Quase um ano e meio após o desabamento do prédio Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paysandu, ainda existem moradores que não receberam o auxílio-moradia da Prefeitura de São Paulo. Um deles é o ajudante de obra Tiago Correa Valério, de 34 anos, que promete se acorrentar em um poste em frente à prefeitura, caso não obtenha o benefício.
Leia também: Exames de DNA identificam mais três vítimas de desabamento em São Paulo
“Estou na fila desse auxílio como muitos outros moradores do prédio, que foram abandonados pelo poder público. O pior é o descaso e as humilhações que passamos para conseguir esse benefício”, lamenta o rapaz. “Se não me ajudarem, vou me acorrentar em frente à prefeitura”.
No inicio desse ano, Tiago entrou novamente com pedido de auxílio-moradia, que foi oferecido na época da tragédia para as vítimas. Desempregado, ele vive de favor em um quarto de um amigo, na região da Santa Efigênia, centro da capital paulista.
Alguns dias após a queda do prédio, a Prefeitura de São Paulo liberou para mais de 140 famílias, através da Secretaria de Habitação, um auxílio-moradia de R$ 400 por mês durante um ano.
Leia também: Incêndio em São Paulo foi causado por curto-circuito no 5º andar, afirma governo
A Secretaria de Habitação, responsável pelo pagamento de auxílio-moradia para as vítimas, informou que está pagando o benefício para todos os nomes que foram cadastrados na época da queda do prédio. O motivo do atraso para o recebimento de Tiago, no entanto, não foi esclarecido.
Tragédia no Largo do Paysandu
Na madrugada de 1º de maio de 2018, o edifício de 24 andares desabou em chamas por conta de um incêndio de grandes proporções. A tragédia terminou com a morte de sete pessoas e dois desparecidos. Mais de 150 famílias viviam na ocupação. Por sorte, Tiago estava trabalhando no momento da catástrofe.
O rapaz vivia num quarto minúsculo do oitavo andar. O cômodo fazia frente para o que vivia a catadora de reciclagem Selma Almeida da Silva, de 40 anos, que não conseguiu sair a tempo do prédio desabar e morreu abraçada junto aos filhos de apenas 10 anos, um casal de gêmeos.
A investigação na época apontou que um curto-circuito pode ter provocado o incêndio. A explosão foi provocada porque em apenas uma tomada estavam ligados três aparelhos eletrônicos, micro-ondas, geladeira e tevê.
Por conta da tragédia, Tiago passou a sofrer de depressão. Faz uso regular de remédios antidepressivos e teve que abandonar o sonho de fazer faculdade de Matemática mesmo depois de ser aprovado no vestibular de uma Universidade Federal do Paraná. “Minha vida perdeu sentido total. Em seguida, minha mãe com quem passei a morar no interior, também morreu. Fiquei ainda mais sem chão”.
Marco da arquitetura
Projeto na década de 1960, o edifício Wilton Paes de Almeida foi considerado um marco na arquitetura do País. Inaugurado seis anos depois do início da construção, o prédio de 24 andares tinha sua fachada toda de vidro. Era uma novidade para época.
Na década de 80, o prédio passou a ser gerido pela União. O local serviu de sede da Polícia Federal e de uma agência do INSS. Desde 2017, a Prefeitura de São Paulo e a União negociavam uma parceria para transformar o local numa sede para a Secretaria de Educação.
Posição da Prefeitura
"Em relação ao munícipe Thiago Correa Valério, o mesmo não constava na lista de moradores da vistoria que foi realizada em março de 2018. Ele procurou o plantão social da Sehab um ano após o ocorrido com Edifício Wilton Paes de Almeida, apresentando comprovante que residia no local apenas de 2017. Foi aberto processo para atendimento do mesmo, no entanto, é necessário que ele apresente comprovante de 2018", diz a nota.