A subsecretária estadual de Recursos Hídricos, Diane Rangel, minimizou ontem os efeitos da presença de geosmina nos encanamentos da Cedae. Para ela, a substância, que estaria alterando o sabor e o cheiro da água, não representa um problema de saúde pública, pois também é encontrada na beterraba. Já o gerente de Qualidade da Cedae , Sérgio Marques, afirmou que “já não tem sentido gosto de geosmina em casa” e que há pessoas que só sentem a alteração no sabor porque estão “sugestionadas” e “procuram o gosto”. As declarações foram dadas ontem em uma reunião com representantes da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes).
"A gente monitora as cianobactérias e as toxinas que são liberadas por elas. Não havia esse risco, por isso não houve nenhuma comunicação formal. Geosmina tem na beterraba. E muita gente come bastante beterraba. A presença de geosmina na água não é um risco efetivo à saúde, se não, a beterraba teria que ser abolida do cardápio", disse a subsecretária de Recursos Hídricos, Diane Rangel, provocando risos de outros convidados.
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Procurada pelo EXTRA, ela se explicou: "Foi apenas uma analogia, mas a geosmina de fato não provoca mal à saúde. O Ministério da Saúde já se pronunciou. Ela causa um incômodo, que varia de acordo com cada um. Eu não quis dizer que o problema não tenha que ser solucionado".
Gerente de Qualidade da Cedae, Sérgio Marques foi além. Para ele, a estatal já solucionou o problema: "não tem mais geosmina saindo de Guandu. Eu já não sinto mais o gosto lá em casa. Tem também o fator do sugestionamento. Tem gente que já prova a água procurando o gosto. Água potável não é inodora nem insípida. Você tem que clorar a água. E isso muda o gosto. Tem pessoas menos sensíveis e outras mais sensíveis, que preferem água mineral. Mas aí é questão de gosto, não de saúde".
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O Extra tentou entrevistar Sérgio Marques após a reunião, mas ele afirmou que “não estava autorizado a falar”. Presidente da Cedae, Hélio Cabral também não quis dar entrevista.
Ao fim da conversa, a integrante do Comitê Guandu, Diana Gelelete, foi indagada se voltaria a beber água da Cedae. Sem graça, respondeu que é "sensível ao gosto de beterraba", mas afirmou que voltaria a dar uma chance à água da estatal.
Indústrias poluidoras
Técnicos da Secretaria estadual do Ambiente e do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), com apoio de PMs, vistoriaram ontem seis empresas do Distrito Industrial de Queimados, para tentar descobrir a origem do vazamento do detergente que provocou o fechamento da Estação de Tratamento de Água do Guandu por 14 horas. Duas foram multadas, e outras duas, interditadas. No entanto, a vistoria não descobriu de onde saiu o produto.
Há 32 indústrias instaladas no distrito. As empresas ficam junto ao Rio Queimados, que desemboca na lagoa de captação da estação do Guandu. Análises laboratoriais mostram que o curso d’água tem níveis baixíssimos de oxigênio devido ao despejo irregular de dejetos. Enquanto equipes vasculhavam as empresas, outros agentes voavam de helicóptero à procura de possíveis lançamentos de esgoto industrial sem tratamento no rio.
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A Secretaria de Meio Ambiente de Queimados participou da operação. Grande parte da fiscalização das empresas é de responsabilidade do município, que conta com dois agentes. A Firjan disse que a fiscalização foi “tentativa transferir para o setor produtivo a responsabilidade pela degradação das águas do Guandu”.