Moradora de Mesquita, na Baixada Fluminense, foi encaminhada para Volta Redonda
Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Moradora de Mesquita, na Baixada Fluminense, foi encaminhada para Volta Redonda

A alta demanda por vagas para internações de pacientes com sintomas de coronavírus já afeta o atendimento em hospitais no Rio. Uma aposentada de 69 anos, internada com suspeita de Covid-19 no Centro de Emergência Regional (CER) Centro, que fica ao lado do Hospital Municipal Souza Aguiar, foi transferida nesta quarta-feira para uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Regional Zilda Arns, em Volta Redonda, no Sul Fluminense.

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Referência no tratamento de pacientes graves com a doença, o hospital fica a 102 quilômetros de distância do local onde a idosa mora, em Mesquita, na Baixada Fluminense, cidade que não tem um único leito de isolamento sequer.

E ela não foi a única. Dos mais de 40 pacientes que estão em Volta Redonda com sintomas da doença, 37 foram transferidos da Região Metropolitana do Rio (incluindo Baixada, São Gonçalo e Niterói). Até ser transferida, no entanto, a idosa passou por um total de quatro unidades de saúde. No dia 1º de abril, com sintomas como dores nas costas, infecção urinária e moleza, ela foi medicada no Hospital Juscelino Kubitschek, em Nilópolis, cidade vizinha a Mesquita. Lá, segundo sua família, fez exames de sangue e urina e teria sido orientada a procurar um hospital de grande porte.

Na quarta-feira, a aposentada foi levada por parentes para o Hospital Albert Schweitzer, em Realengo. Recebeu soro, fez novos exames e voltou para casa. Dois dias depois, voltou a passar mal. Com diarreia, tosse, vômitos e dificuldade para caminhar, a paciente foi levada por parentes para o Hospital Souza Aguiar, no Centro do Rio. Ela foi submetida a uma tomografia computadorizada e raio x e encaminhada para o CER, onde foi internada.

"Ela ficou na sala vermelha. Estava com cansaço para respirar e ficou no respirador artificial. Quando voltei no sábado para a visita, ela tinha piorado e havia sido entubada. Disseram que o estado era grave, que os exames detectaram gordura no fígado e rins e que a tomografia e o raio X mostraram manchas pretas no pulmão. Ali, me comunicaram da suspeita de coronavírus, que ela havia feito o teste para doença e que precisava ir para um hospital de referência", disse um parente da idosa.

Nesta quarta-feira, ao chegar no CER, o familiar da aposentada recebeu a notícia de que ela seria transferida para um hospital em Volta Redonda.

"Disseram que o sistema de regulação conseguiu vaga pra lá. Que eu poderia até recusar, mas que, se fizesse isso, ela voltaria para o fim da fila das transferências. Eu autorizei. Se ela estiver mesmo com coronavírus, vai ser bem tratada lá, como foi no CER. Sei que será difícil ir lá, pois é longe. Mas a gente vai tentar arrumar recursos. Nem que eu tenha de ficar na casa de parentes que moram mais próximos daquela região", disse.

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Ele chegou a ver uma ambulância saindo da UTI. Foi o último contato que teve com a idosa.

"Vi só os pés dela. Me disseram que lá em Volta Redonda eu não poderei entrar, e que terei de ficar só na recepção. Ela é fumante. Tenho esperança que não seja coronavírus. Talvez a mancha no pulmão tenha sido causada pelo cigarro. Botei tudo nas mãos de Deus", concluiu o familiar.

Esgotamento precoce

Para o vereador e médico Paulo Pinheiro, integrante da comissão de saúde da Câmara Municipal do Rio, a transferência de uma paciente para uma UTI em Volta Redonda é sinal do precoce esgotamento de vagas deste tipo em hospitais da Região Metropolitana, antes mesmo de o Rio atingir o ápice da pandemia.

"Lógico que é melhor salvar vidas transferindo um paciente, mesmo que para longe, do que deixar de fazer o atendimento. Quando chegam demandas deste tipo no Souza Aguiar, por exemplo, a indicação de vaga vai para o Instituto do Cérebro, no Centro, ou o Ronaldo Gazolla, em Acari. O que aconteceu, no caso da paciente que foi para Volta Redonda, é que as vagas de UTI na Região Metropolitana possivelmente estão se esgotando ou já se esgotaram. Isso preocupa", disse.

O Hospital Zilda Arns foi inaugurado em 2018 e vinha funcionando com só 20% de sua capacidade por falta de equipamentos. Ele passou por pequenas reformas e foi equipado especialmente para atender pacientes com Covid-19. No último dia 24 de março, a unidade começou a funcionar como referência para coronavírus. Na ocasião, o secretário estadual de saúde, Edmar Santos, esteve na unidade para fazer a entrega oficial de 180 leitos, ampliados uma semana depois para 209. Todos são equipados com respiradores e monitores, adequados para atendimentos de pacientes graves.

O que dizem as Secretarias de Saúde

Procurada para falar sobre a transferência da aposentada do Rio para Volta Redonda, e perguntada se outros pacientes já haviam sido transferidos da Região Metropolitana, a Secretaria de estadual de Saúde (SES) informou que um total de 49 pacientes estão internados no Hospital Zilda Arns, uma das referências no estado para tratamento da doença.

Destes, 37 pacientes foram transferidos de hospitais da Região Metropolitana do Rio para Volta Redonda. Segundo a SES, a transferência da idosa ocorreu após a vaga ser encontrada pela Central de Regulação de Vagas, que analisou o perfil da gravidade do caso e a indicação do primeiro leito disponível, naquele momento, para a paciente.

Também procurada, a Secretaria municipal de Saúde informou que a paciente foi submetida ao exame de swab para coronavírus, além de tomografia e exames laboratoriais, durante a internação no CER Centro. E que foi transferida para um leito em unidade de referência para a doença, em Volta Redonda.

Já a Secretaria de Saúde de Nilópolis informou que a paciente foi atendida no hospital municipal no dia 1º de abril, e que não apresentava febre e infecção. Segundo a Secretaria de Saúde, ela tinha complicações renais e teria sido orientada a fazer uma exame de imagem, mas teria se recusado a se submeter ao exame por medo do coronavírus.

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