Seis ex-coroinhas que acusam de assédio e abuso sexual o padre Pedro Leandro Ricardo, no interior de São Paulo, querem indenizações da Igreja Católica que somam US$ 3 milhões, o equivalente a R$ 11,3 milhões atualmente. Segundo os advogados de acusação, a estimativa é de US$ 500 mil por vítima. O pedido foi feito com amparo num decreto assinado em maio passado pelo Papa Francisco que prevê reparação para as vítimas de abuso sexual.
O padre Leandro nega as acusações dos ex-coroinhas e afirma ser vítima de perseguição e denúncias requentadas. Segundo o advogado de defesa, sua inocência será comprovada.
Os valores pedidos pela acusação têm como base indenizações pagas em processos judiciais envolvendo pedofilia nos Estados Unidos. No Brasil, já há precedentes. Em janeiro, a Justiça condenou a Arquidiocese da Paraíba a pagar R$ 12 milhões por casos de exploração sexual contra menores de idade. Lá, a denúncia é de que sacerdotes pagavam por sexo a ex-coroinhas e seminaristas.
Segundo o advogado que representa o grupo que acusa o padre Leandro, o criminalista Roberto Tardelli, as conversas com a Diocese de Limeira estão em andamento. O primeiro encontro foi no último dia 16, quando o defensor foi recebido pelo novo bispo substituto dom Orlando Brandes, em Aparecida do Norte. Brandes assumiu interinamente após a renúncia de Dom Vilson Dias de Oliveira , acusado de acobertar os abusos em troca de dinheiro e de extorquir outros padres.
O advogado Virgílio Ribeiro, que representa o bispo, disse que o religioso nega todas as acusações e que confia na Justiça e na lisura dos meios de investigação.
Uma nova reunião entre a defesa e a Igreja está prevista para a próxima terça-feira (16). Segundo Tardelli, a primeira medida proposta foi a celebração de um acordo extrajudicial, o que dispensaria a necessidade de um processo judicial. A segunda seria um processo na Justiça comum contra a Diocese de Limeira , o que tende a se estender por mais tempo nos tribunais.
"Pedimos o que o Papa determinou. Não é para que ninguém fique rico. Estamos falando de pessoas que foram abusadas desde a adolescência", afirma o advogado.
Na Diocese de Limeira, o pedido de indenização preocupa e enfrenta resistência. O temor é que haja um efeito cascata e que surjam outras pessoas pedindo reparação.
‘Delito inaceitável’
Procurado pela reportagem do jornal O Globo , o bispo Dom Orlando Brandes não quis comentar o assunto. O 1º vice-presidente da CNBB, Dom Jaime Spengler, comentou a possibilidade de pagamento de indenizações e a aplicação do decreto do Pontífice que prevê reparação às vítimas.
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"A Igreja sempre se colocará ao lado das vítimas de possíveis abusos de menores ou pessoas vulneráveis. Trata-se de delito inaceitável, sobretudo quando a pessoa envolvida é alguém que deveria dar testemunho concreto da fé em Cristo", afirma Spengler, acrescentando que o Papa deu o prazo de um ano para que as dioceses coloquem em prática o decreto de reparação.
Ainda que estejam afastados da Igreja, o padre Leandro e o bispo Vilson continuam a receber salários. Pessoas ligadas à diocese informaram que a remuneração deles é de cinco salários mínimos mensais, e que ainda pode haver reembolso de despesas como telefone, gás, supermercado, medicamentos e combustível, entre outros itens.
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Delegacia abençoada
A acusação de abuso sexual em Limeira já completou seis meses, ainda sem a conclusão dos inquéritos. Em janeiro, o Ministério Público de São Paulo confirmou que três inquéritos apuravam o caso. Em fevereiro, o jornal O Globo conversou com exclusividade com os ex-coroinhas e publicou relatos detalhados das denúncias. Neste fim de semana, a revista Veja traz novos depoimentos contra padres da região.
Desde que foi aberta a investigação, o caso está cercado de polêmicas. Os advogados dos ex-coroinhas apresentaram fotos à secretaria estadual de Segurança de São Paulo, postadas no Facebook da Basílica de Santo Antônio de Pádua, em julho de 2018 e dezembro do mesmo ano. Nelas, o padre Leandro aparece abençoando a delegacia seccional de Americana.
O último registro foi feito cerca de um mês antes de o padre Leandro ser suspenso pela Igreja do comando da basílica. Procurada, a Polícia Civil de São Paulo informou em nota que o caso está em andamento e segue em sigilo.
Uma investigação paralela foi iniciada pela própria Igreja Católica. O Vaticano afastou da Diocese de Limeira o padre e o bispo dom Vilson.
A investigação passou então a ser centralizada no Departamento de Polícia Judiciária do Interior 9 (Deinter 9), em Piracicaba. Antes disso, os inquéritos corriam em paralelo nas delegacias de Americana, Limeira e Araras. A Polícia Civil não explicou o motivo de o Deinter 9 ter entrado no caso. Também não comentou as fotos do padre abençoando a delegacia.
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A delegacia de Americana já havia arquivado, em setembro de 2015, outro inquérito por suspeita de assédio sexual do sacerdote contra outros dois ex-coroinhas
. Estes, porém, não constam na denúncia atual.