O acampamento montado por militantes do PT em apoio ao ex-presidente Lula em Curitiba foi alvo de tiros durante a madrugada deste sábado (28), informou a direção nacional do PT. Segundo integrantes do acampamento, duas pessoas ficaram feridas e uma delas, Jeferson Lima de Menezes, de 38 anos, foi alvejada no pescoço e corre risco de morte.
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A vigília "Lula Livre" localizada na Rua Padre João Wislinski no bairro Santa Cândida, em Curitiba, foi alvo de 20 tiros por volta das 4h dessa madrugada. Ainda não há confirmação de quantos tiros foram disparados nem de quem seria o autor dos disparos. Testemunhas que integram o acampamento na capital paranaense, repudiaram o ataque e informaram que ele foi efetuado por uma pessoa, não identificada, que foi até o local de carro.
No entanto, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann , afirmou que recebeu informações da direção estadual do partido de que "pessoas passaram gritando e se manifestando de forma contrária várias vezes durante a madrugada" e que carros estavam rondando o local desde às 2h da manhã. A senadora também cobrou que providências fossem tomadas por parte das autoridades de segurança.
A Polícia Militar confirmou que um homem foi atingido e encaminhado em estado grave para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Boa Vista através de uma unidade do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) por volta das 4h30. De acordo com a Secretaria da Saúde do Estado do Paraná (Sesa), ele passou menos de uma hora na UPA, onde foi entubado e então levado para o Hospital do Trabalhador, onde militante petista se encontra na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com o estado de saúde instável.
Jeferson Lima de Menezes tem 38 anos e seria um militante petista de São Paulo que está acampado em Curitiba desde que o ex-presidente Lula foi levado à capital paranaense para começar a cumprir pena de 12 anos e 1 mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro no dia 7 de abril.
Além dele, uma outra mulher teria sido atingida por estilhaços de tiros efetuados contra os banheiros químicos do acampamento. Os ferimentos, no entanto, não foram graves e ela não precisou passar por atendimento médico.
Os manifestantes protestaram contra o atentado bloqueando vias locais e ateando fogo em pneus. Viaturas do 20° Batalhão da Polícia Militar, responsável pela área, foram até o local e o ato terminou por volta das 8h.
A Polícia Civil foi acionada para investigar o caso e coletou cápsulas de pistola 9 mm. A Secretaria de Estado de Segurança Pública e Administração Penitenciária do Paraná (Sesp) limitou-se a dizer que "uma pessoa foi ferida e levada para o hospital. Um tiro acertou um banheiro químico e os estilhaços feriram, sem gravidade, uma mulher no ombro. Peritos da Polícia Científica do Paraná, policias militares e da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil, estiveram no local. Foram recolhidas cápsulas de pistola 9 mm. Foi aberto um inquérito para apurar o caso".
Acampamento muda de local
Desde que o ex-presidente Lula foi levado até Curitiba para começar a cumprir sua pena, militantes do PT acamparam no entorno da sede da Polícia Federal. Familiares, dirigentes do partido e até personalidades de outros países passaram pelo acampamento na tentativa de visitar o ex-presidente e manifestar seu apoio a Lula.
No entanto, menos de uma semana depois da prisão, o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJ-PR) determinou que os manifestantes deveriam deixar o local imediatamente sob pena de multa diária de R$ 500 mil em caso de descumprimento. A decisão foi proferida na sexta-feira (13) pelo juiz Jailton Juan Carlos Tontiniu, substituto da 3ª Vara da Fazenda Pública. Ele afirmou que a multa seria cobrada do PT e também da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
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A decisão também valia para manifestantes opositores do petistas que ameaçavam fazer manifestações no local incentivados por organizações como o Movimento Brasil Livre (MBL), o Movimento Curitiba contra a Corrupção e o Movimento UFPR Livre.
No dia 17, os manifestantes cumpriram a decisão judicial e migraram para um terreno vazio de 1.600 metros quadrados que foi alugado pelo PT por 30 dias, a cerca de 800 metros de distância do local original. Esse novo acampamento foi batizado de Marisa Letícia, nome da falecida mulher do ex-presidente Lula.
Em nota, a militância do PT chamou o caso de atentato e de "crônica anunciada" já que, segundo eles, "desde o dia quando houve a mudança de local de acampamento (17), cumprindo demanda judicial, integrantes do movimento social haviam sido atacados na região." Eles afirmaram também que a coordenação da vigília já tinha exigido policiamento e apoio de viaturas no local, como havia sido prometido no acordo feito para que o deslocamento fosse realizado.
O ex-deputado, presidente estadual do PT do Paraná e integrante da coordenação do acampamento Doutor Rosinha reforçou que as autoridades tinham se comprometido a garantir a segurança dos militantes no novo local e afirmou que "agora o que cobramos da Secretaria de Segurança Pública é investigação, que identifique o atirador."
Estadia tumultuada em Curitiba
A estadia dos militantes petistas em Curitiba tem sido tumultuada desde o começo. Além da confusão gerada na chegada de Lula à sede da Polícia Federal em 7 de março, uma série de outros incidentes já foram registrados ao longo das últimas semanas.
No dia 17 de março, objetos pessoais de Lula foram roubados de dentro do carro de um dos assessores do ex-presidente. De acordo com a Polícia Civil, o veículo foi arrombado na alameda Júlia da Costa durante a madrugada.
Entre os itens subtraídos estava o passaporte de Lula, um talão de cheques, uma pasta com documentos, roupas de cama e cartas endereçadas ao ex-presidente. A Polícia Civil buscou imagens de câmeras próximas ao local, mas a região não é monitorada pela prefeitura. O caso ainda não foi esclarecido.
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No dia seguinte, durante o deslocamento dos manifestantes para o novo local do acampamento, militantes do Movimento dos Sem Terra (MST) afirmaram que foram atacados por integrantes da torcida organizada Império Alviverde , do Coritiba, por volta das 19h30 na Avenida Paraná.
Os manifestantes disseram que os torcedores estavam armados com barras de ferro e pedaços de madeira. Já os integrantes da torcida organizada afirmaram que foram provocados pelos militantes por estarem na segunda divisão e que foram eles que acabaram sendo agredidos com facões e martelos. A torcida ainda informou que dois integrantes se feriram no confronto: um sofreu uma fratura no braço e outro um ferimento na cabeça.
Disparos contra caravana do PT
Essa, porém, não foi a primeira vez que tiros foram disparados contra integrantes do PT desde que a prisão do ex-presidente Lula se tornou eminente. Há exatamente um mês, a caravana que Lula fazia pela região sul do país foram foi alvo de disparos
enquanto deixava a cidade de Quedas do Iguaçu, também no Paraná. O estado foi o único que estado foi o único que não ofereceu escolta para caravana.
Na ocasião, um dos ônibus da comitiva que levava jornalistas e era o último do comboio foi perfurado duas vezes na lataria, em ambos os lados. Outro tiro pegou o vidro de raspão. Repórteres que estavam presentes afirmaram que, na hora, acharam que se tratava de pedras arremeçadas contra os ônibus. Só depois perceberam a gravidade da situação.
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Um segundo veículo, que levava convidados e estava no meio da comitiva também foi atingido por uma bala na lataria. Os ônibus ainda foram afetados por ganchos de metal pontiagudos que foram lançados na estrada e acabaram furando um dos pneus do ônibus dos jornalistas. Ninguém ficou ferido e o ônibus que levava Lula foi o único que acabou não sendo afetado pelos tiros .