Um líder religioso acusado de estupro a uma jovem integrante da Igreja Batista de Rio Doce, em Olinda, Pernambuco – que estava preso preventivamente desde o último dia 17 de julho – conquistou sua liberdade na última quarta-feira (2), graças a uma liminar.
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Sua saída da prisão foi marcada por diversos protestos de entidades civis, que pedem a revogação de tal decisão judicial. Em contraponto, em sua visita ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE), nesta sexta-feira (4), a vítima do estupro se declara perseguida pelos fiéis da igreja, que defendem o religioso.
O crime aconteceu em dezembro de 2015. No entanto, a vítima só contou a alguém a respeito da violência sexual quando, em uma conversa com uma amiga, em 2016, soube que ela não era a única vítima do agressor.
Em março de 2016, a jovem contou o acontecido para seu pais e, em setembro do mesmo ano, MPPE recebeu os autos da Polícia Civil com indiciamento por estupro e fez a denúncia contra o acusado.
Segundo a vítima, o líder religioso foi até a casa dela sob o pretexto de chamá-la de volta às atividades de culto, das quais ela havia se afastado. Ele alegava que havia o burburinho de que ela estaria de namoro com outra mulher.
Na ocasião, os dois estavam sozinhos na casa e o acusado teria pedido para ir ao banheiro. De lá, ele teria saído nu e com o pênis ereto, inclusive usando preservativo. O homem arrastou-a para o quarto e a violentou, alegando que o estupro seria “para ela começar a gostar de homem”. A moça lutou muito e conseguiu, ao menos, evitar a penetração.
Nesta sexta-feira, ela compareceu acompanhada de seus pais à Sede das Promotorias do MPPE. Lá, a jovem se reuniu com a promotora de Justiça Henriqueta de Belli e advogados da Organização Não Governamental (ONG) Gestos e do Instituto Boa Vista para relatar o caso e entregar uma declaração de acompanhamento psicológico, que será anexada aos autos do processo.
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“A ideia da reunião foi informar e convocar a sociedade civil, por meio das ONGs que trabalham com violação de direitos humanos, femininos e LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e intersexuais) e pela imprensa, para dar ciência do julgamento do mérito, que dever ocorrer em breve. Além disso, a audiência do caso ocorrerá ainda esse mês”, revelou Henriqueta.
Vítima recebe ameaças, e acusado, liberdade
Ainda segundo a promotora, o acusado teria também, durante o ato, ameaçado a vítima, ordenando que a mesma ficasse calada, já que ninguém acataria a versão dela sobre estupro.
"Ela disse que ficou, por meses, tomada por angustia e pânico, escondendo-se todos, até que revelou a duas amigas que a incentivaram a buscar ajuda junto aos pais e polícia", disse Henriqueta ao MPPE.
No entanto, ao contrário do aceitável em casos de violência sexual, procurar ajuda fez com que a vítima fosse exposta e sofresse constrangimentos. Tanto ela, quanto os familiares passaram a sofrer na comunidade, igreja e demais locais, "todo tipo de constrangimentos e ameaças, tendo o acusado lhe remetido recados intimidatórios através de terceiros e de parentes", revela a promotora.
Com medo, a jovem procurou providências junto à Justiça, e o acusado chegou a ser preso preventivamente no dia 17 de julho, mas, por efeito de uma liminar, conquistou sua liberdade na última quarta-feira (2).
No relato ao MPPE, a moça chorou muito e se declarou perseguida pelos fiéis da igreja, que defendem o religioso. “Ela conta que vive sendo xingada em locais públicos e até mesmo na escola”, pontuou a promotora.
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Além disso, a vítima denunciou que o acusado de estupro tentou atropelá-la há algum tempo. O caso segue em andamento e, por hora, o pastor responderá em liberdade.