Prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Crivella
Ascom/Prefeitura do Rio de Janeiro
Prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Crivella

Equipes do Ministério Público Estadual (MP-RJ) e da Polícia Civil cumprem desde o início da manhã mandados de busca e apreensão devido a investigação que apura a criação de um balcão de negócios na prefeitura do Rio para a liberação de verbas a empresas mediante pagamento de propina.

O prefeito Marcelo Crivella é alvo da investigação, razão pela qual as ordens de busca e apreensão foram dadas pela desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio, Rosa Maria Helena Guita. Entre os 17 alvos da operação de hoje, estão a sede da Riotur, na Barra da Tijuca, e as residências do presidente da entidade, Marcelo Alves, e de seu irmão, Rafael Alves.

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Às 6h, policiais civis chegaram à Cidade das Artes, onde fica a sede da Riotur. Os agentes tiveram que pular o portão ao se depararem com eles trancados. Apenas 15 minutos depois, em presença dos seguranças, eles puderam entrar e dar início à operação. As buscas acontecem no local poucas horas antes de um evento que contará com a presença de Crivella. Às 9h, o prefeito do Rio dará posse a 58 profissionais da Saúde. Não se sabe se o evento continua confirmado. Funcionários que chegam para trabalhar são orientados a esperarem para começar o expediente. No local, pelos menos 15 agentes fazem as buscas.

Revelada com exclusividade pelo GLOBO em dezembro, a investigação está baseada na colaboração premiada do doleiro Sérgio Mizrahy, preso pela operação Câmbio, Desligo no ano passado. Homologada pelo Tribunal de Justiça do Rio, a delação se referiu a um “QG da Propina” operando dentro da Riotur e apontou o empresário Rafael Alves como o operador do suposto esquema no município.

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Na delação, Mizrahy afirmou que Rafael Alves tornou-se um dos homens de confiança de Crivella por ajudá-lo a viabilizar a doação de recursos de empresas e pessoas físicas na campanha de 2016. Depois da eleição, o empresário emplacou o irmão na Riotur e, segundo o doleiro, montou um “QG da propina” na prefeitura mesmo sem ocupar cargo. “Rafael Alves viabiliza a contratação de empresas para a prefeitura e o recebimento de faturas antigas em aberto, deixadas na gestão do antigo prefeito Eduardo Paes, tudo em troca do pagamento de propina”, disse Mizrahy no anexo 15 da sua delação.

No depoimento, Mizrahy afirma que Rafael Alves lhe entregava semanalmente cheques oriundos de prestadores de serviço da prefeitura para posterior recebimento em espécie. Um dos cheques, contou o doleiro, referia-se à propina paga pela empresa Locanty, especializada em serviços como limpeza, coleta de lixo e locação de veículos. Embora não tenha contratos na gestão Crivella, a empresa ainda protesta recursos a receber da administração passada de um contrato de aluguel de veículos para reboque de carros.

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Conduzida pelo Grupo de Atribuição Originária em Matéria Criminal do MP-RJ (Gaocrim) e pela Coordenadoria de Investigação de Agentes com Foro (CIAF) da Polícia Civil, a operação de hoje também tem como alvo o empresário João Alberto Felippo Barreto, dono da empresa de limpeza e manutenção Locanty, envolvida na denúncia.

Para comprovar o seu depoimento, Mizrahy relatou episódios ocorridos nos dias 10 e 11 de maio do ano passado, logo após sua prisão pela operação Lava-Jato. Ele disse que dois funcionários da Riotur, empresa comandada pelo irmão de Rafael, estiveram naqueles dois dias na sua casa para “resgatar” com a sua mulher cheques destinados ao pagamento de propina da Locanty. O doleiro os chama de Johny e Thiago no depoimento. O GLOBO apurou que seus nomes completos são Jones Augusto Xavier de Brito e Thiago Vinícius Martins Silva, e que, de fato, estiveram empregados na Riotur naquele período — atualmente, apenas Thiago continua na empresa municipal, lotado no gabinete da presidência; Jones desligou-se em julho deste ano da Riocentro S.A.

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De acordo com a reportagem do GLOBO de dezembro, o procedimento estava paralisado desde julho de 2019, quando o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, suspendeu mais de 900 investigações pelo país que utilizaram dados do antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), atual Unidade de Inteligência Financeira. Por citar Crivella, o procedimento está a cargo do Gaocrim, estrutura que age por delegação do procurador-geral de Justiça, Eduardo Gussem, para apuração de casos envolvendo pessoas com foro especial junto ao TJ.

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