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"Foi mídia no mundo todo, arrancamos várias cabeças", diz a letra da música sobre o massacre no presídio

Compartilhado em redes e apps nos últimos dias, um funk atribuído a membros da facção responsabilizada pelo massacre de presos em um complexo penintenciário em Manaus diz que "a guerra só começou" e anuncia a união do grupo a outra facção criminosa.

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O "Funk do Massacre FDN", que começou a circular no Facebook e WhatsApp principalmente na região de Manaus desde a semana passada, faz referências ao assassinato de 56 detentos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), caso de grande repercussão internacional e que causou uma crise no governo federal.

A principal linha de investigação aponta que os responsáveis pela matança foram membros da facção Família do Norte (FDN) e que as vítimas seriam presos ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC).

No funk, a FDN reivindica a autoria da matança e são relatados supostos detalhes do ocorrido.

A letra diz que "a guerra só começou" e que foi decidido que é para "torar os [membros do] PCC". A música ainda anuncia a união com a facção carioca Comando Vermelho (CV), que rompeu sua "amizade" com o PCC em 2016.

A música fala também sobre a atuação policial no caso. Segundo a facção, eles ficaram com medo dos criminosos que estavam armados dentro do presídio. "Foi troca de tiro, a polícia não peitou. A bala comendo solto e a Rocam recuou", diz o trecho.

Ainda sobre os armamentos, a música diz que os internos tinham pistola e uma carabina calibre 12. Além disso, relatam ter usado até mesmo uma granada. "Jogamos no seguro (cela onde estavam membros do PCC) e não sobrou mais nada".

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Outro trecho da letra ainda fala da repercussão internacional do caso. "Foi mídia no mundo todo, arrancamos várias cabeças".

Outro funk

Não é a primeira vez que a FDN usa um funk para se comunicar com seus membros fora do presídio e a dar um recado à sociedade e seus desafetos.

Em 2015, a FDN criou uma música para demonstrar um sentimento de traição e ameaçar membros da facção 300 Espartanos. Isso porque a organização rival foi criada por ex-membros da FDN, o que eles chamaram de "golpe de Estado".

"Sabe o que aconteceu? Tentou enganar os irmãos e com nós não admitimos a falha, também não tem perdão", dizia um trecho da música.

Em 13 dias, três presos ligadas à facção 300 Espartanos foram mortos. Dois membros da liderança do grupo foram transferidos para um batalhão militar, por determinação da Justiça, para preservar suas vidas.

O sociólogo Ítalo Lima, que fez um mestrado sobre agentes de segurança penitenciária do Amazonas e pesquisou a história da facção, afirma que a Família do Norte começou a produzir músicas em 2013.

"A intenção desse funk proibidão, como costumam chamar, é narrar que eles estão no poder. Além disso, diversos pontos de venda de drogas começaram a tocar essas músicas, pichar frases com o nome da facção e cortar o cabelo com as iniciais FDN", relata o historiador.

Pichações

A Família do Norte usa as pichações também para demarcar seu território.

Nos últimos anos, as principais avenidas da capital amazonense foram carimbadas com as iniciais da facção. Recentemente algumas delas foram inclusive atualizadas.

Após o rompimento e a declaração de guerra contra a facção 300 Espartanos, as pichações que levavam os nomes dos dois grupos passaram a ser rasuradas.

As frases "300" e "Espartanos" passaram a ser rabiscadas ou pintadas. Em seu lugar, foram incluídas as iniciais da facção carioca Comando Vermelho, seus novos aliados. Isso ocorreu, por exemplo, na Grande Circular, uma das principais vias da zona leste da capital, e na rua João Alfredo - rota para o aeroporto e rodoviária.

De acordo com o pesquisador Ítalo Lima, o número de pichações da FDN cresceu exponencialmente nos últimos anos. Um dos motivos, segundo ele, é mostrar que os antigos traficantes independentes da cidade passaram a responder para a FDN. Quem não aceitou o acordo comercial, relata ele, foi morto fela facção.

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Com isso, as "tags", como são chamadas as pichações de assinatura, passaram a aparecer desde em locais próximos a pontos de venda de drogas populares, como em regiões mais pobres e no centro da capital, até em muros de casas em bairros de classe média - onde são vendidos comprimidos de ecstasy e cartelas de LSD.

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