O estudante Carlos Paulo Falcão, de 21 anos, acusa um centro comercial no bairro de Alcântara, em São Gonçalo, de injúria racial por ter sido abordado de forma discriminatória na tarde da última quarta-feira. O estudante, que cursa Relações Internacionais na UFRJ, tinha ido ao estabelecimento, às 14 horas, para comprar alguns itens na Lojas Americanas Express do local.
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Ao tentar entrar na loja, o jovem, negro, que estava vestindo um moletom da universidade, uma durag (tipo de bandana) e usava uma máscara no rosto para se precaver contra a pandemia do novo coronavírus, foi abordado de forma agressiva por um segurança do centro comercial que lhe disse que era proibido usar o capuz de seu moletom na loja.
A Lei Nº 6717 realmente proíbe o ingresso ou permanência de pessoas que utilizam capacete ou qualquer tipo de cobertura que oculte a face em prédios, públicos ou privados, que funcionem em sistema de condomínio. Porém, o texto também deixa claro que bonés, capuzes e gorros não se enquadram na proibição se não estiverem escondendo o rosto da pessoa. Além disso, o uso de máscaras pela população durante a pandemia de Covid-19 no Estado, que realmente ocultam parte da face, tem sido um aconselhamento da própria Secretaria de Estado da Saúde, se tornando cada vez mais comuns pelas ruas e locais que ainda podem seguir em funcionamento.
"Ele me constrangeu porque gritou comigo no meio da loja . Depois, eu voltei lá com os meus pais e eles ficaram todos indiferentes. A gerente da loja só me perguntou se eu queria um pedido de desculpas e me pediu para ligar para o SAC. Não souberam contornar o problema", disse o estudante .
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Carlos Paulo, que se sentiu vulnerável por estar usando máscara , chegou a fazer um registro de ocorrência online, mas foi informado pelo sistema que o caso não se enquadra como um fato policial:
"Fiquei muito mal na hora, mas, infelizmente, estou acostumado. A gente vai criando uma casca, mas temos que parar de achar que nós, pretos , somos de ferro, não é? É muito desgastante. Queria que isso não tivesse acontecido. Só quem é (negro), entende".
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A discriminação de pessoas negras por estarem usando máscaras no rosto durante a pandemia do novo coronavíru tem sido uma das questões levantadas pelos coletivos Brasil afora. Em São Paulo , a produtora da Perifacon Andreza Delgado postou, em seu twitter, que um de seus voluntários do projeto de cestas básicas foi parado pela polícia por conta da máscara de tecido que estava no rosto.
Nos Estados Unidos, a questão tomou maior visibilidade após o professor de economia Trevor Logan, da Universidade de Ohio, dizer que não seguiria a recomendação de utilizar máscaras para não ser visto como um ato criminoso ou ilegal.