Depois da explosão de 300 registros de Síndrome Respiratória Aguda Grave
(SRAG), de 15 a 21 de março, 10 vezes maior do que no mesmo período do ano passado, pesquisadores da Fiocruz
perceberam uma desaceleração no número de casos no Rio
, na semana passada. De 22 a 28 deste mês, a quantidade de internações quase que se manteve (322). Há duas semanas, a luz vermelha se acendeu. Houve um salto de 132 para 300 casos. Problemas no sistema respiratório são um dos principais sintomas da Covid-19
. Diante dos dados, tudo leva a crer que as medidas de isolamento adotadas pelo estado e municípios podem ter surtido efeito para frear o avanço da doença.
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O estudo consta no sistema InfoGripe, desenvolvido pela Fiocruz em parceria com o Ministério da Saúde, que monitora os casos SRAG não só no Rio , como nos 26 estados do país, além do Distrito Federal. O pesquisador em saúde pública do Programa de Computação Científica da fundação, Marcelo Ferreira da Costa Gomes, que coordena o InfoGripe, explicou que a pesquisa, concluída na madrugada de ontem (quarta-feira), revela a desaceleração da curva, o que pode ser uma consequência do isolamento:
"Não dá para afirmar 100% que o isolamento tem relação direta com essa redução da aceleração da curva, mas é bem razoável apontá-lo como um dos principais fatores. Temos que ser cautelosos. Outra hipótese é a de que os hospitais ainda não tenham registrado as internações no sistema. Quando começamos a analisar a explosão de casos, nas semanas 11 e 12 (de 8 a 14 e de 15 a 21 de março), nos chamou a atenção que, além do aumento abrupto, havia muitos idosos sendo acometidos de problemas respiratórios. Nas curvas de anos anteriores, observávamos que as crianças com menos de 2 anos representavam a maioria dos casos. Foram estes dois fatores que nos deram o alerta. Só na semana 12 que o Ministério da Saúde estabeleceu como protocolo considerarmos a possibilidade desses casos serem suspeitos do novo coronavírus. É óbvio que nem todos são da Covid-19, mas o aumento é substancial", ressaltou Gomes.
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O pesquisador da Fiocruz não tem dúvidas de que a taxa de subnotificação (casos não informados) é alta, chegando de 85% a 90%. Segundo ele, são várias as situações que contribuem para isso. Gomes lista três fatores como os mais relevantes: a demora no registro de dados pelas unidades de saúde; os doentes leves que param na rede ambulatorial e não são computados no sistema; e os óbitos daqueles sem atendimento hospitalar. No primeiro caso, há hospitais que registram, manualmente, as informações em fichas para depois inseri-las no sistema informatizado. Os dados, muitas vezes, só chegam nas semanas seguintes.
Por último, as pessoas que morreram sem atendimento em unidades de saúde e a causa mortis foi decorrente de problemas respiratórios, com suspeita da Covid-19, a Organização Mundial de Saúde (OMS) não recomenda a necropsia. Segundo o pesquisador, a OMS entende que haveria riscos de infectar os legistas, provocando um dano muito maior à saúde pública.
Gomes também aponta que a demora na chegada dos kits, as falhas na coleta das amostras e a lentidão nos resultados prejudicam os pesquisadores a chegar ao número real de casos da Covid-19. Ele é um dos que defendem o isolamento social para que não haja uma explosão da doença e, consequentemente, o colapso da rede pública e privada de saúde.
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O InfoGripe foi criado para ajudar os governos, e como uma resposta à pandemia de influenza H1N1, em 2009. A partir daí, houve uma evolução para o estudo da gripe e outras infecções respiratórias. Todos que dão entrada na rede pública e privada de saúde com sintomas de falta de ar, dor na garganta e tosse são registrados no sistema. Com a disseminação do novo coronavírus (SARS-CoV-2), todos estes casos passaram a ser vistos como suspeitos da doença. O objetivo é justamente ajudar os governos e gestores de saúde no planejamento de ações para conter a transmissão.