento
Moro já estava na capital paranaense na quinta-feira (30) quando o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que o ex-ministro deveria ser ouvido em cinco dias
.
"Nesses casos, existe um acordo entre a Polícia Federal e o advogado (de quem vai depor). Poderia ser em Brasília, mas já sabiam que o Moro reside (em Curitiba)", afirma Kakay.
Segundo o advogado, não é irregular a definição do local, mas lembrou que houve um " custo para o erário" já que os responsáveis em colher o depoimento viajaram de Brasília para Curitiba. São três procuradores da república que foram designados pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, para acompanhar a oitiva.
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Para Kakay, a presença de Moro no prédio da Polícia Federal não é confortável para ele. "É possível fazer essas duas avaliações. Primeiro que ele se sente mais à vontade em Curitiba. Mas eu vejo um simbolismo negativo porque ele, que era, ou se comportava, como um chefe da força tarefa (da Lava Jato), e agora está entrando como investigado em um inquérito", avalia o advogado.
Inquérito "diferente" que deve gerar denúncia
Na avaliação de Kakay, o inquérito aberto por Augusto Aras é "diferente" da grande maioria porque não existe chance de arquivamento . "É muito difícil um inquérito assim", acrescenta.
"A maioria dos inquéritos abertos pode ser arquivada. Como o (Augusto) Aras já diz no pedido de abertura do inquérito que quem fez denúncia e não prova comete crime também, alguém deve ser denunciado no final da investigação", avalia.
Para Kakay, a presença dessa informação no pedido de abertura do inquérito, quando ocorre uma denúncia, é " incomum " e sinaliza para um risco a Sergio Moro."Tanto que o Moro já declarou que se sentiu intimidado pelo Aras. Para mim, o alvo deve inquérito é só um: Sergio Moro", declara.
Ele explica que Moro, nesse momento, é visto como investigado e na conclusão do inquérito, o procurador geral deve apresentar uma denúncia contra o presidente Jair Bolsonaro, caso Moro prove que ele tentou interferir na polícia federal ou contra Sergio Moro, caso a denúncia não se comprove.
"Tem uma terceira possibilidade que é a mais interessante na minha avaliação, que é de duas denúncias, contra Bolsonaro e Moro", declara Kakay.
O advogado explica que caso o ex-ministro não consiga comprovar que as tentativas do presidente de interferir na Polícia Federal em outras ocasiões, e essa tentativa tenha sido reiterada
, ele pode chegar ao ponto de ser indicado como co-autor. "De acordo com as provas que Moro apresente, ele pode se colocar em um círculo de giz
", declara o advogado.