Seguranças não reagiram ao ataque que matou o irmão do bicheiro Maninho no Rio
Agência O Globo
Seguranças não reagiram ao ataque que matou o irmão do bicheiro Maninho no Rio

Duas heranças milionárias estão no centro de uma guerra na família do bicheiro Waldemir Paes Garcia, o Maninho, que deixou ao menos cinco mortos nos últimos 15 anos. Em disputa, além dos “bens ilegais” — pontos de jogo da contravenção e máquinas caça-níqueis —, há dezenas de imóveis, animais e uma lancha, que estão listados em processos judiciais que se arrastam há mais de 15 anos. As desavenças e o assassinato de integrantes da família — como o mais recente, de Alcebíades Paes Garcia, o Bidi, irmão de Maninho — dificulta ainda mais a solução do litígio. Com essa última morte, os quatro filhos de Bidi passaram a ter direito a entrar na partilha, podendo deixar a disputa ainda mais longe do fim.

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As heranças disputadas na Justiça desde o fim de 2004 são do bicheiro Maninho, assassinado em setembro daquele ano, e de seu pai, Waldemir Garcia, o Seu Myro, que morreu de causas naturais um mês após o filho. Foi após o falecimento do patriarca, que fazia parte da cúpula do bicho no Rio, que a guerra na família explodiu.

Ao longo de uma década e meia, as desavenças e os assassinatos na família impedem que o processo chegue ao fim. Documentos obtidos pelo EXTRA ajudam a ter dimensão do que está em jogo. No processo de inventário dos bens de Myro estão listados 29 imóveis, incluindo parte do haras da família, em Guapimirim, na Baixada Fluminense, seis salas comerciais em Ipanema e uma em Copacabana, na Zona Sul do Rio.

Além disso, há prédios inteiros no Grajaú, na Zona Norte do Rio , e na Glória, na Zona Sul. Myro também deixou propriedades em Foz do Iguaçu, no Paraná. Na lista, há ainda uma lancha e uma quantidade indefinida de cabeças de gado.

Atualmente, o responsável por gerenciar o patrimônio de Myro é o advogado Fabio Picanço, que foi designado pela Justiça e não possui qualquer relação com os Garcia. A entrada do administrador no processo ocorreu após mais uma desavença com a nomeação de pessoas da própria família para a função. A última a atuatr como administradora da herança foi Tamara Harrouche Garcia, filha de Maninho e neta de Myro. A Justiça determinou sua retirada da função depois de um pedido de sua irmã gêmea, Shanna Harrouche Garcia, com quem Tamara cortou relações ao longo dos últimos anos.

Advogado pede levantamento dos bens

Para retirar a irmã da função de administradora dos bens, Shanna alegou que o processo estava paralisado há um ano e meio sem que houvesse progresso na partilha dos bens. Com isso, Picanço foi nomeado. No dia 21 de janeiro deste ano, o advogado solicitou à Justiça que seja feito um levantamento do estado de todos os bens listados no processo, além de especificar quem está na posse dos mesmos. Com essa relação atualizada será possível solicitar a avaliação dos bens para que possa ser feita a partilha. A Justiça já concordou com os pedidos feitos por Picanço.

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Apesar dos desentendimentos, no processo no qual é discutida a partilha de bens de Maninho , Tamara continua sendo a administradora dos bens. Ela fez um acordo com a gêmea Shanna, que aceitou, por enquanto, sua permanência na função.

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Ao longo dos anos, foram inúmeras as trocas de acusações da família dentro dos processos. Quando era a responsável por administrar o patrimônio deixado por seu pai, Shanna foi acusada por seus irmãos, Tamara e Myro Garcia, o Myrinho, assassinado em 2017, de vender bens sem autorização da Justiça. Além disso, os irmãos alegaram que ela não estava depositando na conta do espólio o dinheiro proveniente do aluguel de alguns imóveis.

Já no processo da herança de seu Myro, Shanna foi contra seu tio Bidi , o primeiro a administrar os bens do espólio do pai. Na ocasião, ela o acusou de vender bens sem qualquer aval judicial e também alegou que ele estava escondendo patrimônio no exterior. Bidi também fez acusações contra a sobrinha. Ele a acusou de ter ido até o haras da família, em Guapimirim, e roubado gados do espólio.

No ano passado, criminosos tentaram matar Shanna quando ela deixava um centro comercial na Barra da Tijuca. Em entrevista ao EXTRA, ela culpou o ex-marido de Tamara, Bernardo Bello, pelo atentado e afirmou que a motivação era a briga pela herança do pai. Na última quarta-feira, Rafael Alves, marido de Shanna e amigo de Bidi há 15 anos, afirmou à imprensa que o assassinato do contraventor também estava relacionada à disputa por bens na família. Shanna presta depoimento hoje sobre a morte do tio.

Logo após a morte de Maninho, os herdeiros que constavam no processo de seu inventário eram seus três filhos — Shanna, Tamara e Myrinho. Com o assassinato do caçula, a ex-mulher de Maninho, Sabrina Harrouche, passou a ter direito à parte do filho.

Com a morte de seu Myro, os filhos de Maninho também passaram a ser herdeiros do avô junto com o tio Bidi. Ainda entrou no processo a mãe de Bidi e Maninho, Maria Antônia Paes Garcia. Apesar de já ser ex-mulher de Myro na época de seu falecimento, ela teve direito a ingressar no processo porque eles não tinham feito a partilha de bens após a separação.

A morte de Myrinho ainda teve reflexos no inventário do avô, Seu Myro. A mãe do jovem, Sabrina, também passou a ter direito à sua parte nesse processo — além do processo que diz respeito a seu ex-marido, Maninho. Já a morte de Bidi terá como consequência a entrada de seus quatro filhos na disputa pela herança do avô.

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Após a morte de seu Myro, uma mulher que alegava ter união estável com o bicheiro chegou a tentar ter a relação reconhecida na Justiça para solicitar parte da herança. Ela, no entanto, acabou desistindo do processo.

Alcebíades Paes Garcia, o Bidi, foi morto na madrugada da última terça-feira quando voltava da Marquês de Sapucaí, onde assistiu à segunda noite de desfiles das escolas de samba do Grupo Especial do Rio. A Delegacia de Homicídios investiga o caso e acredita que Bidi tenha sido vítima de execução. A delegacia também inventiga a tentativa de homicídio sofrida por Shanna em outubro do ano passado.

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