Ágatha Félix foi morta na noite do dia 20 de setembro
Marcelo Regua / Agência O Globo
Ágatha Félix foi morta na noite do dia 20 de setembro

Familiares da pequena Ágatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, afirmaram que já sabiam que o  tiro que atingiu a menina partiu da arma de um cabo que atua na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Morro da Fazendinha, no Complexo do Alemão. Um tio de Ágatha afirma que, a Polícia Civil demorou a concluir o inquérito e que, agora, eles vão lutar para que o militar seja condenado. O Globo teve acesso à conclusão do inquérito da Polícia Civil. Conforme o documento, o disparo que atingiu a criança partiu do fuzil de um agente da PM.

"Já sabíamos que o tiro que acertou a minha sobrinha veio da arma de um PM . Era fato isso. O inquérito da Civil só confirmou o que já sabíamos. Não foi um acidente. Ele não atirou para advertir os motoqueiros. Ele atirou para matar. E se não tivesse acertado a minha sobrinha teria acertado os inocentes que estavam na moto ou qualquer outra pessoa. Ele é um despreparado", afirma o motoboy Danilo Lima Félix, de 31 anos, tio paterno da menina.

De acordo com a Polícia Civil, houve um “erro de execução”: o objetivo não era atingir a criança, mas dar um “tiro de advertência” para forçar a parada de dois homens que estavam em uma motocicleta.

A dupla teria fugido de uma blitz que estava sendo realizada no Complexo do Alemão . Em seguida, o PM, lotado na UPP da Fazendinha, efetuou o disparo. Segundo relatos de testemunhas incluídos no inquérito, o cabo estava sob forte tensão por causa da morte de um colega três dias antes e, por isso, pode ter confundido uma esquadria de alumínio que o garupa segurava com uma arma.

A tragédia ocorreu no início da noite de 20 de setembro. Onze dias depois, o policial militar participou da reprodução simulada da morte de Ágatha no mesmo local, apesar de parte de seus colegas terem se recusado a fazê-lo. Segundo uma fonte ligada à investigação, “ele está muito mal e diz o tempo todo que que não queria acertar a menina”.

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Um relatório do Instituto de Criminalista Carlos Éboli (ICCE), entregue à Delegacia de Homicídios da capital (DH), apontou que um fragmento de projétil encontrado no corpo de Ágatha tinha ranhuras idênticas a do cano do fuzil usado pelo PM. Ainda de acordo com o laudo, a bala atingiu primeiramente um poste. Foi um estilhaço que provocou a morte da menina, perfurando suas costas e saindo pelo tórax. A criança chegou a ser levada para a Unidade de Pronto-atendimento do Morro do Alemão, de onde foi transferida para a emergência do Hospital estadual Getúlio Vargas, na Penha.

Nesta segunda-feira, o delegado Daniel Rosa, titular da DH, não quis comentar o caso. Segundo ele, a Polícia Civil apresentará nesta terça-feira o resultado completo de toda a investigação.

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Delegacia de Homicídios indicia PM por homicídio doloso

A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) indiciou o policial militar da UPP Fazendinha por homicídio doloso — quando há a intenção de matar — pela morte de Ágatha Félix. O relatório com a conclusão do caso foi encaminhado ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro.

Segundo a Polícia Civil, o inquérito tomou como base depoimentos de testemunhas, de policiais militares em serviço na Unidade de Polícia Pacificadora da região, que estavam no local do crime, diversas perícias e o laudo da reprodução simulada, realizada em 1º de outubro.

O resultado dessa perícia aponta, após criteriosa análise técnica, que houve erro de execução por parte do PM. Segundo as investigações, o policial tentara atingir dois traficantes que passavam em uma moto, mas o projétil ricocheteou e atingiu Ágatha no interior do veículo.

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A Polícia Civil também quer o afastamento do PM da UPP e a proibição de contato com qualquer testemunhas que não sejam policiais militares.

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