Líder de associação privada participou da negociação de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca
Reprodução/Agência Senado
Líder de associação privada participou da negociação de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca

Após duas semanas de recesso parlamentar, a CPI da Covid retoma as atividades no Senado Federal na manhã desta terça-feira . A segunda etapa da comissão vai aprofundar as investigações sobre negociações de vacinas envolvendo intermediários sem o aval de fabricantes estrangeiros. Entre os depoimentos cruciais para o avanço das apurações está o do reverendo Amilton Gomes, que fala nesta terça à comissão, e teria exercido papel fundamental em uma negociação paralela para compra de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca.

Fundador da Senah (Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários), uma associação evangélica privada, o depoimento do reverendo atende ao requerimento apresentado pelo vice-presidente da CPI, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Gomes entrou na mira dos senadores após ter sido apontado pelo PM Luiz Paulo Dominguetti Pereira como intermediador entre o governo federal e as empresas que ofereciam vacinas à pasta.

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Suposto representante da empresa americana Davati Medical Supply, Dominguetti disse à CPI da Covid que procurou o Ministério da Saúde para oferecer as 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca e que o ex-diretor de logística da pasta Roberto Ferreira Dias teria exigido US$ 1 de propina para cada dose de vacina negociada. Após o encontro, Dominguetti teria procurado a Senah para ajudar a viabilizar o negócio com a Pasta.

Nas mensagens de Dominguetti, que teve o celular apreendido pela CPI, três pessoas supostamente ligadas ao reverendo dizem que Gomes se reuniu com Bolsonaro em 15 de março, o que não foi confirmado por nenhum dos envolvidos.

“Ontem falei com quem manda! Tudo certo! Estão fazendo uma corrida compliance da informação da grande quantidade de vacinas!”, declarou Amilton Gomes em uma das mensagens a Dominguetti. Procurado pelo Globo, na época, Gomes negou o encontro.

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Dominguetti e o reverendo foram recebidos e se comunicaram mais de uma vez com integrantes do ministério no início do ano. Em 4 de março, os dois aparecem lado a lado em uma foto na sede da Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, compartilhada nas redes sociais.

Ao Globo, o reverendo disse que foi procurado por Dominguetti. Segundo a versão de Gomes, o PM teria oferecido uma doação à entidade religiosa em troca de ajuda para conseguir marcar reuniões com integrantes do governo.

Em julho, o Jornal Nacional revelou e-mails em que o então diretor de Imunização do Ministério da Saúde, Laurício Cruz, autorizava o reverendo a efetivar a compra das doses com a Davati. Em entrevista ao Globo, Amilton Gomes afirmou que sua entidade recebeu uma oferta de doação de Dominguetti para ajudar nas negociações, e que Herman Cárdenas, presidente da empresa nos Estados Unidos, teria feito doações semelhantes a organizações em outros países.

De acordo com Amilton, em março, a Senah levou ao Ministério da Saúde a proposta da Davati e, na ocasião, houve uma reunião com o então secretário-executivo, Elcio Franco. Nos contatos com o ministério, o reverendo teria recebido a informação de que o fechamento do negócio estava condicionado à apresentação de um documento capaz de comprovar que a Davati teria autorização da AstaZeneca para intermediar a venda das vacinas. Como o PM nunca apresentou esse documento, a negociação não andou.


Segundo Amilton Gomes, a Senah é procurada por diversas organizações para intermediar contato com o governo por contar com apoio no Congresso - fundada em 1999, a instituição tem uma relação próxima com a Frente Parlamentar Evangélica. Apesar disso, o caso levanta suspeitas dos senadores pois nem Amilton de Paula nem a sua entidade têm qualquer ligação com órgãos públicos. A farmacêutica AstraZeneca também já havia informado oficialmente ao governo federal que não autoriza intermediários a comercializar seus imunizantes.

O depoimento do reverendo estava previsto para 14 de julho, mas ele pediu adiamento por questões de saúde. Uma perícia da área médica do Senado Federal confirmou que ele sofria de um problema renal que o impedia de ir à comissão naquele momento.

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