A Justiça do Rio decidiu nesta segunda-feira (14) transferir Orlando Oliveira de Araújo, conhecido como 'Orlando Curicica', para um presídio federal de segurança máxima. O e x-policial militar foi citado por uma testemunha como suspeito de participar do assassinato de Marielle Franco .
Na decisão, o juiz da 5ª Vara Criminal da Capital também autorizou que o preso, investigado no caso Marielle Franco, permaneça na prisão provisória em Bangu 1 até a transferência. O magistrado definiu que caberá ao Departamento Penitenciário Nacional (Depen) indicar para qual presídio federal ele será transferido.
O Ministério Público alegou em seu pedido que a transferência “é de grande relevância para o interesse da segurança pública, visando inibir a atuação do preso em referência e de coibir eventuais associações criminosas".
Na semana passada o jornal O Globo revelou que o vereador carioca Marcello Siciliano (PHS) e o ex-policial militar Orlando Oliveira de Araújo eram apontados como suspeito de planejarem o assassinato da vereadora do Rio e deram a ordem para que ela fosse executada.
Ministro confirma suspeita
O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, disse na quinta-feira (10) que o vereador, o ex-policial militar Orlando de Araújo, e dois PMs cujos nomes não foram revelados estão entre os investigados pela morte da vereadora.
Jungmann também afirmou que a investigação sobre o assassinato, ocorrida na noite de 14 março deste ano, “está chegando na sua etapa final”. “Eu acredito que, em breve, vamos ter resultados”, afirmou o ministro, após presidir a primeira reunião da Câmara Intersetorial de Prevenção Social e Segurança.
Perguntado sobre a participação do vereador Marcello Siciliano (PHS) e do ex-policial militar Orlando Oliveira de Araújo no assassinato de Marielle, o ministro lembrou já ter mencionado que o crime apontava para a atuação de milícias.
“Não estou dizendo que são esses especificamente. Agora, tem dois níveis que tenho que observar: um é o do jornalismo e as suas informações que, evidentemente, têm que ser investigadas. E outro é a própria investigação em si sobre a qual a gente, por óbvios motivos, não tem aqui como ficar comentando. O que eu posso dizer é que estes e outros todos são investigados”, disse.
Suspeitos negam acusações
Na quarta-feira (9), o vereador fluminense Marcello Siciliano rechaçou a denúncia sobre sua suposta participação no assassinato. Siciliano classificou as acusações como um "factoide" e levantou dúvidas sobre a credibilidade desse depoimento. "Estou sendo massacrado nas redes sociais por algo que foi supostamente dito por uma pessoa que ninguém sabe a credibilidade que tem", disse o vereador, que negou conhecer o ex-policiaal Orlando de Araújo, que está preso em Bangu.
Em carta divulgada na última quinta-feira (10) escrita de dentro da cadeia e entregue por seus advogados, Curicica nega qualquer participação na morte de Marielle. Na carta, ele garante que sequer conhecia a vereadora e que nunca esteve com Marcello Siciliano, contrariando o que diz o delator.
Ainda hoje, Siciliano também negou, por meio de nota, que tenha qualquer tipo de ligação com um grupo de milicianos que age na zona oeste do Rio. No comunicado ele “reafirma que não tem e nunca teve envolvimento com milícia. Conforme noticiado pela própria imprensa, ele já foi investigado em inquérito realizado pela Delegacia de Repressão as Ações Criminosas Organizadas (Draco) e não foi indiciado, nem denunciado pelo Ministério Público [estadual].”
Dois meses sem respostas
A mãe da vereadora Marielle Franco (PSol) – que foi assassinada a tiros no Rio de Janeiro, em março deste ano – Marinete Silva passou ontem o seu primeiro Dia das Mães sem a filha e, nesta segunda-feira (14), sofre com a marca completa de dois meses do crime que desfalcou sua família e a sociedade .
"Tô sobrevivendo dia após dia. A gente não se conforma e não vai se calar enquanto não tiver o resultado das investigações", disse a mãe de Marielle Franco. "A gente precisa de uma coisa mais concreta. A gente está aí, na expectativa", continuou.
As declarações de Marinete foram feitas nesta manhã, durante um ato em homenagem à filha, organizado pela Anistia Internacional, em frente à Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro.
"É claro que o nosso tempo não é o tempo deles, porque a investigação, além de sigilosa, é complexa. Mas não há crime perfeito. Eles vão chegar”, disse Marinete.
No protesto feito em frente à Secretaria, a Anistia lembrou que os crimes que tem como vítimas pessoas defensoras dos direitos humanos, no Brasil, tendem a cair no esquecimento e os culpados ficam impunes.
"O que ela fez de tão grave para ter uma morte assim? Qual ameaça fazia à sociedade? Que tipo de democracia é essa? Quatro tiros na cabeça é muito ódio. Ela nunca fez mal algum", disse a advogada de 66 anos.
"Não dá para entender como alguém teria uma motivação iminente. É uma dor muito grande. A gente não se conforma e não vai ser calar. Não dá para parar agora. Não faz sentido, depois de tudo o que a Marielle fez... Não por ter sido com uma parlamentar, mas pela maneira que arquitetaram. Tem um mentor", afirmou.
Avanços da investigação
Marielle e Anderson foram mortos a tiros, na noite do dia 14 de março, no bairro do Estácio, após deixarem a Lapa, onde ela participou de seu último ato político.
Investigadores da Polícia Civil e da Polícia Federal acreditam que “há DNA de um grupo paramilitar” no assassinato da vereadora. Isso porque, entre outros indícios, ao menos uma das munições que vitimou os dois era parte de um lote especial e coincide com projéteis usados em dois outros crimes perpetrados pelas milícias.
Das nove cápsulas encontradas no local do crime, oito são de um carregamento vendido pela Companhia Brasileira de Cartuchos à Polícia Federal em Brasília. Munições do tipo foram remetidas a vários estados e, acredita-se, parte do lote foi roubado e chegou à mão de criminosos.
Uma única munição, contudo, é importada e tem características especiais. O que chamou a atenção dos investigadores foi que, dos 14.574 homicídios que aconteceram no estado desde 2015, em apenas três crimes, que vitimaram cinco vítimas, uma munição semelhante foi encontrada.
Estes assassinatos aconteceram em São Gonçalo, no interior do Rio, em Itaupu, na região da cidade de Niterói, e na Estância de Pendotiba, próximo à capital fluminense.
Para os investigadores da morte de Marielle, os casos têm semelhanças. Todos contavam com munições destinadas às Forças Armadas e à PF, e os assassinatos seguiram um mesmo padrão. Na avaliação da Polícia, há fortes indícios de que todos os crimes foram levados a cabo por milicianos – forças paramilitares, formadas em parte por policiais e ex-policiais, que atuam no estado.
Ainda nesta difícil semana, a Polícia Civil pretende ouvir um colega de trabalho de Marielle, o vereador Marcello Siciliano (PHS), e o miliciano Orlando Curicica, ex-policial militar que está preso em Bangu – acusado da morte do ex-presidente da escola de samba Parque Curicica, Wagner Raphael de Souza, em 2015.
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Sobre os suspeitos, a família da vereadora espera que as declarações da defesa sejam sinceras. "O meu coração de mãe pede é para que não seja ninguém que a gente conheça, pede que não seja ele. Se for, é uma traição", afirmou a mãe de Marielle Franco.