Militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) chegaram no fim da tarde desta terça-feira (31) ao Palácio dos Bandeirantes, a sede do Governo do Estado de São Paulo, no bairro do Morumbi, após cerca de nove horas de marcha num percurso de aproximadamente 23 quilômetros a partir do ABC. O objetivo dos manifestantes é cobrar da gestão Geraldo Alckmin (PSDB) apoio à desapropriação do terreno onde cerca de 8.000 famílias (segundo estima o próprio movimento) estão acampadas há cerca de 45 dias em São Bernardo do Campo .
De acordo com o MTST , aproximadamente 10 mil pessoas participam da caminhada que teve início às 7h desta manhã a partir do terreno onde está instalada a megaocupação batizada de Povo Sem Medo, no bairro Planalto, em São Bernardo.
Principal liderança do movimento, o coordenador Guilherme Boulos afirmou em vídeo divulgado nas redes sociais que o ato visa, além de pedir a desapropriação do terreno, cobrar investimentos em moradias populares.
"Vamos cobrar do governo Alckmin que desaproprie o terreno da ocupação Povo Sem Medo em São Bernardo. Milhares de famílias que não têm mais condições de pagar alguel e são afetadas pelo desemprego, pela crise, ocuparam esse terreno por não ter mais alternativas. Além da desapropriação, vamos cobrar a retomada de política habitacional no estado de São Paulo. Essa política que está parada dependendo de recurso do governo federal que, evidentemente, não veio", disse Boulos.
A área de 70 mil metros quadrados ocupada pelos militantes pertence à incorporadora MZM e, de acordo com o movimento dos sem-teto, estava abandonada há 40 anos. O grupo também alega que os proprietários do terreno devem ao governo mais de R$ 500 mil em IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano).
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Caetano Veloso barrado
Um grupo de artistas liderados por Caetano Veloso esteve na megaocupação Povo Sem Medo nessa segunda-feira (30) para expressar apoio aos sem-teto. O cantor e compositor baiano, no entanto, foi impedido de fazer um show no acampamento por força de decisão judicial.
A juíza Ida Inês Del Cid, da 2ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de São Bernardo, alegou ao impedir a apresentação que o local não possui estrutura para a realização de shows e que, portanto, haveria riscos para a segurança do público, "ainda mais de artista tão querido por interpretar canções lindíssimas, com voz inigualável".
A marcha desta terça-feira e o ato artístico de ontem se somam a uma série de episódios polêmicos envolvendo o mega-acampamento no ABC Paulista, que já é a maior ocupação urbana de São Paulo. No mês passado, por exemplo, um militante do MTST foi ferido durante ataque a tiros à ocupação.
Moradores dos bairros Planalto e Assunção, áreas nobres de Sã Bernardo do Campo vizinhas ao terreno ocupado, também criaram o chamado Movimento Contra Invasão (MCI) para cobrar a reintegração de posse da área. Líderes do grupo alegam que os militantes do MTST representam riscos à segurança dos moradores da região e usam drogas e praticam sexo explícito no local.
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