No último domingo (26), as mortes em Manaus ocorreram diante dos familiares, em dia de visita; família chora em IML
Agência O Globo
No último domingo (26), as mortes em Manaus ocorreram diante dos familiares, em dia de visita; família chora em IML

Foi por uma transmissão ao vivo na internet que a assistente social Priscila Paiva, de 32 anos, soube que o irmão havia sido assassinado no Complexo Penitenciário Anísio Jobim ( Compaj ) na última segunda-feira. Por volta das 19h, um portal local de notícias divulgou nas redes sociais a lista com os nomes dos mortos na mais recente matança em presídios doAmazonas — entre eles, Thiago Paiva, de 30 anos, o caçula de três.

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"A gente quer ver o corpo para saber que é verdade", disse Priscila, aos prantos, enquanto aguardava informações ao lado do primo, no Instituto Médico Legal ( IML ) de Manaus.

Paiva foi um dos 40 presos mortos em suas celas na segunda-feira, em quatro presídios do Amazonas. Menos de 24 horas antes, outros 15 haviam sido assassinados no Compaj. No domingo (26), as mortes ocorreram diante dos familiares, em dia de visita, uma quebra no código de ética do crime. Os detentos foram asfixiados pelas mãos de seus rivais ou por perfurações feitas com escovas de dentes afiadas.

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Por oito anos, Paiva ficou preso por roubo. Em 2017, no ano em que o Compaj, em Manaus , foi palco do segundo maior massacre em cadeias da história do país, progrediu para o semiaberto, regime que exige alguns protocolos, como dormir no presídio e se apresentar à Justiça regularmente. Paiva descumpriu a regra com medo de ser morto em uma nova carnificina, segundo a família. Em março, foi pego e voltou para a prisão.

"Antes de ser preso de novo, ele estava trabalhando. Tinha até assinado a carteira numa empresa de embalagem. Tudo que a gente queria é que ele voltasse a ter uma vida normal",  afirmou Priscila, que mostrou o documento com o nome do irmão, registrado no dia 19 de fevereiro na função de ajudante de empacotador.

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Cadeia vai 'lombrar'

Do lado de fora do IML , no clima abafado da capital amazonense, na terça-feira o sentimento geral era de revolta pelo desencontro de informações e pela demora da entrega dos corpos. Pela manhã, segundo relato de vários presentes, uma mãe que chorava o corpo de um filho recebeu um telefonema dizendo que, na verdade, ele continuava vivo no presídio — só estava escondido durante a rebelião, mas havia se apresentado no café da manhã.

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