As críticas feitas pelo general da reserva Paulo Chagas ao Supremo Tribunal Federal (STF) podem até ter chegado ao ponto mais crítico nesta terça-feira (a casa dele em Brasília amanheceu como um dos alvos de mandados de busca e apreensão sob ordem da Corte ), mas estão longe de ser uma novidade.
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O general
, que se candidatou ao governo do Distrito Federal no ano passado pelo PRP, mantém há seis anos um blog na internet em que tece críticas frequentes aos ministros do Supremo, em especial ao presidente Dias Toffoli e aos também ministros Ricardo Lewandowski , Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes . Os ministros chegaram a ser resumidos pela expressão "diminutos fantoches".
"O STF foi despudoradamente humilhado diante de si mesmo, graças à covardia e à disposição de seus membros para o papel de diminutos fantoches do não menos desmoralizado Congresso Nacional", disparou o general após uma votação da Corte em outubro de 2017, em que a maioria da Corte decidiu que não cabia a ela, mas sim ao o Legislativo, ter a palavra final sobre afastamento de parlamentares punidos judicialmente.
As opiniões de Paulo Chagas são amplificadas por seus dois perfis mais populares nas redes sociais: mais de 30 mil usuários aderiram às páginas dele no Facebook e no Twitter. Ainda que a popularidade virtual não tenha se convertido em aprovação das urnas (ele terminou o primeiro turno em quarto lugar, com 7,35% dos votos), as postagens têm alta taxa de resposta, principalmente no Twitter: há mensagens que foram republicadas por mais de 3 mil pessoas e curtidas por mais de 15 mil.
A audiência do general é comparável a de parte das publicações de figuras prósperas no Twitter, como o presidente Jair Bolsonaro e o ministro Sergio Moro, da Justiça e Segurança Pública. Ao governo, aliás, o tom direcionado por Chagas é mais ameno: há elogios a ministros como Moro e o general Santos Cruz, da Secretaria de Governo, à reforma da Previdência e até palpites favoráveis a Bolsonaro na recente troca de farpas com o presidente da Câmara Rodrigo Maia, a quem Chagas se referiu como Nhonho, personagem do seriado mexicano "Chaves".
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Utilizadas até mesmo para ironizar a ação em sua residência autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, relatório do inquérito que apura fake news sobre o Supremo, as contas de Paulo Chagas na Internet têm em comum o desprezo por parte dos integrantes do Judiciário e o apreço pelas Forças Armadas.
"Quanta honra! Lamentei estar fora de Brasília e não poder receber (a Polícia Federal) pessoalmente", escreveu Chagas na manhã de hoje, na mais recente publicação da sequência de alfinetadas às decisões de Supremo.
No último sábado, ele replicou uma imagem publicada por outro usuário com os dizeres "O STF mostrou claramente que está a serviço do esquema de corrupção que domina este país", atribuídos ao jurista Modesto de Carvalho. Na mesma data, registrou que a Justiça ("a última torre de marfim da República") viraria alvo da "faxina moral que devassou o Executivo e o Legislativo". Há duas semanas, em 4 de abril, escreveu que reconhece a importância do STF, mas "não reconhece a imparcialidade" dos atuais ministros. E, desde que a Corte abriu o inquérito sobre fake news, repetiu publicações em que defendia o próprio direito de discordiar "não só de uma, mas de todas as decisões" dos magistrados.
Em 18 de março, quatro dias após Toffoli determinar a abertura do inquérito em defesa do Supremo, Chagas escreveu um curto artigo em que classificou o status dos brasileiros como "sob ameaça". Junto à reafirmação de desconfiança relativa aos togados, disse considerar inédito o que define como protagonismo do Supremo em meio a um cenário de "politização do Judiciário". Houve críticas a atuação dos ministros em ações referentes à Operação Lava-Jato: "Ao atrapalhar e retardar as investigações e os julgamentos e ao permitir a soltura de criminosos, os ministros nos autorizam até a pensar o que deveria ser impensável em relação a sua isenção", escreveu o general.
Nas publicações que faz desde 2013, Paulo Chagas defende de maneira recorrente que "a Justiça e os juízes brasileiros são maiores que os ministros do STF". Parte dos onze ministros é, de fato, vista com pequenez pelo general, dados os codinomes que ele cunhou através do blog que alimenta.
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Ricardo Lewandowski
, por exemplo, foi chamado de "um pigmeu entre gigantes" que teria sido "humilhado pela imensa superioridade dos homens de farda com os quais tentou, em vão, se confudir" (o ministro é Segundo-tenente da Reserva do Exército e se formou no Curso Preparatório de Oficiais da Reserva de São Paulo, o CPOR/SP, em 1967). Dias Toffoli, por sua vez, é reduzido por Chagas a "advogado petista" (função que o presidente da Corte ocupou em três das campanhas das quais o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou), principal responsável, segundo Chagas, pela liberdade do ex-ministro José Dirceu. Durante a condução do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o ministro Luís Roberto Barroso ganhou menção apenas pelo sobrenome como parte da "pouca vergonha e do descaso" do país.
Gilmar Mendes , por sua vez, teve referências mais nobres respeitadas. Ainda que o general tenha escrito uma carta aberta endereçada ao ministro após ele ter dito que o STF não aceitaria pressões dos militares em relação ao julgamento de um habeas corpus de Lula, os pronomes de tratamento "Exímio Senhor Ministro" e "Vossa Excelência" foram respeitados.