O começo desta semana será decisivo para Manaus. Após completar sete dias seguidos com mais de 100 óbitos por dia, a capital do Amazonas vê o colapso no sistema funerário se intensificar. E o prazo para evitar que faltem caixões para os mortos fica ainda mais apertado.
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Na última sexta, o sindicato das empresas funerárias do Estado do Amazonas alertou para o fato de que o estoque de caixões só seria capaz de atender a alta demanda provocada pelo coronavírus por mais dez dias. No entanto, com cerca de 600 urnas ainda à disposição, o presidente da entidade Manuel Viana se viu obrigado a rever esta conta.
"Nós temos entre 500 e 600 caixões no estoque. Com mais de cem enterros diários, não vai durar mais do que cinco dias", afirmava a nota.
Com a situação cada vez mais dramática, duas frentes de negociação são a esperança do setor. Numa delas, a Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário (Abredif) negocia com o Governo Federal a cessão de um ou mais aviões cargueiros para transportar 2 mil caixões de Campinas para Manaus. Neste domingo, em resposta a um contato da Secretaria Especial de Articulação Social, a entidade encaminhou um ofício no qual detalha a quantidade e as dimensões das urnas. Agora, aguarda por uma resposta urgente.
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"Se esta operação não for possível, temos que enviar as urnas por caminhão no máximo na terça-feira. E ainda assim não chegarão a tempo. Porque o caminhão leva 11 dias para chegar a Manaus", conta Lourival Panhozzi, presidente da Abredif.
Em outra tentativa, Manuel Viana busca uma ajuda do Acre. Segundo ele, membros do governo estadual tentam disponibilizar um avião para buscar as urnas funerárias em Campinas.
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40 enterros na fila de espera
A falta de caixões já não é o único sintoma do caos funerário na capital do Amazonas. Com a alta demanda por sepultamentos, a força de trabalho atual já dá sinais de esgotamento. E o serviço se acumula. De acordo com Viana, o cemitério do Tarumã abrirá nesta segunda com uma fila de 40 enterros. A espera irrita os parentes, que já vem de um processo desgastante para obter a liberação dos corpos dos hospitais.
"É como se você tivesse uma loja com estrutura para atender três pessoas por vez. E de repente essa demanda aumenta. Os funcionários começam a cansar", compara.
Um episódio ocorrido neste domingo (26) ilustra bem como a situação saiu do controle. Cansada de aguardar o sepultamento, uma família solicitou ao motorista do carro funerário que levasse o cadáver até a cova. Como ainda não estava na vez deles, não havia fiscal e nem coveiros. Irritados, decidiram enterrar por conta própria o parente.
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Vala comum em três andares
Para tentar solucionar ou ao menos minimizar o caos, a Prefeitura de Manaus adotou duas medidas. Uma delas é a disponibilização de cremação gratuita . O serviço está disponível desde sábado. Mas, como não não há esse hábito na cidade e a informação ainda não chegou ao conhecimento de todos, a adesão ainda é ínfima. No primeiro dia, apenas quatro corpos foram cremados. As famílias que aceitam são convencidas no momento em que tentam dar entrada no processo de sepultamento.
Outra medida terá início nesta segunda, quando os enterros passarão a ocorrer em camadas triplas. As trincheiras, como são chamadas as valas comuns, passarão a ser mais profundas de modo que caibam três fileiras de caixões uma sobre a outra.
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Todo este cenário é decorrente da enorme quantidade de sepultamentos diários. Na última semana, foram 847 sepultamentos de acordo com a prefeitura. A média é de 121 a cada 24 horas. Destes, no entanto, apenas 57 tiveram a Covid-19 como causa da morte. Uma diferença que mostra o tamanho da subnotificação no Estado do Amazonas .