O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB) disse que tanto ele quanto o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), fracassaram ao implementar medidas de distanciamento social na capital e no estado.
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Segundo o Ministério da Saúde, o Amazonas é o que tem a maior taxa de incidência da doença em todo o Brasil. São 5.224 casos confirmados e 425 mortes. Segundo Arthur, Manaus vive hoje "cenas de filme de terror".
Em entrevista ao Globo, o prefeito criticou a velocidade da ajuda do governo federal à cidade, dissse que parte da responsabilidade pela não adesão da população ao distanciamento é do presidente Jair Bolsonaro e que, se nada mudar, vai recomendar a Lima que decrete o chamado "lockdown", que implica no fechamento total de todas as atividades comerciais da cidade e o confinamento das pessoas em suas casas. Além disso, ressaltou que o pico da doença deve acontecer na segunda semana de maio.
Questionado se o Amazonas tem condições, hoje, de sair sozinho da crise de saúde, Virgílio foi enfático: "não. Sem o governo federal nos ajudar, não temos como sair dessa crise. Tem que ter uma presença federal muito forte, que a gente não vem percebendo".
Sobre uma possível intervenção federal, Virgílio afirmou não querer "entrar em atrito com o governo do estado" e que a situação pode ser resolvida se o Governo Federal mandar o que o Amazonas precisa, algo que ainda não aconteceu.
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"Na área da saúde , está horrível. Eu não vi nada, ainda. Estamos aguardando ansiosamente a chegada de aviões Hércules das Forças Armadas com EPIs, respiradores, macacões, insumos que a gente precisa para atender a gente. Está faltando medicamento. Nós estamos racionando remédios. Na época do (ex-ministro da Saúde Luiz Henrique) Mandetta, ele até se fazia presente, mas agora, minha esperança é que o general (Eduardo Pazuello), que conhece a região, possa nos ajudar. Eu estou preocupado porque vi um vídeo com o atual ministro (Nelson Teich), no qual ele fala sobre um dilema entre ajudar um idoso ou um jovem. Eu fico me perguntando: será que vamos ter que chegar a esse ponto e ter que dar ao médico o poder de Deus para escolher quem vive e quem morre?", afirmou.
Sobre a situação do serviço funerário na cidade, o prefeito falou em "cenas de filme de terror" e disse não saber se o aumento do número de mortes se deu por automedicação, por falhas de atendimento ou se por acreditarem, como disse o presidente Bolsonaro, que "era só uma gripezinha".
"Essa situação pegou todo mundo de surpresa. Estávamos numa crise entre parentes de vítimas e os coveiros porque muitos deles estavam trabalhando e caíram doentes. Estão fazendo um trabalho hercúleo. Reforçamos o número de equipes que estão trabalhando lá e colocamos tendas com padres e pastores para darem conforto às famílias. Antes dessa epidemia, a gente enterrava 30 pessoas por dia, em média. Ontem (segunda-feira), enterramos 142, das quais 28% morreram em casa. É quase um terço. É um negócio sinistro, mesmo. A gente está vendo cenas de filme de terror".
Questionado sobre a baixa adesão ao isolamento social, Virgílio citou um "fator cultural" como problema e que nas periferias as pessoas estão dizendo que o Covid-19 é "doença de rico" e que não pega em pobre, mesmo que estejam vendo as pessoas morrendo. Além disso, admitiu um fracasso da Prefeitura e do Governo do Estado nesta questão.
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"Outro fator é a pregação do presidente Jair Bolsonaro contra essas medidas. Ele diz que precisamos salvar a economia, mas nunca vi salvar a economia com gente doente. Fracassamos perigosamente. Por isso que vamos, ainda nesta semana, dar início a uma campanha de mídia pesada para tentar convencer as pessoas a aderirem ao isolamento. Se nada mudar, eu vou recomendar ao governador que decrete a quarentena, o chamado lockdown. Fecha tudo. Radicalizar mesmo. Vamos salvar as pessoas mesmo que elas não queiram ser salvas. Lá na frente, elas vão poder avaliar se tomamos as medidas certas ou não. Mas primeiro elas precisam estar vivas", finalizou.