A Polícia Civil está investigando a origem de cartazes com mensagens supremacistas em Blumenau, no estado de Santa Catarina, que foram colados em postes e pontos de ônibus no centro da cidade, próximo ao prédio da prefeitura, no último fim de semana. Além disso, foi encontrada uma suástica (símbolo nazista) pichada no bairro de Ponte Aguda. A ocorrência acontece menos de um mês depois das mensagens racistas e violentas coladas em frente a casa do advogado e ativista negro, Marco Antônio André.
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Os cartazes colados no centro da cidade durante o último fim de semana e a pichação feita em Ponte Aguda fazem apologia ao nazismo e às ideias supremacistas
, instigando o “orgulho branco” no estado de Santa Catarina. Nas mensagens, é possível encontrar ataques ao comunismo, aos movimentos LGBTs, aos negros e aos judeus, entre outros. “Você já parou para pensar que todos os povos podem ter orgulho de sua história e cultura, menos o seu?”, diz um deles.
Segundo o delegado Lucas Gomes de Almeida, da 2ª Delegacia de Polícia, afirmou ao iG , o caso está sendo investigado no mesmo inquérito que o ataque contra Marco André. Isso porque a pichação da suástica foi encontrada a pouco mais de um quilômetro da casa do advogado, no bairro de Ponte Aguda , nesse fim de semana. Além disso, o delegado cita o pouco tempo entre as duas ocorrências.
"Estou trabalhando com a possibilidade de ser o mesmo grupo que atacou o Marco Antônio e que, agora, deixou novas mensagens contra grupos minoritários. No caso anterior, houve referência ao Ku Klux Klan e configura-se no crime de racismo. Neste, não há uma só pessoa atacada, mas faz-se apologia ao nazismo , o que é proibido no País", aponta.
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Vale lembrar que o Código Penal brasileiro proíbe a apologia ao nazismo (Lei 7.716/89), no artigo 20 parágrafo 1º, estabelecendo uma pena de até cinco anos para quem comete o crime. "Como pensamos se tratar de um grupo isolado que esteja realizando esses ataques, a penalidade poderia ser aumentada pelo crime de organização criminosa, o que acrescentaria três anos. Além disso, caso seja realmente as mesmas pessoas que atacaram o Marco Antônio, a penalidade seria ainda maior", explica o delegado da Polícia Civil.
Assinatura neonazista de grupo ucraniano
Ainda de acordo com o delegado responsável pelo caso, existe uma assinatura de um grupo paramilitar neonazista ucraniano nos cartazes, o "Misantropic Division", que já esteve ligado a prisões no estado do Rio Grande do Sul, em uma operação realizada no ano passado. Na época, a chamada "Azov" foi deflagrada em sete cidades gaúchas, com a detenção de um suspeito ligado no recrutamento de pessoas para a guerra na região da Crimeia.
A Polícia Civil do Rio Grande do Sul também apreendeu material relacionado com o nazismo, 47 estojos de 9mm, propaganda de um grupo intitulado “White Power Sul Skin”, bem como publicações sobre Adolf Hitler. O símbolo do grupo ucraniano foi encontrado nos cartazes em Blumenau, mas o delegado diz que, por enquanto, não considera a possibilidade.
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"A princípio, considero essa assinatura como uma tentativa de desviar o foco e de atrapalhar as investigações, até porque este é um grupo paramilitar, mais extremista. Apesar disso, estou em contato com a Polícia Civil do Rio Grande do Sul, que faz monitoramento de possíveis células do grupo. Estou estudando se há movimentos aqui no estado de Santa Catarina, na cidade de Blumenau, porque até hoje não foi registrado nada disso", diz.
O delegado ainda diz que não foi aberto o boletim de ocorrência (B.O.) sobre esse caso. "Na verdade, os cartazes e a pichação foram denunciadas pela imprensa local, que reportou o ocorrido à delegacia.
Racismo contra advogado
No fim de setembro, a cidade registrou ataques contra um ativista e advogado negro chamado Marco Antônio André – também com o uso de cartazes , desta vez em frente a sua casa. De acordo com a vítima, as mensagens foram encontradas na manhã da segunda-feira daquele mês por um colega, que retirou os papéis e entregou a André. O advogado, então, abriu um boletim de ocorrência dois dias depois. Na época, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) emitiu uma nota oficial de repúdio sobre o caso.
Os cartazes racistas contra o ativista negro faziam referência ao movimento neonazista norte-americano Ku Klux Klan , com os dizeres “negro, comunista, antifa [integrante do movimento antifascista], macumbeiro. Estamos de olho em você”.
O inquérito sobre o caso de Marco André seria finalizado no próximo fim de semana, mas será prorrogado o prazo para as novas investigações sobre os cartazes supremacistas. Além disso, o delegado Lucas Almeida ainda aponta que existem perícias pendentes para definir a autoria do crime. "Com a nova situação, também faremos confronto entre os casos", finaliza.