PF identificou 5.616 chamadas feitas por hackers para invadir Telegram de Moro

Em decisão, juiz descreve estratégia utilizada por grupo e aponta "fortes indícios" de organização criminosa para violar o sigilo de autoridades"

Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro teve Telegram invadido
Foto: Marcelo Camargo/Ag Brasil - 1.7.19
Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro teve Telegram invadido

A Polícia Federal descobriu como o celular do ministro Sergio Moro e de outras autoridades foi invadido. A informação consta da decisão do juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, que autorizou a prisão temporária de quatro hackers nessa terça-feira (23) .

O magistrado relatou que, a partir da quebra do sigilo telefônico e telemático dos investigados, a PF confirmou que o grupo de hackers  teve acesso ao código enviado pelos servidores do aplicativo Telegram para a sincronização da versão web do serviço.

O Telegram permite que o usuário peça o código de acesso via ligação telefônica com posterior envio de chamada de voz contendo o código para ativação do serviço web. Para conseguir esse código, os invasores realizavam diversas ligações para o número alvo, para que a linha ficasse ocupada e a ligação contendo o código de ativação do serviço Telegram Web fosse direcionada para a caixa postal da vítima.

Para realizar essas ligações, os hackers se valeram do programa BRVOZ, que permite a realização de chamadas via computador simulando o número de qualquer terminal telefônico como origem. Foram identificadas 5.616 ligações realizadas dessa maneira.

A Polícia Federal também identificou movimentações financeiras suspeitas na conta dos investigados no período de abril de 2018 a maio de 2019. Passaram pelas contas de dois suspeitos a quantia de R$ 626 mil no período, sendo que a renda mensal de cada um deles é de R$ 2.192 a R$ 2.866.

Além de Moro , também foram alvos dessa prática o desembargador Abel Gomes, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), o juiz federal Flávio Lucas, da 18ª Vara Federal do Rio de Janeiro, e os delegados da Polícia Federal Rafael Fernandes e Flávio Vieitez Reis.

Foram presos temporariamente (com prazo de cinco dias) o casal Gustavo Henrique Elias dos Santos e Suelen Priscila de Oliveira, além dos suspeitos Walter Delgatti e  Danilo Cristiano Marques. O juiz Vallisney justificou a decisão alegando "entender necessária a prisão temporária para o sucesso das investigações relativas a esses graves delitos que se configuram, de deletério potencial ofensivo e invasivo".

"Há fortes indícios de que os investigados integram organização criminosa para a prática de crimes e se uniram para violar o sigilo telefônico de diversas autoridades públicas brasileiras via invasão do aplicativo Telegram", escreveu o magistrado.