Montagem do hospital de campanha no estádio Célio de Barros, ao lado do Maracanã
Gabriel Monteiro / Agência O Globo
Montagem do hospital de campanha no estádio Célio de Barros, ao lado do Maracanã

O novo coronavírus já atinge mais da metade dos bairros do Rio e avança em ritmo acelerado na zona norte, que concentra 42% dos moradores da capital. De terça (31) para quarta (1º), a região, onde ficam grandes complexos de favelas, como Maré, Alemão e Lins, teve um aumento de 32,5% de casos, passando de 86 para 114.

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Na zona sul do Rio , que lidera em quantidade de confirmações e onde surgiram os primeiros contaminados, os registros cresceram, no mesmo período, 6,3%, passando de 301 para 320. Já na zona oeste, a evolução foi de 132 para 150 casos (variação de 13,6%). No total, de acordo com informações atualizadas ontem pela Secretaria municipal de Saúde, a cidade tem 697 diagnósticos confirmados, espalhados por 87 de seus 162 bairros.

O bairro com o maior número de casos confirmados na Zona Norte é a Tijuca. Rodeada por morros — Borel, Formiga, Salgueiro e Turano —, a área concentra 19 registros. Em seguida, aparecem Vila Isabel, com 11 confirmações, e Méier, com nove. Na Zona Sul, a maior parte está no Leblon, com 60. Em Copacabana, onde fica maior concentração de idosos, são 53. Na Zona Oeste, a Barra tem 86.

O último boletim confirmou o primeiro caso da doença no Complexo do Alemão, que tem uma das maiores densidades demográficas da cidade e o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Também há doentes em pelo menos outras seis comunidades: Cidade de Deus, Mangueira, Parada de Lucas, Vidigal, Manguinhos e Vigário Geral. A evolução do vírus nas favelas é, na opinião de especialistas ouvidos pelo GLOBO, o maior desafio a ser enfrentado pelas autoridades daqui em diante.

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A Secretaria estadual de Saúde informou que até esta quarta-feira 832 casos estavam confirmados, além de 28 óbitos em todo o estado. O órgão ressaltou que 49 mortes estão em investigação.

Os bairros que concentram populações com menor poder aquisitivo devem ser, na opinião de Edimilson Migowski, infectologista da UFRJ, alvos de maior atenção por parte das autoridades sanitárias.

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"Tivemos uma primeira onde forte de casos na Zona Sul e na Barra por conta das pessoas que trouxeram o vírus de fora do país. A partir do momento em que se toma medidas de restrição, as pessoas com melhores condições socioambientais tendem a ter mais facilidade de se confinar e reduzir o contato com outras pessoas. Já nos lugares com IDH mais baixo, onde famílias grandes dividem casas pequenas, e muitos dependem do trabalho externo para tirar o sustento do dia a dia, o isolamento é uma barreira maior a ser vencida", avalia o especialista.

Para Juliana Cortines, professora do Departamento de Virologia do Instituto de Microbiologia Paulo de Gois, da UFRJ, a primeira preocupação das autoridades em relação às comunidades deve ser a regularização do fornecimento de água.

"Uma das coisas mais importantes neste momento é a higiene. Lavar as mãos, os alimentos e objetos que venham de fora de casa. Isso está fora do alcance de moradores de várias comunidades que têm problemas de acesso à água e também não conseguem álcool em gel. O poder público precisa ajudá-las com urgência", diz a professora.

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Segundo a especialista, o isolamento social é um grande desafio para a população de baixa renda: "como cientista, não tenho dúvidas de que a solução está no isolamento social. Mas a gente sabe que essa não é uma realidade plausível para muitos moradores de comunidades, que ficam divididos entre a necessidade de sair para ganhar o sustento do dia ou ficar em casa para evitar o risco de contágio. Uma possível solução para isso seria agilizar a ajuda do governo federal, que está demorando para sair. Essas pessoas têm fome e têm pressa".

Sensibilizar os moradores sobre a necessidade do confinamento tem sido o desafio do presidente da Associação de Moradores do Morro do Salgueiro, Walter Rodrigues. Há duas semanas, o líder comunitário se desdobra em iniciativas para convencer as pessoas a permanecerem em casa.

"Os mais idosos estão preocupados e mais conscientes dos riscos, mas não vejo essa mesma responsabilidade entre os jovens, que podem acabar sendo vetores da doença para seus pais e avós. Conseguimos parar os bailes funk e as rodas de pagode, e adiamos um campeonato de futebol. Mas ainda tem muita gente na rua, principalmente nos finais de semana", lamenta.

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A lista dos bairros da zona norte com casos confirmados da Covid-19 traz ainda Grajaú, Inhaúma, Maracanã, Pavuna e Rio Comprido, todos com três casos cada. Andaraí, Cachambi, Coelho Neto, Entenho Novo, Lins de Vasconcelos, Manguinhos, Olaria, Penha, Piedade, Quintino e Riachuelo têm dois registros cada um. A lista traz ainda outros treze bairros, todos com um caso cada.

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