Caso do miliciano Adriano da Nóbrega é um exemplo da conduta dos agentes expulsos
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Caso do miliciano Adriano da Nóbrega é um exemplo da conduta dos agentes expulsos

A cada três meses, um policial militar é excluído da PM do Rio por ligação com bicheiros. Dados obtidos pelo Extra via Lei de Acesso à Informação mostram que, de 2010 a 2019, 36 agentes foram expulsos da corporação por trabalhar para a máfia que domina o jogo do bicho e as máquinas caça-níqueis no estado. Desde o início do governo Wilson Witzel, entretanto, a corporação não expulsou qualquer policial por ligação com a contravenção: quatro processos administrativos que podem culminar na exclusão de agentes flagrados fazendo a escolta de bicheiros se arrastam há pelo menos oito meses.

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A maior parte dos agentes expulsos trabalhava como segurança para bicheiros : 15 foram excluídos por esse motivo. Em nove dos casos, os PMs trabalhavam para o contraventor Rogério Andrade. Oito agentes foram flagrados recebendo propina de bicheiros. Também há casos de PMs excluídos após serem presos vigiando bingos ou pontos de máquinas caça-níqueis.

Ao todo, 28 dos policiais expulsos eram praças da ativa. Outros quatro já estavam reformados. Quatro oficiais — três da ativa e um já aposentado — completam a lista. O PM com a patente mais alta é o ex-coronel reformado Celso Lacerda Nogueira, expulso em 2013, após ser condenado por participar da quadrilha do contraventor Fernando Iggnácio, na época em que comandava o 14º BPM (Bangu).

Também integra a lista de oficiais excluídos o ex-capitão Adriano da Nóbrega, morto no mês passado por PMs na Bahia. Ele foi expulso em 2013, acusado de ser chefe da segurança do bicheiro José Luiz Lopes, o Zé Personal.

A exclusão mais recente de PM envolvido com a contravenção já tem um ano e sete meses: em julho de 2018, a sargento Rosieni Oliveira Almeida foi expulsa após ser presa em flagrante levando pacotes de dinheiro da contravenção para um batalhão na Baixada Fluminense.

Processos parados desde 2018

Em setembro de 2017, três PMs foram flagrados pela Corregedoria da corporação fazendo a escolta do bicheiro Rogério Andrade num hospital na Barra da Tijuca, na Zona Oeste. Os três foram filmados por câmeras de segurança do estabelecimento. Em março de 2018, os três foram submetidos a Conselho de Disciplina — processo administrativo que pode expulsá-los da corporação.

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O procedimento é simples: a conduta dos agentes é avaliada por uma comissão de oficiais, que dá um parecer e o submete ao comandante da PM, que o ratifica ou não. Dois anos depois, o processo não teve uma solução, e os policiais seguem na corporação.

Em 2010, o mesmo processo aconteceu de forma bem mais célere. Em abril, cinco PMs faziam a segurança de Rogério Andrade quando ele foi alvo de um atentado que matou seu filho, Diogo, na Barra. No mesmo dia, os PMs se apresentaram na Delegacia de Homicídios e prestaram depoimentos. Sete meses depois, os cinco foram excluídos da corporação.

Pesos e medidas

Nem sempre a ligação de PMs com bicheiros basta para que o agente seja expulso da corporação. Em agosto de 2012, um policial foi flagrado numa academia na Barra da Tijuca trabalhando, armado, como segurança de um contraventor. Na época, o PM não podia portar armas, porque estava de licença para tratamento psiquiátrico. Quatro anos depois, ele foi punido com 20 dias de prisão. Ele segue na PM até hoje.

Em 2008, uma investigação interna da PM conseguiu identificar quatro policiais do Bope que trabalhavam na escolta do bicheiro Alcebíades Garcia, o Bidi. À época, eles foram reconhecidos por um porteiro do prédio onde funcionava o escritório do contraventor, em Ipanema. O Conselho de Disciplina aberto contra os quatro, no entanto, concluiu que eles eram capazes de permanecer na PM: hoje, eles seguem no Bope.

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Bidi foi assassinado na semana passada, quando voltava da Sapucaí. Homens encapuzados acertaram 22 tiros em Bidi. Seus seguranças não revidaram os disparos. A Polícia Civil não informou a identidade dos seguranças do bicheiro.

Em junho de 2019, a PM abriu um Conselho de Disciplina para avaliar a conduta do sargento André Luiz de Sousa, flagrado fazendo a segurança de um bicheiro em Cambuci, no Norte Fluminense. É o mais recente processo contra agentes acusados de ligação com o bicho aberto pela PM. Ainda não houve decisão.

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