Nas duas maiores favelas da cidade de São Paulo, os moradores estão se organizando para conter os efeitos da pandemia do novo coronavírus . Segundo a prefeitura paulistana, existem 1,7 mil favelas na capital com 391,7 mil domicílios.
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A União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis (Unas) tem usado carros de som e o convencimento boca a boca para reforçar as instruções que evitam o contágio pelo vírus causador da doença. A comunidade, com aproximadamente 200 mil pessoas , localizada na região sudeste da cidade, é a maior favela da capital paulista.
“Aqui a gente está fazendo a comunicação. Estamos saindo com carro de som dentro da comunidade, reforçando tudo o que vem sendo falado: lavar as mãos, a questão da limpeza - esses primeiros cuidados básico - e não sair de casa. Batendo muito nisso”, explica a presidente da Unas, Cleide Alves.
A líder comunitária diz que as favelas têm especificidades que precisam ser levadas em consideração, como o alto índice de trabalhadores informais e desempregados. De acordo com ela, essas pessoas já sentem os efeitos econômicos das medidas de restrição à movimentação que têm sido usadas para combater a proliferação do coronavírus. “Você que vende milho ou vende ovo, já caiu essa renda. Porque essa outra pessoa que fazia faxina, não tem mais o dinheiro para comprar”, detalha sobre os impactos na economia local.
Aglomerados e sem poupança
Por isso, Cleide cobra que o poder público tome ações que garantam uma renda pelo menos um salário mínimo e meio às famílias afetadas. “Para as famílias terem condição de se alimentar. A gente não tem como ter uma poupança. A gente trabalha e come”, enfatiza sobre a falta de reservas financeiras da maior parte das pessoas que vivem na comunidade. Além disso, a líder pede compreensão das concessionárias de serviços públicos com a possível inadimplência das contas de energia e água. “Em casa a gente consome mais comida, mais água e mais luz”, diz.
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Outro problema são as moradias pequenas . “Na mesma casa é todo mundo, a criança, o idoso. É todo mundo junto”, diz a respeito de como essa característica expõe os grupos de risco ao contágio. Além disso, a falta de espaço também se torna um problema ao lidar com os mais jovens. “As crianças estão dentro de casa, uma casa que não cabe todo mundo. Elas iam para a escola, para o projeto social e ficavam menos tempo dentro de casa. E a gente já tinha uma grande questão, que eles chegavam com muita fome” acrescenta.
Para lidar com a situação, a organização comunitária tem aberto as portas diariamente e convocado apoiadores para doar alimentos, produtos de higiene e itens de lazer, como livros de colorir, para as famílias da comunidade.
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Serão ainda penduradas faixas em diversos pontos da favela para alertar a respeito da necessidade de se manter recluso e reforçar os hábitos de higiene. “O nosso povo, graças a Deus, é muito obediente. Eles têm tentado, na medida do possível, seguir tudo o que está sendo colocado pelos órgãos públicos”, destaca Cleide, ao comentar a resposta da comunidade ao desafio.
Voluntários
Em Paraisópolis, na região do Morumbi, na parte sudeste da cidade, os moradores também têm se organizado para enfrentar o avanço do coronavírus. A comunidade tem aproximadamente 100 mil pessoas distribuídas em 21 mil domicílios. “Aqui em Paraisópolis nós estamos mapeando a nossa comunidade e identificando 420 voluntários que vão cuidar, cada um de 50 casas”, explica o líder comunitário Gilson Rodrigues em vídeo divulgado nas redes sociais para convocar interessados em participar da iniciativa.
Os voluntários vão ser responsáveis por reforçar as instruções de isolamento social, além de apoiar a entrega das doações de mantimentos e material de higiene. Eles também podem ser acionados para repassar informações de urgência para as famílias da sua área.
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Para Gilson, é fundamental que as comunidades pensem formas de se organizar para enfrentar a pandemia. “Diante da situação de que até o momento nenhum dos governos falou a palavra 'favela', nós estamos nos organizando para criar uma solução para Paraisópolis e as favelas no Brasil podem se organizar da mesma forma”, ressalta.