A disputa pelo espólio do bicheiro Waldomiro Paes Garcia, o Maninho, que tem valor estimado por parentes em torno de R$ 25 milhões, é a principal linha de investigação seguida pela Polícia Civil para esclarecer a morte de Alcebíades Paes Garcia, o Bidi.
Leia também: Bolsonaro divulga vídeo que convoca "patriotas" para ato contra o Congresso
Irmão de Maninho, Bidi estava afastado da contravenção, mas tinha direito a participar da herança, que inclui entre outras coisas, pontos de bicho, máquinas de caça-níqueis e imóveis. Bid foi assassinado ao descer de uma van, que era seguida por seguranças, nesta terça feira, na porta de um condomínio da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio.
A morte aconteceu cerca de um mês após Bidi prestar depoimento como testemunha, em um inquérito que tramita na Delegacia de Homicídios da Capital, que apura uma tentativa de homicídio sofrida por Shana Garcia, filha de Maninho e sobrinha de Alcebíades Garcia. O caso é investigado em sigilo.
O assassinato de Bidi ocorreu por volta das 4h30. Ele retornava do Sambódromo, com outras seis pessoas, onde foi assistir ao desfile do Salgueiro, escola que já foi presidida por seu pai Waldomir Paes Garcia, o Miro, quando desceu da van, em frente ao condomínio Barra One, na Avenida Jornalista Henrique Cordeiro, via residencial e sem saída, que em sua maioria, reúne condomínios residenciais .
Quatro homens encapuzados que usavam um carro, estacionado no sentido oposto ao que estava a van, já aguardavam a chegada da vítima. Quando Bidi se preparava para descer da Van, os atiradores desceram do carro.
Leia também: Resultado da inscrição para o Fies e P-Fies é divulgado nesta quarta-feira
Segundo uma testemunha, pelo menos um dos assassinos, cruzou a rua e, a uma curta distância da vítima, fez disparos que acertaram a cabeça e o peito do irmão de Maninho. Alcebíades Garcia morreu na hora.
Os seguranças dele não teriam conseguido reagir. Segundo os moradores do local, os assassinos fizeram mais de 20 disparos.
"Eles (assassinos) já estavam com o carro rodando por aqui. Os caras estavam encapuzados. O Bidi morreu segurando o dinheiro com que ia pagar o motorista da van que trouxe ele do Sambódromo. Ele caiu dentro da van com os pés para fora do carro", disse uma testemunha que pediu para não ser identificada.
Um morador disse que a quantidade de disparos feito pelos criminosos assustou a vizinhança.
"Foram muitos tiros seguidos. Chegamos a pensar que os disparos eram dentro do condomínio. Minha mulher chegou a se abaixar dentro do apartamento. Corri para a janela e ainda vi gente entrando às pressas para o hall do condomínio", disse um morador.
Procurada, a Polícia Civil informou que a Delegacia de Homicídios da Capital investiga o caso e que testemunhas já foram ouvidas pela polícia. Ainda segundo a nota enviada pela assessoria da corporação, agentes da especializada estão em busca de imagens que tenham flagrado a ação dos assassinos.
Em frente ao condomínio onde Bidi foi assassinado há uma câmera de segurança. Prédios vizinhos e um centro comercial também possuem câmeras que podem ter documentado a ação.
Leia também: Damares e delegação brasileira deixam sessão da ONU em protesto contra Maduro
A série de crimes que envolve membros da família Paes Garcia teve início em setembro 2004, quando Maninho foi executado com tiros de fuzil, aos sair de uma academia, em Jacarepaguá, ma Zona Oeste do Rio. A morte do bicheiro até hoje não foi esclarecida. Trinta e quatro dias após o assassinato, Waldemir Paes Garcia, o Miro, pai de Maninho, morreu por conta de problemas de saúde.
Dono de pontos de bicho e membro da cúpula da contravenção, Miro chegou a ser patrono e presidente do Salgueiro. Em janeiro de 2009, foi a vez do pecuarista Rogério Mesquita, homem de confiança de Maninho, ser morto a tiros, em plena luz do dia, na Avenida Visconde de Pirajá, em Ipanema, na Zona Sul do Rio.
Coincidentemente , Mesquita voltava de uma academia quando foi assassinado por homens que estavam em uma motocicleta. A morte de Rogério ocorreu seis meses após o pecuarista ter denunciado à Delegacia de Homicídios (DH) e ao Ministério Público que seu desafeto e genro de Maninho, José Luiz Barros Lopes, Zé Personal, teria sido o autor de oito crimes ligados a disputa pelo espólio da família Paes Garcia.
Um deles teria sido uma tentativa de assassinato, sofrida pelo próprio Mesquita, em maio de 2008. Em 2011, um relatório da Subsecretaria de Inteligência (da extinta Secretaria de Segurança) e da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas apontou o ex-capitão da PM Adriano Magalhães da Nóbrega como envolvido na execução do pecuarista.
Adriano prestava serviços de segurança para Zé Personal. Na época marido de Shana Garcia, filha de Maninho, ele explorava parte dos negócios herdados do contraventor. Shana chegou a ter a prisão decretada por suspeita de participação na morte de Mesquita, mas foi excluída da ação e inocentada. O crime acabou ficando sem solução.
Em setembro de 2011, foi a vez de Zé personal ser morto. Ele e um outro homem foram assassinados quando estavam em um terreiro, conversando com um pai de santo. Os assassinos foram três homens que estavam com os cobertos e que fugiram logo após o crime. Em 2017, outro membro da família Paes Garcia foi morto.
Waldomiro Paes Garcia Junior, o Mirinho, foi sequestrado no dia 12 de abril daquele ano, quando havia acabado de sair de uma academia. O rapaz, que tinha 27 anos, se apresentava como jogador de pôquer e disputava torneios internacionais . Ele foi morto após os sequestradores receberem o resgate exigido.
Em outubro de 2019, a irmã de Mirinho, Shana Garcia sofreu um atentado a tiros, na Barra da Tijuca. Shanna acredita que só escapou da emboscada porque o primeiro dos tiros disparados pelo criminoso falhou. Como ela estava atenta e ouviu o som seco do tiro frustrado, disparado por um homem de capuz, teve tempo de voltar ao carro blindado e trancar-se, antes de ser atingida por outros dois disparos.
Leia também: Saiba como recuperar os documentos perdidos durante o carnaval
No último dia 9 de fevereiro,o ex-capitão Adriano Magalhães da Nóbrega foi morto pela PM da Bahia, na cidade de Esplanada. Segunda a Secretaria de Segurança daquele estado, Adriano era procurado pela Justiça e reagiu a ordem de prisão dos militares do Bope baiano.