O incêndio que acontece há 15 dias na Chapada dos Veadeirose, em Goiás, já afeta a saúde da população local. Moradores de São Jorge, uma vila na área rural de Alto Paraíso de Goiás , município onde fica parte do parque, têm reclamado de tosses, náuseas, sangramentos pelo nariz e dores de cabeça. Mas o munícipio não tem dado conta de atender a população, que se vê obrigada a procurar ajuda em outras cidades.
A professora Regiana Araújo, 29 anos, teve que levar a filha, Kauane, de 1 ano e 10 meses para Brasília, após o início do incêndio . “Ela passou muito mal, nunca tinha tido isso”, conta. A alternativa encontrada por Regiana foi a mesma de vários outros moradores diante do sistema de saúde precário da cidade, sem médicos de plantão diariamente.
A terapeuta Gisele Aleixo Bianchini, 37 anos, grávida, decidiu deixar São Jorge e ir para a casa dos pais, em Franca (SP). “Vou embora da vila para poder me proteger, estou passando muito mal, preciso também proteger o neném”, diz.
O prefeito Martinho Mendes da Silva disse que a estrutura local de fato não dá conta dos problemas e que pediu ajuda ao governo de Goiás . “Para se ter ideia, nossas crianças não nascem aqui, nascem às vezes na ambulância, em deslocamento para Goiânia ou Brasília”. Mas ele ressalta que o município consegue oferecercuidados primários em unidades de emergência, com médicos 24h.
Por meio da assessoria de imprensa, o governo estadual disse que “está colocando as equipes de pneumologia do Hospital Geral de Goiânia Alberto Rassi (HGG) e do Hospital de Urgências Governador Otávio Lage (Hugol) em alerta para fornecer orientações a profissionais de saúde da região”. Os dois hospitais citados ficam em Goiânia.
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Trabalho voluntário
Mais da metade da equipe que trabalha no combate ao incêndio no Parque da Chapada dos Veadeiros e arredores, é formada por voluntários. São mais de 200 moradores, visitantes e profissionais de outros estados contra os 178 brigadistas oficiais.
Além disso, doações recebidas do Brasil inteiro sustentam o combustível e a alimentação dos brigadistas, e possibilitam a compra de materiais. A rede de voluntários Rede Contra Fogo foi uma das que centralizou as contribuições. Até esta quinta-feira (26), foram arrecadados R$ 347,8 mil, recebidos pela internet, através de mais de 4 mil doadores em todo o país.
No entanto, apesar do trabalho voluntário no combate às chamas, o Insituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pela administração do parque, ressalva que apenas pessoas capacitadas se aproximem dos focos, para evitar acidentes.
E mesmo distantes da Chapada dos Veadeiros, a situação também chamou a atenção de artistas e celebridades, que decidiram chamar a atenção para o incêndio. Mateus Solano, Gisele Bündchen e Jesus Luz foram alguns dos que publicaram vídeos e fotos pedindo a atenção e ajuda no combate ao fogo.
“Se o cerrado secar, o Brasil seca. É burrice desmatar”, declara Solano em vídeo[acima]. “Por favor, vamos fazer pressão, vamos divulgar isso”, completa.
15 dias de fogo
O fogo começou no dia 12 de outubro e obrigou o parque a ficar fechado para visitação durante o feriado prolongado de Nossa Senhora Aparecida. Ele foi reaberto no dia 17, mas fechado novamente na quinta-feira, dia 19. O incêndio é considerado criminoso pelo ICMBio.
A Nasa publicou fotos de satélite que mostram o antes e depois do incêndio. Os pontos vermelhos representam as chamas ativas e a porção marrom da imagem, a área atingida.
A Chapada dos Veadeiros é tombada pela Unesco como Patrimônio Natural da Humanidade. Fundado em 1961, com 265 mil hectares, o parque sofreu sucessivas reduções de tamanho até chegar a 65 mil hectares, cerca de 10% da área original.
Após anos de pressão de ambientalistas e da sociedade civil, o presidente Michel Temer decretou o aumento do parque para 240 mil hectares em área contínua. O incêndio já consumiu 26% desse total.
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*com informações da Agência Brasil e da Nasa